quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eugenio Lara e os Celtas


Finalmente Eugenio Lara concluiu o seu aguardado trabalho Os Celtas e o Espiritismo. Foi uma longa pesquisa transformada agora em nove capítulos de um livro. É duro aceitar, mas temos que admitir que nós, historiadores acadêmicos e profissionais, não somos as pessoas mais indicadas para realizar esse tipo de tarefa paciente, detalhada e cheia de curiosidades que só os amadores e apaixonados conseguem realizar. Os historiadores que foram jornalistas, como é o nosso caso, até que se viram bem nessas abordagens, mas não tão bem quanto esses curiosos e exegetas do tipo Eugenio Lara, Eduardo Carvalho Monteiro, Jader Sampaio e tantos outros. Conheço o Eugênio há quase trinta anos. Quando adolescentes, ficávamos discutindo espiritismo até altas horas da madrugada, na esquina da casa dele , na Vila Melo, em São Vicente. Ele estudava arquitetura e eu história; ele freqüentava a turma do “Grupo de Santos” e eu a Mocidade de grupos da “Aliança”. Já perceberam o nível e o conteúdo das discussões, não? Pois é... Mas nunca deixamos de ser amigos. Por tudo isso, fui convidado a prefaciar esse belo ensaio e não me contenho de alegria e vaidade ao ver o meu texto abrindo o livro e anunciando os maravilhosos portais de conhecimento preparados pelo Eugenio. A honra dessas primeiras leituras também foi estendida aos amigos do CPdoc, grupo de estudos do qual o Eugênio faz parte há mais de quinze anos. O grupo se reúne sistematicamente nas cidades onde moram os participantes e dessa vez vão se encontrar em São Paulo para debater o texto sobre os celtas. O CPdoc já debateu dois trabalhos nossos (O Demolidor de Dogmas – mudado depois para Nova História do Espiritismo – e Espíritos nas Escolas). Todos os membros são espíritas laicos e devem estar ansiosos para saber como o Eugênio vai se virar para explicar esse seu envolvimento com assunto tão místico e esotérico. Vou me esforçar bastante para estar presente nessa reunião do dia 7 de agosto na belíssima e funcional sede do C.E. José Herculano Pires, projetado pelo arquiteto Ciro Pirondi. Da última vez que estive no local do evento recordo que a enorme mesa de debates lembrava a Távola Redonda do Rei Arthur. Pena que nesses eventos muito cerebrais não haja clima para uma manifestação mediúnica mais explícita. Quem sabe Zéfiro esteja presente e sopre algo interessante em nossos ouvidos.

Os Celtas e o Espiritismo - Eugênio Lara.
Pré lançamento: dia 7 de agosto, às 14 horas , no Centro de Estudos Espíritas José Herculano Pires – Rua Alicante, 389 , Penha - São Paulo.
Informações: eugenlara@hotmail.com

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um depoimento importante


Tempos atrás acessamos o site globo.com em busca de dados sobre o remake da novela A Viagem. O link MEMÓRIA do site é ótimo e tem informações curiosas sobre a maioria das produções da TV Globo. Mas na época encontramos um obstáculo: os links não permitiam copiar e colar textos e imagens. Queríamos muito divulgar o depoimento do diretor Wolf Maia sobre o assunto porque percebemos nele uma admirável combinação entre conhecimento, profissionalismo e sensibilidade. Ali consta todas as razões, explicações e justificativas da produção. Reclamamos com os responsáveis alegando que a liberação dos links seria muito importante para o trabalho dos pesquisadores. Recebemos na época uma pronta resposta informando que a nossa sugestão estava sendo estudada pelos responsáveis pelo acervo. Para a nossa surpresa e satisfação, os links foram recentemente liberados. Não sabemos se o nosso pedido teve alguma influência na decisão, mas tal abertura permite que esse material seja citado livremente nos trabalhos comuns e principalmente nos acadêmicos. Vale a pena conhecer. Clique na imagem acima.


