domingo, 25 de setembro de 2011

Escolas: o que vem por aí



Quando soubemos dos fenômenos espíritas ocorridos recentemente numa escola no interior do Ceará comentamos com alguns amigos: não seria um aviso dos Espíritos para chamar a atenção de algo grave que viria acontecer no futuro? Esse aviso seria sobre o despreparo que temos ao lidar com a morte e os inúmeros sofrimentos causados pela ignorância sobre as verdades espirituais. Foi assim que ocorreu nos anos que antecederam o advento do Espiritismo e tal advertência foi confirmada pelo Espírito Santo Agostinho na sua dissertação sobre a finalidade comportamental desses fenômenos. Os fatos acontecidos no Ceará podem até ter sido geograficamente isolados, mas culturalmente representam uma alerta para o que aconteceu no início do ano no Rio de Janeiro (Realengo) e agora na Grande São Paulo (São Caetano).


Aos que continuam nos questionando em busca de explicações sugerimos que revejam o filme Sociedade dos Poetas Mortos ( sobre a arma e o suicídio do jovem) e que recordem conosco esse trecho do que escrevemos em 2006 no ensaio Espíritos nas Escolas, uma mensagem espiritual para o educadores :




“As escolas estão sofrendo as perturbações pelas quais está passando todo o planeta Terra. Por serem a síntese fiel e espelho da sociedade, elas funcionam como termômetro e vitrine de tudo o que acontece no mundo social. Nosso planeta é um organismo vivo, possui uma “Anima Mundi” e está passando por uma crise de mutação cíclica, tanto no aspecto ambiental exógeno, como na sua atmosfera psíquica, onde ocorre uma intensa luta entre forças renovadoras e forças reacionárias. Isso possui um reflexo negativo no plano social, em todas as instituições. As escolas são mais sensíveis a tais acontecimentos, por todas as características espirituais já apontadas, mas principalmente porque elas são um espaço natural de esperanças de vida e utopias de um mundo melhor. Se a vida social pode melhorar, essa possibilidade começa na escola. Essa crise de mutação planetária é muito complexa e aparentemente caótica, pois se misturam nos fatos geofísicos os elementos de uma confusão de valores, de avanços e retrocessos, vitórias e derrotas, equilíbrio e desequilíbrio, construção e destruição. Não sabemos quanto tempo tudo isso vai durar e quais os resultados dessas graves mudanças, pois nesse contexto tudo se torna instável e vulnerável. Estamos em tempo de revolução e não de reformas.


Uma idéia que pode nos ajudar a entender melhor e aceitar o que está acontecendo é aquela informação doutrinária que ensina que a Terra é a nossa Escola Evolutiva, do gênero humano e, portanto, a nossa escola pequena, onde os alunos adquirem conhecimento e nós ganhamos o pão de cada dia, não deve perder de vista que fazemos parte dessa dimensão planetária. Os filósofos mais sintonizados com essa idéia dizem que estamos destinados a sermos cidadãos do mundo e que não há mais sentido para a cidadania local e nacional. O Espiritismo ensina que, na pluralidade e nas categorias de mundos, o nosso planeta está mudando sua marca cósmica de expiações e provas para a marca de mundo em regeneração. As transmigrações de almas obedece essa dinâmica das marcas planetárias evolutivas. Nesse processo reencarnam-se milhões de seres perturbados, rebeldes, agressivos, que na suas trajetórias cometem mais erros do que acertos e sofrem as conseqüências negativas dessas escolhas. São perturbados e naturalmente perturbam o ambiente em que convivem. Não se adaptam às regras sociais porque possuem um padrão sub-moral para avaliar as situações e as coisas. Aparentemente são impermeáveis aos ensinamentos superiores, aos quais reagem com indiferença, mas cuja percepção inconsciente registra em pequenas doses. Mas não está ocorrendo somente a encarnação de Espíritos endividados e espiritualmente atrasados. Diversas mensagens mediúnicas, antigas e mais recentes, bem como a observação das tendências sociais feitas por respeitados cientistas, informam que a Terra seria alvo da encarnação de Espíritos provenientes de mundos mais evoluídos, moral e intelectualmente, como parte importante do processo de renovação planetária. É uma prática comum no intercâmbio e evolução dos mundos. Tal processo já foi iniciado há milênios, quando coletividades de outros sistemas planetários encarnaram, em várias épocas, deixando marcas históricas inconfundíveis da sua superioridade. Da mesma forma, educadores de alta hierarquia espiritual encarnaram na Terra para iniciar a ruptura dessa marca de dores e sofrimentos impostos pela Lei de Causa e Efeito. Suas lições, em todas as épocas, sempre estiveram concentradas em três pontos básicos: a imortalidade, a transformação moral e a utopia da perfeição (Paraíso, Reino, Nirvana, Céu, etc), reflexo do esforço que os seres humanos devem fazer para aprender a serem felizes em situação de infelicidade. Essa mutação planetária ainda deverá levar muito tempo, talvez séculos, pois os processos de reajuste ocorrem em todos os aspectos e sentidos. Nada deve ficar pendente, daí a violência e a impotência humana diante de acontecimentos inevitáveis e inadiáveis.


