domingo, 31 de janeiro de 2010

Os fins e os meios na visão materialista

Cena do documentário "Turista Suicida", relatando a experiência de um professor canadense.


Governo suíço que restringir "turismo suicida"

Estadão
/ BBC Brasil -28 de outubro de 2009


O governo da Suíça apresentou, nesta quarta-feira, duas propostas ao Parlamento para endurecer as leis sobre o suicídio assistido no país.

Segundo a ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, as medidas têm como objetivo restringir o que chamou de "turismo suicida" - quando estrangeiros viajam à Suíça para utilizar os serviços de organizações especializadas na prática, como a Dignitas.

A correspondente da BBC em Genebra Imogen Foulkes, afirmou que nos últimos anos, dezenas de estrangeiros - principalmente da Alemanha e do Reino Unido, onde a prática é proibida - viajam para a Suíça para cometer o suicídio assistido com o auxílio desses grupos. Foulkes afirma que o governo suíço está dividido sobre a prática e que, portanto, apresentou duas propostas ao Parlamento.

A primeira prevê a proibição total do suicídio assistido, enquanto a segunda, que tem mais chances de ser aprovada, limitaria a prática aos doentes terminais, que terão que provar com dois médicos independentes que a doença é incurável, que provavelmente morrerão em alguns meses e que tomaram uma decisão bem informada e não recente de terminar suas vidas.

Dignitas

Todas essas condições afetariam a prática da organização Dignitas, que já ajudou pacientes com doenças crônicas e mentais a cometer suicídio.

A organização tem sido alvo de críticas na Suíça porque ajuda pacientes que não tem doença terminal e também pela velocidade com que auxilia os clientes estrangeiros. Foulkes afirma que em alguns casos, os pacientes estrangeiros que procuram o grupo viajam à Suíça, são consultados por um médico da organização e morrem dentro de horas.

A Dignitas afirmou que as propostas são ultrapassadas e disse ainda que, se for necessário, forçará uma votação nacional sobre a questão.

A clínica foi criada pelo advogado Ludwig Minelli em 1998 como uma organização sem fins lucrativos. O suicídio assistido é permitido pelas leis suíças desde que quem contribui para que ele aconteça não ganhe com isso.

A prática é proibida em vários países e quase mil pessoas já viajaram para a Suíça para morrer com a ajuda da organização.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Espiritismo em época de revolução


O documentarista Edelso da Silva Jr, autor de um já conhecido vídeo sobre o mesmo tema, publica agora em livro uma biografia inédita de Edgard Armond, o célebre dirigente da Federação Espírita do Estado de São Paulo entre as décadas de 1940 e 1960. O livro está quase chegando nas distribuidoras e, portanto, brevemente estará nas livrarias. É uma obra de fôlego, bem documentada e com informações inéditas sobre um dos períodos mais férteis e revolucionários do movimento espírita. São 528 páginas que mostram os múltiplos aspectos da trajetória do Comandante, tocando em todos os assuntos pelos quais ele ficou conhecido no meio espírita e nas suas atividades profissionais: revolucionário, educador, instrutor, aglutinador, unificador, polêmico, orientalista, iniciado, mestre-maçôm, empreendedor, rigoroso e principalmente disciplinador.

Lemos o texto antes da formatação em livro, mas na época não tivemos acesso ao conteúdo ilustrativo, que sabemos ser farto, pois Edelso faz uma narrativa típica da sua profissão: escreve como se estivesse ao mesmo tempo expondo suas teses e mostrando muitas imagens ao leitor. Outro detalhe: muito da sua pesquisa de longos anos foi orientada pelo amigo pessoal e historiador Eduardo Carvalho Monteiro . O trabalho é muito curioso e fascinante para os amantes da história e também empolgante para quem conhece a importância de Armond na história do Espiritismo.

A publicação ficou a cargo da Editora Radhu, casa editorial paulistana que tornou-se conhecida por levar ao público as obras da médium e escritora Marilusa Moreira Vasconcelos, autora de “Confidências de um Inconfidente”.