Wolf Maya
fala sobre a produção da novela

A viagem foi feita às pressas. Vira-lata ia entrar em cartaz e não entrou, acho que o Lombardi atrasou – característica do nosso Carlos Lombardi, sempre atrasado. Atrasou a Vira-lata, e a gente teve que botar a novela em vinte dias. Eu me lembro que eu achei A viagem. Paulo Ubiratan estava comigo nessa maratona, e ele era, na verdade, o meu chefe. Ele estava acima de mim, era o diretor artístico. Eu ainda não era diretor de núcleo, não existia ainda esse termo. Existia o diretor artístico, que era o Paulo, e foi durante anos. E eu falei para ele: ‘Vamos fazer uma Ivani Ribeiro. Primeiro, porque é a única certeza que temos que existe uma obra que já está pronta. Não vamos poder fazer uma obra que alguém vai escrever. Basta essa que não escreveram. Então, vamos pegar uma coisa que já está escrita.’ E aí fomos lendo Ivani Ribeiro pela ponte-aérea. Íamos conversar com a Ivani Ribeiro em São Paulo. Nós sentamos, eu, um espaço em branco e ele. No espaço em branco, uma pilha de coisas para ver. E nós achamos... Eu achei A viagem. Eu falei para ele, e ele gargalhou: ‘Mas olha que máximo, o brasileiro é extremamente ligado nisso.’ Eu já sabia disso, eu sei disso. Todos nós sabemos como é excitante você falar sobre o mundo sobrenatural, sobre coisas que você não conhece. Se conseguíssemos trabalhar, tratar Kardec, o espiritualismo, sem essa exposição comercial, sem ser doutrinador. Eu não queria fazer uma obra doutrinadora do kardecismo. Ia ficar chata. Então vamos juntar essas duas coisas, temos personagens interessantes, temos uma história que tem o temperamento brasileiro. E o evento dessa história só vai acontecer lá depois do capítulo 50 – porque a história começava de maneira muito simples. Eu podia começar a gravar na semana que vem. O céu, que eu tinha que achar como era, e o inferno, que eu ia quebrar minha cabeça para achar, só apareciam depois do capítulo 60. Então, eu tinha tempo para respirar. Podia botar uma novela em vinte dias no ar. Aí é que está o improviso da televisão. Aí é que está o que a televisão ensina para gente, e ninguém mais ensina. E quem não sabe fazer aqui, se ferra, porque não tem muito tempo para nada. Tem que ser tudo muito preciso, criativo e rápido. E assim nós fizemos A viagem. E foi exatamente assim. Eu tive a parceria de dois grandes atores. A Cristiane Torloni, que eu trouxe de Portugal, ela estava morando em Portugal. Tinha acontecido uma tragédia pessoal na vida dela, tinha perdido o filho e tinha saído do Brasil, muito triste. E eu a chamei para voltar, e ela voltou cheia de energia. Tinha o Fagundes, que é o eterno companheiro, principalmente para grandes desafios. Ele é bárbaro. E eu trouxe o Guilherme Fontes, para fazer o demônio, numa recodificação de uma pessoa que tinha cara de anjo. Ele fazia o cara do mal, mas personificado como se fosse o anjo do bem. Então isso também deu muito charme à obra. E a obra foi um dos maiores sucessos. A maior audiência da TV Globo no horário das sete. Eu fiz 72 pontos de audiência, às 19h. Foi um recorde.”