Nas escolas encontramos, numa visão micro-social, exemplos de todos esses acontecimentos planetários. E os micro-educadores têm a mesma sensação de receio e responsabilidade das ações macro-sociais dos dirigentes internacionais.


A função social da escola é muito ampla: trabalhamos incessantemente para que haja uma adaptação e conseqüente progressão dos alunos diante das rápidas e atuais mudanças históricas. Fazemos o papel de suporte científico e ao mesmo tempo moral, pois as transformações geram distúrbios emocionais e sofrimentos físicos nos alunos, professores e funcionários. A maioria dos pais não possui condições psicológicas, nem conhecimento para lidar com esses problemas e passam a depender da ajuda da escola, principalmente dos professores. Quando a rede física e a população escolar eram reduzidas esse papel de substituir a família funcionava relativamente bem, apesar de alguns abusos de autoridade. Com a explosão demográfica, ocorrida no Brasil a partir da década de 1970, aumentou absurdamente o número de alunos nas salas de aula e ocorreu também uma mudança de mentalidade e de costumes. Com a democratização da escola, os pobres não puderam ser mais expulsos ou dispensados para o trabalho infantil. Os alunos indisciplinados e limitados não puderam ser mais punidos e reprovados. Essa quebra do antigo modelo autoritário estabeleceu um ambiente libertário nas escolas, porém gerou um relaxamento das relações de autoridade e dos papéis, sem a contrapartida de uma conscientização proporcional. Para compensar esse afrouxamento moral, adotou-se uma rigidez artificial, através da legislação educacional, acentuando-se a informação intelectual em prejuízo da formação moral. Essa situação seria acelerada com a explosão tecnológica dos anos 1990 e que atualmente se delineia na desconstrução da sala de aula e dos métodos textuais planos, através da revolução digital do hipertexto. Toda essa situação tornou a escola cada vez mais vulnerável aos distúrbios planetários, exigindo dos educadores mais dedicação e melhor desempenho em suas funções, como já vinha acontecendo em alguns setores profissionais. Nas escolas públicas essas tecnologias são praticamente inacessíveis e, mesmo assim, essas escolas continuam sendo alvo de uma demanda em massa. Todos querem estar nas escolas, mesmo que muitos deles não saibam dar valor ao conhecimento e considerem a escola como um simples lugar de convívio social, como se fosse um clube. Buscam nelas alguma coisa diferente daquilo que não encontram em casa ou que julgam ser muito importante para mudar suas vidas. Em pesquisa diagnóstica feita habitualmente nas primeiras semanas de aula, sempre solicitamos aos alunos algumas opiniões e expectativas sobre a escola, a família, o mundo e o futuro. A maioria manifesta uma grande esperança na instituição escolar e no trabalho dos educadores, esperando que nós enfrentemos junto com eles as suas dificuldades. Os itens que mais aparecem nas expectativas, e que transparecem claramente como carências pessoais, são esses:

• Professores que ensinem coisas para usar na vida, no mundo lá fora;
• Diretores amigos e mais próximos;
• Que a escola seja uma família e um lar para os alunos;
• Mais amizade, companheirismo e menos violência;
• Organização e limpeza;
• Eventos: festas, comemorações, exposições, festivais, bailes;
• Melhor qualidade na merenda;
• Bom ensino dos professores;
• Paciência com os alunos com dificuldades;
• Que eles mesmos mudem de comportamento e se tornem bons alunos;
• Que eles sofram cobranças por parte dos educadores;
• Justiça e rigor nas avaliações, incluindo reprovações;
• Faltas constantes dos professores ao trabalho;
• Mais disciplina e controle das suas próprias ações;
• Mais compreensão com o jeito de ser e a condição adolescente dos alunos.