Edelso da Silva Junior, produtor de vídeo, nasceu em berço espiritualista. Seus pais eram umbandistas, doutrina que freqüentou até os 15 anos. Conheceu o Espiritismo em 1985 através do Grupo Socorrista Itaporã, no bairro do Tatuapé em São Paulo fazendo parte da Mocidade Espírita. Em 1992 passou a trabalhar no Grupo Espírita “Apóstolo Matheus”, zona Leste da capital paulista, casa que adota os programas da Aliança Espírita Evangélica. É fundador do Grupo Espírita “Os Inconfidentes” no Jd. Rodolfo Pirani em São Paulo, casa que milita atualmente. É estudioso do espiritualismo em geral, palestrante espírita e dirigente de Cursos de Educação Mediúnica e Escolas de Aprendizes do Evangelho. Trabalhou na área de Divulgação Doutrinária da Aliança Espírita Evangélica, compondo a primeira equipe do programa “É Hora de Aliança”, na Rádio Boa Nova de Guarulhos. Em 2004, a convite de Eduardo Carvalho Monteiro, entrou para a maçonaria, sendo iniciado na Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Amphora Lucis” em São Paulo/SP. Dirigiu e produziu o documentário “A Influência de Edgard Armond no Movimento Espírita”, lançado em 2004.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Em busca de Kardec educador


Hipolyte-Léon-Denizard Rivail certamente era alguém muito envolvido com a educação. Mas será que Allan Kardec Kardec era também um educador?

Para responder essa questão começamos fazendo uma segunda pergunta: Hipolyte-Léon-Denizard Rivail educador e Allan Kardec ativista espírita eram a mesma pessoa?

Continuamos com a firme opinião de que as pessoas físicas eram as mesmas, porém intelectual e espiritualmente tais pessoas se tornaram no decorrer dos anos duas personalidades muito distintas.

Todos nós sabemos que, ao se envolver nas atividades de pesquisas e divulgação do Espiritismo, H.L.D. Rivail escolheu o pseudônimo Allan Kardec exatamente para que o público não confundisse as duas pessoas: Rivail, anteriormente dedicado aos assuntos educacionais, dos quais afastou-se por motivos financeiros; e Allan Kardec, o ativista de uma nova ciência. Na época do seu ingresso no movimento espírita Rivail não era mais empresário da educação e trabalhava prestando serviços de revisor, contabilidade e eventualmente como professor particular. Antes de escolher o pseudônimo Kardec, Rivail não tinha a menor noção do que era o espiritismo fenomênico, muito menos das suas implicações filosóficas. Por que então ele teria algo a dizer sobre educação espírita? Durante os 14 anos que permaneceu como líder do movimento , redator da Revista Espírita e presidente da Sociedade Espírita de Paris, não houve da parte dele, nem de sua esposa Amélie, que também havia sido educadora, nenhuma referência específica ao assunto educação e ensino espíritas, a não ser algumas citações indiretas e esporádicas de temas paralelos e não propriamente educacionais.

Então, como encontrar o Allan Kardec educador?

Decorridos mais de cem anos da publicação das obras básicas do Espiritismo, Herculano Pires fez a transposição da filosofia espírita para uma estrutura teórica que ele imaginou ser espírita e idealizou como tal, substituindo e adaptando os pressupostos dos educadores humanistas históricos pelos conceitos espíritas. Mesmo assim, apesar da brilhante construção de hipóteses e reflexões, a idéia não repercutiu como prática social, exatamente porque sua proposta não possuía uma dimensão realizadora. Fundar uma escola na cabeça é fácil e faz parte da utopia pessoal de todos os educadores. Fazemos isso em todo o início de ano letivo. Depois geralmente nos perdemos nas veredas e surpresas do cotidiano escolar. Uma experiência educacional espírita cotidiana seria o grande desafio do nosso filósofo paulista e seus inúmeros discípulos pensadores e ausentes das salas de aula. Estes, como o mestre, flutuam nas altas esferas dos textos, debates, congressos, cursos, apostilas, projetos, mas não conseguem vencer essa barreira gravitacional da mente e fincar os pés no chão, abrir sulcos na terra e colocar as sementes no vazio das carências humanas que aguardam ansiosamente pelas lições do Espiritismo no dia-a-dia. Isso é feito nos centros espíritas mais simples, de maneira informal e eficiente, mas não funciona no espaço escolar, em aulas formatadas e formalizadas.