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Crime e castigo

Numa inesquecível comunicação mediúnica feita há de mais de trinta anos, o Espírito Bezerra de Menezes explicava os ouvintes sobre os motivos das preocupações do Alto com as mudanças que o mundo passaria nas décadas seguintes. Ele alertava, em palavras simples e afetuosas, que a Humanidade atual passaria por um grande abalo moral, necessário ao reajuste espiritual das coletividades. Almas há muito dedicadas ao erro e aos abusos da razão seriam atraídas para o nosso planeta para encarnações de provas altamente dolorosas e envolvidas em complexas tramas pessoais. Segundo o Dr. Bezerra, o sinal dessa nova realidade seria a sucessão em grande ocorrência de crimes hediondos, praticados por Espíritos mentalmente desequilibrados e desprovidos dos sentimentos humanos fundamentais. A influência crescente dessas mentes doentias na sociedade seria irreversível exatamente por causa da ligação espiritual das mesmas com as famílias já um pouco mais evoluídas, porém devedoras desses delinqüentes com quais praticaram atos condenáveis no passado, seja como parceiros diretos, seja como co-participantes omissos em seus atos criminosos. Eles voltam e logo se manifestam como agressores de situações que não compreendem e que elegem como obstáculos que devem ser removidos a qualquer preço. Para eles os fins justificam os meios e daí resultam os crimes mais absurdos e gestos de crueldades incompreensíveis para com os semelhantes. Os céticos podem até dizer: mas o mundo sempre foi assim e desde sempre os crimes fizeram parte do nosso cotidiano. Porém lembramos: não com a velocidade e freqüência com que vem ocorrendo nos últimos tempos.

Mas ainda resta algo de positivo diante de acontecimentos tão chocantes: é o fato de que a consciência é inexorável e, cedo ou tarde, nunca falha como dispositivo moral. Sempre, em algum momento ou circunstância, ela surge como elemento corretivo e purgador dos excessos e desvios humanos. Ninguém com um mínimo de referência moral, adquirida no convívio familiar e afetivo, pode suportar no mundo íntimo a ação corrosiva da culpa e do remorso. Por piores que sejam as nossas intenções e os nossos atos, a consciência sempre nos reconduz ao caminho perdido, pelo amor ou pela dor. Sempre retornamos não somente aos cenários dos crimes que cometemos, mas também o fazemos em circunstâncias muito semelhantes aos atos pretéritos. É o perigoso jogo da morte para reaprendermos o valor da Vida.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Maison des Spirites

Anúncio da Maison des Spirites, sede adquirida e adminstrada por Jean Meyer durante duas décadas. Localizado no número 8 da rue Copernic, o prédio continua arquitetonicamente intacto na capital parisiente, conforme mostra as imagens do Google. Clique no cartaz, acesse e amplie a imagem em várias dimensões o endereço atual. (Panorama "Street View" du 8 rue Copernic, 75016 Paris)

Silvino Canuto Abreu, pesquisador brasileiro que copiou e adquiriu alguns importantes documentos sobre a história do Espiritismo durante sua visita a Maison des Spirites no final da década de 1930.

Jean Meyer e o casal Arthur Conan Doyle durante uma vista a Maison des Spirites na década de 1920.


Jean Meyer, discípulo de Allan Kardec.

Filantropo, escritor, cientista e filósofo suíço, naturalizado francês. Natural de Rinken, Suíça, de uma família modesta de agricultores; reencarnou no dia 8 de julho de 1855.

Erradicou-se para a França aos 18 anos de idade, adquirindo nacionalidade francesa após ter criado, com o seu trabalho, uma situação de primeiro plano no comércio e, mais tarde, na exploração vinícola; desencarnou em Paris, no dia 13 de abril de 1931, após longos meses de sofrimento, paciente e corajosamente suportados.

Em 1914, Jean Meyer, então abastado insdustrial e comerciante suíço, considerado por suas obras de flinatropia, conheceu o Espiritismo por intermédio de sua prima Mme. Demare. Da mesma forma como acontecera com Camille Flammarion, Jean Meyer se tornou espírita lendo as obras de Allan Kardec e de León Denis. Ele descobriu nelas uma nova filosofia plena de lógica e de raciocínio, até então desconhecida, tornando-se um dos mais ilustres espíritas.

La Revue Spirite

A publicação de “ La Revue Spirite ” tinha sido interrompida com o número de agosto/setembro de 1915; espírita atuante e, pretendendo assegurar a sobrevivência desse órgão, criado por Allan Kardec, Jean Meyer assumiu a sua direção em 1916, fazendo-a reaparecer em janeiro de 1917.

Em 1918, Jean Meyer adquiriu os direitos de “ La Revue Spirite ”, de Paul Leymarie, assegurando, assim, a sobrevivência desse órgão. Paul Leymarie, porém, permaneceu na gerência de Revista até o ano de 1924, tendo como secretário Kermário, pseudônimo de um poeta.