Isso é um sinal evidente de que as coisas não estão indo bem nas escolas porque há uma grande defasagem entre o currículo tradicional e as necessidades dos alunos. Não se trata apenas de oferecer ciência e tecnologia nas aulas, mas também a oportunidade de mudança de pontos de vista, de rumos e destinos. Existem muitos problemas e obstáculos nas escolas que a tecnologia e a ciência não conseguem detectar e atingir. São questões humanas imprevisíveis, que não podem ser antecipadas nos planejamentos e nos planos e de aula. Muitos desses obstáculos aparecem camuflados nessas opiniões e expectativas que citamos. Como sempre fomos um setor conservador, sacralizado e dogmático, demoramos mais para reconhecer os nossos limites e que também deveríamos sacudir a poeira dos escombros e reinventar a escola. Essa reinvenção, enquanto as coisas não mudam definitivamente, significa também a adoção de novos pontos de vista, o abandono da arrogância e do orgulho, a mudança do olhar para outros enfoques. Como dizia Jesus, temos que “ser inteligentes como as serpentes, porém simples como as pombas”. É claro que esses novos olhares não representam a busca de soluções miraculosas e imediatistas. A escola somos nós e não o sistema escolar. Se não podemos mudar o sistema, podemos alterar a essência natural da escola, que são os nossos pontos de vista e os nossos sentimentos”.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A primeira versão de O Profeta

O protagonista da primeira versão de O Profeta, Carlos Augusto Strazzer (1946 — 1993)

A primeira versão da novela O Profeta, exibida pela TV Tupi no início da década de 1970 mostrou como a sociedade brasileira já era aberta e vivamente interessada pelo universo espírita. As primeiras experiências nesse sentido foram feitas em Belo Horizonte, na TV Itacolomi, com encenações teatrais televisionadas das obras de Emmanuel. Mas foi somente como o talento de Ivani, com roteiros adaptados para a teledramaturgia, que o assunto tomou forma, conteúdo e atingiu em cheio o grande público da televisão. Quem hoje se impressiona com a chegada dos temas espíritas no cinema brasileiro talvez nem se lembre que o impacto das novelas foi muito maior há 30 ou 40 anos e que o cinema só impressiona mais por causa da sua dimensão visual ampliada. A própria abordagem cinematográfica feita em Nosso Lar e principalmente em Chico Xavier possui a linguagem da teledramaturgia criada pelos autores e diretores de novelas, mais hábeis nas recriações de cenas e suas transposição do texto escrito para o universo áudio-visual. Foi por esse motivo que Daniel Filho não teve dúvida e nem se importou que seu filme parecesse um drama de TV. Foi proposital e a escolha do Pinga-Fogo como referência narrativa também fez parte dessa estratégia. Roteiro, direção e interpretação são essenciais para que essas temáticas tenham a autenticidade esperada pelo público. Se esses profissionais não tomarem o devido cuidado nas suas atuações artísticas e técnicas as cenas não causam a impressão poderiam causar, caso haja descuido nos conteúdos e tratamentos técnicos. Lembremos o caso do filme Sexto Sentido, cujos testes de qualidade só foram aprovados pelos produtores depois de cair nas mãos de um diretor familiarizado com essa temática espiritual. O mesmo aconteceu em Os Outros. As novelas brasileiras, mesmo não podendo contar com a sofisticação dos efeitos especiais dos filmes e séries americanas, sempre primaram pela abordagem autêntica dos textos espíritas originais, a única garantia de que as coisas seriam realmente compreendidas pelo público, tal qual foram concebidas nos livros. Ter uma Ivani Ribeiro, atores e diretores cuidadosos fazia e ainda faz a diferença.