Como resolver esse impasse?


Também continuamos com a firme opinião que estamos pensando de forma incorreta e batendo em porta errada. Primeiramente é preciso definir o que estamos procurando e depois decidir onde vamos procurar.

Recentemente um amigo nosso reescreveu um antigo ensaio sobre os celtas e sua relação com o Espiritismo. Como educador, entre muitos outros aspectos, percebemos que tal relação pode ser encontrada no druidismo, uma escola iniciática que revelava aos alunos as mesmas coisas que os Espíritos nos revelaram através das obras de Allan Kardec. A primeira pergunta que fizemos ao ler o ensaio foi sobre a questão educativa dessa escola dos celtas. Como um celta comum se tornava druida? Que tipo de transformação acontecia nessa experiência educativa? Como essas transformações eram provocadas nos alunos?

Essa experiência educativa dos celtas pode ser conhecida e explicada? Podemos aprender algo útil com elas?

Se continuarmos a cometer o mesmo equívoco histórico ao tentar associar Rivail e Allan Kardec como personalidades únicas ao assunto educação e ensino, continuaremos procurando em vão. Se persistirmos nesses elos de ligação histórica da abordagem cronológica seqüencial e simplista - Comenius, Pestalozzi, Rousseau, Rivail, Allan Kardec e Espiritismo - continuaremos sem rumo e sem currículo. E agora tem uma ramificação temática também historicamente pouco esclarecida: a experiência de Eurípedes Barsanulfo em Sacramento, no Colégio Allan Kardec. Eurípedes foi mais ousado do que Kardec e construiu um currículo inovador e que, perdeu-se no tempo após o seu desencarne. Os relatos e estudos sobre sua experiência atestam a inovação , mas não oferecem uma síntese clara sobre o que era realmente essa prática educativa do colégio, como identificamos nitidamente nas experiências de outros educadores históricos. Ele era espírita, vivia o Espiritismo 24 horas por dia e certamente respirava uma educação que ele pretendia ser espírita. Mas onde está a síntese em si? Levou junto com ele para o mundo dos espíritos, nas altas esferas onde habita, segundo relatos de Chico Xavier. Ficaram os exemplos educativos nos alunos, mas não o “sistema espírita”. Ainda bem, porque tal "sistema" nunca existiu e se existisse já estaria seriamente adulterado pelo formalismo. Sacramento foi, ao nosso ver, a pura vivência do amor e da educação cristã que ele adquiriu na Sociedade São Vicente de Paulo, altamente expansiva e diferenciada naquele contexto pela sua mediunidade maravilhosa, espontânea e natural. Suas aulas certamente eram ilustradas pela sua visão espírita de mundo, mas isso qualquer educador espírita faz naturalmente sem necessariamente sistematizar tal experiência num currículo formal. Só não fazemos como Eurípedes fez porque somos mais limitados e tímidos. Como já dissemos, em "Espíritos nas Escolas", os alunos descobrem que somos espíritas pelas nossas ações e não pelos nossos discursos e propostas didáticas.

E as teses acadêmicas da pedagogia espírita? Não possuem valor? Não indicam rumos?

