sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

ANDRÉ LUIZ: É TUDO VERDADE?


 De volta a onda de questionadores da obra de André Luiz. Para não atacar a figura do médium Chico Xavier, os ataques se concentram no espírito, que teria “enganado” o médium com seus “delírios”. 

A ferramenta utilizada nas críticas são fragmentos comparativos da obra de Kardec para fazer afirmações puramente teóricas, sem nenhuma base experimental.

Usar os conceitos de Kardec como categoria de análise é importante, mas não de forma rígida e limitadora. Essa não era, por exemplo, a visão de Herculano Pires, que identificava a obra de André Luiz como uma respeitável ilustração dos conceitos contidos nas obras de Kardec. Herculano também tinha suas limitações e não aceitava informações que não conseguia digerir emocionalmente e apelava para a razão como fuga. Uma das suas limitações era a exigência do uso radical da terminologia espírita do século XIX para descrever os fenômenos. E quando essa terminologia não serve para descrever determinados fenômenos e impressões? O médium deve calar-se ou suportar o rigor doutrinário? Herculano ficava chocado com qualquer informação que lhe causava desconforto pessoal e colocava a culpa no rigor doutrinário. Os romances históricos parecem não ter incomodado tanto.

André Luiz não foi o único autor a descrever essas informações e Chico Xavier também não tinha o monopólio e exclusividade dessa revelações. Andrew Jackson Davis já fazia essas descrições. Talvez o equívoco está na generalização e na padronização das informações por parte dos leitores, sobretudo os que foram mentalmente educados em religiões dogmáticas. Esse filme (Nosso Lar), por exemplo, é de uma pobreza imagética lamentável, limitadora. Fazer o quê? Transpor para linguagem de cinema algo que já foi de certa forma distorcido pelo Espírito e pelo médium, não poderia ser diferente. Isso não deve causar estranheza.

 Não existe ilustração pura e conceitual do mundo espiritual. A licença poética ou artística usada nessas descrições (essencialmente ilógica) nunca será compatível com o conceito positivo e lógico. Fazer isso é pior que fundamentalismo. É demonstração ingenuidade ou arrogância. A obra de Kardec é muito mais do que uma régua do paradigma positivo. Os grandes livros de ficção quando sofrem essas adaptações são exemplos disso. Muitos roteiros de cinema nessa linha espiritualista são primorosos na essência das informações embora nem sempre sejam compatíveis com as teorias de Kardec. Isso não invalida o conteúdo. Muito de antes de existir Kardec e Espiritismo, já existiam descrições mediúnicas de mundos e planos.

A maioria desses autores de ficção são médiuns e nem sabem disso. Pensam que são criadores exclusivos dessas narrativas. A diversidade de planos, organizações, culturas, etc. é um conceito universal sobre isso. O que foi descrito por André Luiz mostra apenas uma tipologia de comunidade e não o todo; mostra uma cultura cristã e de influência ibérica, o que pode ser totalmente diferente dos padrões culturais de outros lugares do planeta. Yvone Pereira fez a mesma linha de descrições, demonstrando essa diversidade. Diversos outros médiuns foram por esse caminho. Eu mesmo já tive experiências fora do corpo que tive dificuldades par compreender e descrever, mas que revelava uma enorme diversidade de elementos e nunca um padrão de unidade.

É preciso ter cuidado ao usar os conceitos sem usar o bom senso, pois a lógica nem sempre explica aquilo que a razão desconhece. Como virou moda e exibicionismo intelectual contestar o que faz sucesso, cria referência que se choca com o paradigma vigente, também ficamos com um pé atrás nessas críticas, que, apesar da argumentação teórica aparentemente correta, não deixa de evidenciar algumas limitações.