A revista deixa a livraria. Jean Meyer adquiriu uma residência no número 8 da rue Copernic, a que deu nome de “Maison des Spirites”.

“ La Revue Spirite ” reunia, nesse tempo, as mais destacadas personalidades do Espiritismo: Gabriel Delanne, Leon Denis, Camille Flammarion, Ernesto Bozzano, A.Bénezech, Marcel Laurent, M. Cassiopée, General Abaut, Dr. Gustave Geley, Marcel Semezies, Pascal y Matilde Forthuny, Louis Gastin, Henri Sausse, Paul Bodier, Sir. Arthur Conan Doyle, Santoliquido, Rocco, León Chevreuil, Hubert Forestier e outros.

Em 1920 o tamanho da revista era de 25,5cm x 16,5cm e em 1923 era mensal, com 48 páginas. Jean Meyer exerceu a direção da Revue até 1931, quando desencarnou.


Unión Spirite Française

Em 1918, Jean Meyer, em sua residência na Vila Valrose, em Paris, fundou a Unión Spirite Française e, com Gabriel Delanne, fundo a revista “Survie de l’Ame Humanine”, com redação no número 28 da Avenue de Sycomores, Ville Mont-Morency, Paris.

Gabriel Delanne, pouco antes de seu desencarne, ocorrido em 15 de fevereiro de 1926, faz um acordo com Jean Meyer, em virtude do qual funde a resvista que dirigia, fundada em 1896.

Ainda em 1918, Jean Meyer adquiriu um belo hotel, onde foi instalada a Unión Spirite Française, com a qual também colaborara para dar nascimento, e que, a 23 de abril de 1919, foi reconhecido pelo Governo francês. O primeiro presidente deste instituto foi o Dr. Roque Santoliquido, professor, deputado e Ministro da Saúde Pública, ocupando a vice-presidência o não menos notável Dr. Gustave Geley.

Jean Meyer fundo também a editora Jean Meyer Editeur, criada com seu nome para possibilitar a publicação e propagação dos livros espíritas e metapsíquicos.

Em 1922, a “Librarie des Sciences Psychologiques”, por conta da Fundação Jean Meyer, a “Bibliothèque de Philosofie Spiritualiste Moderne et dês Sciences Psychiques (BPS)”, também fundada por Jean Meyer, lançaram “Editions Mille”, uma verdadeira operação de divulgação, a preços populares, das obras de Allan Kardec, de autores clássicos e contemporâneos. Somente de O Livro dos Espíritos, a tiragem foi de 70.000 exemplares.

Em 1924, no Congresso de Liège, Jean Meyer foi eleito vice-presidente da “Fédération Spirite Internationale”. Seu aluno e continuador foi Hubert Forestier.

Em 1925, na “Maison dês Spirites” se realizou o Congresso Mundial de Paris, tendo sido Jean Meyer o seu organizador e Leon Denis o presidente, que teve ao seu lado Arthur Conan Doyle, ilustre escritor britânico. Este congresso foi pleno de sucesso e o de maior repercussão.

Jean Meyer foi membro de várias entidades científicas da França e de outros países. Em 1928, com um fundo de 4 milhões de francos, constituiu a “Societé d”Etudes Métapsychiques”. No Congresso Espírita de Londres, realizado em 1928, juntamente com Arthur Conan Doyle, de quem era muito amigo, pronunciou as seguintes palavras: “É pela união da Ciência com o Espiritismo, com essa fé racional que ele nos dá, auxiliando-se um ao outro, que chegaremos a uma compreensão cada vez mais justa e sempre mais elevada da obra de Deus”.

Meyer despendeu parte de sua fortuna na divulgação do espiritismo através das Edições Meyer e na sustentação da Unión Spirite Française. Teve em Gustave Geley um companheiro com o qual estudou muito e desenvolveu persistentes investigações.

Em 13 de abril de 1931, desencarnou. Foi um digno e destacado continuador da obra de Allan Kardec.

Fonte: Revista ICESP