Pensamos que elas ainda não atingiram o nível satisfatório para resolver todas essas questões. São tentativas válidas como teoria e reflexão, mas seguem os passos de Herculano e não compreendem os fenômenos cotidianos da educação. Não sabemos como essas teses sobre educação espírita foram analisadas ou validadas academicamente. Mas isso não tem nenhuma importância porque esse não é o principal problema, já que a academia (ora, a academia) tem lá também os seus limites e vícios. O valor delas não está nas notas obtidas ou na aprovação institucional. O grande valor estaria no impacto social das mesmas. A maioria das teses são elaboradas sem que as bancas tenham o mínimo de condição de questioná-las integralmente, pois as dissertações são feitas rigorosamente dentro dos cânones lingüísticos e metodológicos exigidos. Isso é suficiente para desviar a atenção de outras problematizações que elas ocultam. Durante a nossa dissertação de mestrado falamos da história do Espiritismo e do ofício do historiador espírita para uma banca de doutores em Comunicação e Sociologia, porém leigos na doutrina e nas temáticas específicas da historiografia. Nossa orientadora nos protegeu com tanta fidelidade e cuidado, superando naquele instante inclusive o nosso Espírito protetor. Não houve nenhuma contestação significativa porque o assunto não era a história em si, mas os problemas sociais e lingüísticos da escrita historiográfica voltada para a temática espírita. Muito respeitosos e atentos ao cerne do tema, os avaliadores simplesmente conduziram os debates e questionamentos dentro daquilo que foi proposto na dissertação. Em nenhum momento aventou-se a crença espírita ou a credibilidade dos fenômenos. Aliás, teve sim, a professora Yolanda Lullier, da Escola de Comunicação e Artes da USP, talvez percebendo o nosso nervosismo e preocupação, nos lembrou que já havia tido provas irrecusáveis da imortalidade do pai desencarnado e que era descendente de colonos franceses do Say. Tal revelação foi pública e espontânea e causou surpresa até mesmo em nossa orientadora, que desconhecia os fatos.

Mas, voltando ao assunto, onde está o erro e onde está a solução?

O erro da abordagem feita pelos pedagogos espíritas é que ela já fez a transposição teórica do Espiritismo para e filosofia da educação, mas ainda não encontrou os elementos para a implantação cotidiana dessas reflexões. Isso por que, por um equívoco histórico, ainda comete o erro filosófico de ignorar a transformação intelecto-moral de Rivail em quase quinze anos como militante espírita. Rivail se tornou Kardec através de um processo moral-educativo. Esse é o fio da meada. Como isso aconteceu? Como essa experiência pode ser transposta para uma prática educativa cotidiana? Nesse período é que as teses devem se concentrar. Edgard Armond matou essa charada há mais de meio século e aplicou socialmente a idéia. Fez ao seu modo iniciático, tal como os druidas. Na FEESP essa idéia foi sendo desviada das suas bases educativas e caiu num sistema escolar tradicional, pobre e ineficiente em relação ao modo iniciático original. Não estamos falando da ideologia e da visão espírita de mundo que ele tinha. Isso é outra história e nesse aspecto Eurípedes Barsanulfo não era diferente dele. Mas ambos eram pessoas práticas e realizadoras. Ambos insistiam na idéia da transformação moral como método e meta escolar. Se não entendemos como ocorre essa mudança moral – que não é somente uma experiência teórica - consequentemente não conseguimos demonstrar objetivamente o que pretendemos como prática escolar espírita. Estamos falando da escola como proposta e prática educativa. Na mesma FEESP e em alguns outros lugares surgiram outras experiência educacionais, mas que não tiveram repercussão social, fora dos muros e paredes da instituição.

Isso no leva a uma última questão: será que os espíritas realmente estão interessados em educação ou numa educação específicamente espírita?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Stephen King e seus personagens médiuns

King e os atores Cristophen Walken e Michael Clark Duncan: mediunidades raras e provas dolorosas.


No programa Pinga Fogo da antiga TV Tupi, em 1971, Chico Xavier foi questionado pelo jornalista e escritor João de Scantimburgo sobre a natureza da sua fenomenologia psicográfica: se era realmente mediunidade ou se produto do “inconsciente”, conceito freudiano que atribui tais fenômenos à memória espontânea do próprio médium. O jornalista questionou também por que filósofos de alto nível intelectual como Aristóteles, Platão, Hegel ou Nietzsche não eram psicografados. Chico simplesmente respondeu perguntando se eles mesmos, os filósofos, não seriam médiuns?

Essa é uma questão que continua em debate e nos faz recordar casos como o do escritor norte-americano Stephen King, autor de obras rotuladas pelos críticos como “horror fantástico”, mas também de trabalhos comoventes e impressionantes, relatando fenômenos e experiências que certamente poderiam ser classificadas como espíritas. Seria Stephen King um médium ou simplesmente alguém com a imaginação ou um “inconsciente” muito fértil?

