terça-feira, 31 de maio de 2011

Cinco dias sem Nora


Este fim-de-semana assistimos Cinco Dia sem Nora, filme intrigante da diretora mexicana Mariana Chenillo. Tratado pela crítica como humor negro, o filme é mais do que isso; é desconcertante porque trabalha com o delicado tema dos preconceitos, o preferido dos diretores de obras “Cult”. Aliás, assistimos no Telecine Cult, que agora não é tão chic e sim mais acessível à classe média brasileira, por enquanto. Dizia que era desconcertante porque trata de temas desagradáveis como morte, velório, enterro, adultério (esse é picante!), brigas de família e finalmente conflitos de religião. O protagonista é um judeu espanhol que perde a ex-mulher, também judia, e não consegue enterrá-la por vários motivos religiosos, entre eles a constatação de que a morte dela foi por suicídio. No judaísmo os suicidas e criminosos são enterrados em locais discriminados nos cemitérios israelitas e isso deu um tremendo quiprocó, entre muitos outros rolos que vale a pena conferir vendo o filme. O assunto não é absurdo e é só lembrar o caso brasileiro do jornalista da TV Cultura Wladimir Herzog, morto sob tortura durante a ditadura em 1976. Vlado, com o era conhecido, era judeu e a família não aceitava a versão de suicídio dada pelos responsáveis por sua morte e pelo seu corpo enquanto estava vivo (o Estado). Enfim, problemas para os generais e para o regime militar. No filme acontece a mesma coisa e a religião é o cerne da questão, com todos os seus preconceitos, sempre amenizados pela corrupção e pela simonia. Nos lembramos novamente do Reverendo anglicano Chad Varah, que teve que cavar com as próprias mãos nos arredores de Londres, na década de 1930, a sepultura de uma menina de apenas 14 anos que cometera suicídio ao achar que tinha contraído uma doença venérea. A partir desse fato, para Chad, sexo e suicídio deixaram de ser tabus religiosos e entraram na sua lista de prioridades sociais e debates na sua igreja. Disso resultou os Samaritanos, pai do CVV no Brasil. Chad contou essa história dentro do Centro Espírita Aprendizes do Evangelho, na rua Genebra em São Paulo em 1977. Ele viera ao Brasil incentivar as pessoas a trabalhar na prevenção do suicídio, incluindo os espíritas. Saiu do centro contente com a adesão de alguns freqüentadores e uma edição em francês do Evangelho Segundo o Espiritismo que a diretoria do Centro lhe deu de presente. Sua falta de preconceito conquistou amigos e ele voltou várias vezes ao Brasil para acompanhar o progresso desse trabalho.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Hawking e a morte


Hawking critica ideia de que há vida após a morte

LONDRES - O Estado de S.Paulo -17 de maio de 2011

O renomado físico britânico Stephen Hawking afirmou, em entrevista no jornal The Guardian, que a ideia de que há uma espécie de paraíso após a morte é um "conto de fadas de gente que tem medo do escuro".
Hawking voltou a afirmar seu rechaço às crenças religiosas. Ele defende que o ser humano não experimenta mais nada a partir do momento em que o cérebro deixa de funcionar.
O cientista também disse que a doença neurodegenerativa que o afeta, a esclerose lateral amiotrófica, fez com que ele passasse a aproveitar mais a vida, apesar das limitações que a enfermidade impõe. "Vivi com a perspectiva de uma morte prematura durante os últimos 49 anos. Não tenho medo de morrer, mas também não tenho pressa. Tenho muito a fazer antes disso."
O ex-catedrático da Universidade de Cambridge falou das pequenas flutuações quânticas que, no início do universo, motivaram a formação das galáxias. "A ciência prediz que diferentes tipos de universo serão criados do nada e de maneira espontânea", disse.
"Considero o cérebro um computador que deixará de funcionar quando seus componentes falharem. Não há paraíso ou vida depois da morte para computadores."