A trajetória desse escritor é tão curiosa como a da maioria dos seus pares artistas, quase sempre envolvidos em situações de graves provas existenciais. Essa é base vivencial das futuras experiências na criação e expressão, principalmente na literatura, onde as narrativas detalhadas devem ser extremamente realistas e capaz de levar o leitor ao clímax emocional mais próximo possível daquilo que os personagens estão experimentando. Das inúmeras obras publicadas por King as que mais nos chamam a atenção são aquelas cujas situações são compatíveis com a concepção científica e filosófica do Espiritismo e que, talvez por isso mesmo, foram melhor absorvidas pelos roteiristas e adaptadas para o cinema . É o caso de “A Hora da Zona Morta” (The Deat Zone), “O Iluminado” (The Shining) e “À Espera de um Milagre”(The Green Mile ) , textos que tem como ponto central as situações de prova de médiuns com diferentes manifestações fenomênicas.

No primeiro o médium John Smith (Christopher Walken) desenvolve a psicometria premonitória, tocando objetos, pessoas ou acessando pela percepção extra-sensorial os locais onde as situações deverão ocorrer. O ápice da sua carreira é quando o médium encontra um político populista e demagogo (Martin Sheen), que ele identifica como o futuro presidente dos EUA e que vai desencadear uma guerra nuclear contra os soviéticos. Era 1983 e a Guerra Fria estava atravessando a sua pior crise política.

No segundo, o zelador Jack Torrance (um escritor frustrado, que o próprio KIng admitiu ser ele) e o filho são médiuns clarividentes, sendo a criança o pivô das situações mais perigosas, pois o adulto entrega-se ao fascínio de espíritos maléficos e vingativos. Há um terceiro médium, o cozinheiro do hotel, que se comunica por telepatia com o menino e volta para salvar mãe e filho da fúria obsessiva do pai, assustadoramente interpretado por Jack Nicholson. O Iluminado é apavorante exatamente porque tudo que acontece é possível em casos de obsessão, sem falar que é uma obra-prima do suspense, cuja direção de Stanley Kubrick superou a maestria do seu mestre Alfred Hitchcock. Vimos o filme pela primeira vez em 1980, no antigo e demolido Cine Iporanga, de Santos, hoje transformado num enorme residencial-shopping. O filme é carregado de cenas inadequadas para os medrosos e realmente não dá para assistir sozinho.

E finalmente a impressionante história de Paul Edgecomb (Tom Hanks), o chefe da guarda de uma prisão da Louisiania nos anos 30, e um de seus prisioneiros, John Coffey (Michael Clarke Duncan). O livro foi lançado em 1996 e o filme em 1999. John Coffey é um típico negro analfabeto e simplório, condenado à morte pelo assassinato de duas crianças brancas. Coffey possui clarividência e psicometria, bem como uma curiosa mediunidade de cura que se manifesta através de fluidos parecidos com centenas de insetos que saem pela sua boca na hora do transe. A esposa do diretor da prisão tinha uma grave moléstia psíquica ou obsessiva – produto da mediunidade reprimida- e é curada pelo condenado numa arriscada operação na qual Coffey tem que ser levado até a residência da enferma. Numa das cenas o médium declara, em lágrimas, que não imaginava que a sua provação seria tão dolorosa.

Os relatos de King são mais do que simplesmente efeito do inconsciente e fazem inveja a qualquer escritor, principalmente os que se consideram muito criativos e auto-suficientes, a ponto também de dispensar qualquer tipo de influência fora do seu campo de ação mental . Outro detalhe: especificamente nesses textos, King demonstra uma enorme diferença de estilo e diversidade vivencial daquelas que são empregadas e reveladas nos seus demais livros de ficção.

Também há de se notar como muita acuidade que os respectivos diretores e profissionais que transformaram essas narrativas em linguagem fílmica também não são pessoas comuns, cujos “talentos” vão muito além do profissionalismo técnico.


Shelley Duval, Danny Lloyd e Jack Nicholson: duelo entre a loucura e a inocência