Comentário do Observador



Hawkin afirma que as pessoas crentes na vida após a morte são aqueles que não aceitam a morte, têm medo da escuridão e passam a cultivar essa "fantasia". Ora , ninguém aceita a morte e todos temem a "escuridão", ou não são humanos. Pode até estar conformado com a morte e talvez mais preparado para enfrentar a tal escuridão que muitos temem, mas dizer que não tem medo ou que está totalmente traquilo sobre isso é no mínimo uma forma de defesa e fuga, uma fantasia típica daqueles que se julgam auto-suficientes, conhecedores de tudo que existe no Universo e que não admitem mudanças no seu mundo interno. Esse é pavor dos materialistas: enfrentar a si mesmos e constatar que precisam trilhar caminhos que consideram pretensiosamente já percorridos pelas suas especulações intelectuais. Orgulho e pretensão formam uma perigosa rede mental de soberba que impedem esse tipo de auto-avaliação que somente as pessoas sábias e humildes conseguem fazer. É difícil alguém tão inteligente e nessa condição psicológica admitir que ainda existe algo para se aprender sobre a vida e sobre si mesmo. Mas a vida ensina e cobra caro pela lição rejeitada.



O que acontecerá com Hawkin quando desencarnar?



Acontecerá o que acontece com todas as mentes tomadas pelo deslocamento de si e fascinadas pelo mundo dos sentidos físicos, prova que ele pouco está aproveitando, mesmo sofrendo as limitações que sofre. Pelo jeito, não tem aproveitado nem os momentos de sono do corpo.



Não , ele não vai para o inferno, nem para o céu. Pior: ele vai encontrar consigo mesmo, num amplo território chamado consciência e que se abre quando nos libertamos da carne e no qual estará cada vez mais perdido. É o que ele vai encontrar após a sua desencarnação, caso persista nessa faixa de pensamentos de extrema logicidade e emoções intensamente reprimidas: uma escuridão de coisas sem sentido e significado. Um longo sono letárgico no qual vai se debater entre o ego e a personalidade, até que a lei da reencarnação o atraia para uma nova experiência existencial.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ódio e resignação


Certa vez ouvimos uma história de que nos EUA estavam reencarnados a maioria os Espíritos de velhos líderes indígenas que durante longos anos na erraticidade alimentaram um ódio incontrolável contra aqueles que os humilharam e expulsaram de suas terras. No Brasil havia também uma influente legião de antigos líderes africanos com essa mesma característica. Esses Espíritos jamais esqueceram a profunda dor e revolta por terem deixado seus lares durante a conhecida Marcha das Lágrimas, movimento que deslocou as populações de índios para aldeias longínquas e isoladas da nova civilização que ali se instalava. Alguns suportaram, com humildade e resignação, como foi o caso do famoso Chefe de Seatle, autor de um dos mais comoventes documentos da história americana e contemporânea. Sua sabedoria repercutiu profundamente na consciência de sucessivas gerações, antecipando em muitas décadas os conceitos de diversidade e pluralidade cultural, auto-determinação dos povos e sustentabilidade que hoje cultivamos nos quatro cantos do planeta. Mas nem todos estavam com o coração aberto para fazer concessões dessa natureza. Muitos deles foram banidos inclusive das esferas espirituais da América para se juntarem às mentes perversas e vingativas que alimentam ódios de épocas muito remotas da Humanidade. Depois de uma longa fase de cultivo e preparo nas furnas obscuras das trevas, eles foram aos poucos retornando ao mundo da carne e também se aproximando silenciosamente da nação que os haviam expulsado. Muitos escolheram os lares pobres da Sicília, com quem tinham afinidades antigas contra os romanos, de onde partiam levas migratórias em direção às grandes cidades dos Estados Unidos, sobretudo Nova York e Chicago. Outros, ingressam ali através de imigrantes da Irlanda, onde também haviam grandes focos de afinidade e desejo de vingança contra as coletividades anglo-saxônicas, também reencarnadas. Segundo os relatos, esses Espíritos se manifestaram precocemente como os inimigos públicos dos EUA na pele de arqui-criminosos, exploradores dos vícios e ambições humanas, todos contra a justiça, o sistema tributário e financeiro da nação que se orgulhava de ser a mais rica do mundo. Nessa mesma época, por efeito da Grande de Depressão, centenas de famílias brancas, por força de execuções hipotecárias, amargavam a mesma dor dos indígenas quando foram expulsas de seus lares. Também foram forçados a se dirigirem, numa longa marcha regada a fome, poeira e incerteza , para as mesmas regiões para onde outrora haviam mandado os seus irmãos índígenas.

Pena que a voz o Chefe Seatle não tenha chegado a todos esses corações insensatos quando disse:

“Os mortos do homem branco se esquecem da sua pátria quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos nunca se esquecem desta bela Terra, pois ela é a mãe do homem vermelho”.