sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Diferentes, porém juntos

Edgard Armond discursando em cerimônia na FEESP em 1968. À esquerda Luiz Monteiro de Barros e à direita Carlos Jordão da Silva. Arquivo: Jacques Conchon.


O Movimento Espírita não está somente dividido, também está fortemente poluído. Divisão ideológica, provocada pela diversidade de opiniões e enfoques dos adeptos. Poluição de estratégias e ações, causada pela oferta excessiva e desordenada de serviços de informações e eventos.

Divisão já não é um assunto tão grave porque, apesar de alguns problemas persistentes como a intolerância e o sectarismo, já é consenso que podemos conviver pacifica e respeitosamente com as nossas diferenças. Vai demorar um pouco para atingirmos esse ideal, mas tudo indica que estamos caminhando no mesmo rumo. Somos filhos históricos do Iluminismo e da Revolução Francesa. É uma divisão diferente dos cismas das doutrinas dogmáticas, pois é aberta e espontânea, produto da liberdade de pensamento e expressão que já vem gravada naturalmente no espírito dos adeptos.

Já o problema da poluição é mais grave porque nos impede de cultivar e explorar os recursos da pluralidade e diversidade cultural que existe entre nós. Se conseguíssemos realizar em conjunto coisas comuns - e mesmo coisas incomuns - seria maravilhoso. Os religiosos sectários e fundamentalistas já estão se curando desses males, adotando o princípio da convivência e das ações ecumênicas. Continuam diferentes, mas não dão trelas para o ódio. Continuam rivais, mas fazem dessa rivalidade uma competição sadia em favor da solidariedade e das necessidades humanas. Estão parando com as alfinetadas, pelo menos em público. Precisamos aprender urgentemente essa lição com eles. Eles conversam entre si e não têm mais esse sentimento negativo de desconfiança e suspeita que ainda conservamos no movimento espírita. Se agíssemos dessa forma, sem preconceito, poderíamos, por exemplo, unificar por ordem temática a maioria dos nossos eventos, hoje lamentavelmente fragmentados, sem nenhuma preocupação logística. Temos recebido tantos convites de congressos, simpósios, palestras, cursos, encontros, enfim, tantas e tantas coisas semelhantes e repetitivas que acabamos não indo a nenhum deles. Quando chegam os convites, a primeira coisa que nos questionamos é se vamos nos sentir bem na tribo que está organizando o evento. Será que eles vão gostar de nós? Será que vamos poder falar as coisas que normalmente falamos? Devemos ir a um encontro específico de comunicadores? Devemos participar de um congresso de médicos? Podemos participar de simpósio de juízes ou de educadores? Tem congresso para os Zé Ninguém?

E se de agora em diante parássemos para pensar em estratégias e eventos mais agregadores e plurais? Que tal um congresso interfederativo? O que vocês acham de um simpósio interfilosófico? Não foi lindo aquele ENCOESP feito no Anhembi em 2001 ou 2002, reunindo todo mundo? Tudo bem, não gostei disso ou daquilo; preferia que houvesse X ao invés de Y, mas, no geral estávamos todos juntos.

Certa vez assistíamos pela televisão a entrega do prêmio Grammy e nesse evento geralmente acontece um verdadeiro desfile de modalidades artísticas e estilos musicais, semelhante ao Oscar. Nessa cerimônia subiu ao palco um famoso cantor norte-americano para dizer da sua alegria de estar entre todos aqueles músicos. Disse ele, emocionado: “Os artistas gostam muito de estarem juntos, de reunirem-se e festejar as artes que cultivamos”. Ele também quis dizer que os artistas são incompreendidos e que somente outros artistas podem mensurar os as idéias, os sentimentos e as atitudes que brotam da vivência artística. Criança não gosta de criança? Pois é. Os Espíritas gostam de estar juntos porque espírita simplesmente gosta de espírita. É o primeiro passo para que se realize a nossa utopia do “Amai-vos e instruí-vos”. É assim que aprendemos realmente a gostar dos outros.

Ps. E que tal a realização de um Prêmio "Espírito Verdade", reunindo todos que trabalham por esse ideal e incluindo todas as modalidades de ações no Movimento Espírita? Teatro, música, cinema, TV, literatura, comunicação, ação social, educação, ciência, enfim...

Edgard Armond e Unificação

A urbanização industrial paulistana na visão modernista de Tarsila do Amaral


“É fora de dúvida que a Terceira Revelação se limitou a assentar as bases fundamentais da doutrina e quando se referiu a fenômenos objetivos, fê-lo somente no grau que comportava a inteligência da época, o que aliás, é comum suceder porque, como sabemos, a revelação divina tem sido sempre parcial e progressiva (...) Nisso vemos a sabedoria que inspirou o Codificador, não se referindo a coisas que só serviriam para estabelecer confusão em mentes retardadas, discórdia em agrupamentos pouco coesos, separação entre adeptos ainda imperfeitos de uma doutrina de tão alta espiritualidade. Os Espíritos não quiseram, como se vê, dar campo a divergências, sabendo como sabem que todas as religiões, surgindo centralizadas e uniformes em seus nascedouros, logo depois se dividem, cindem-se em agrupamentos diversos formando cultos e seitas que, conquanto muitas vezes permaneçam fiéis à origem comum, apresentam no correr dos tempos, por efeito da intervenção do agente humano, aspectos diferentes, mais ou menos profundos, de compreensão e interpretação. Apesar da Codificação, a doutrina não é compreendida por todos da mesma forma e no mesmo sentido; nem mesmo é alimento comum para todos os paladares e em todos os climas. Por isso agrupamentos vão se formando aqui e ali, mais ou menos numerosos e coesos, tentando reunir-se em torno a estandartes comuns. Parece que as esperanças da Unificação já estão se realizando: não tendo havido nascedouro determinado; não tendo a doutrina surgida centralizada, caminha agora em sentido inverso, tentando unir-se ao invés de separar-se. Outro detalhe notável é este: nesse panorama geral um ponto se destaca como o mais nítido, mais definido, de movimento mais acelerado e mais amplo – o Brasil – onde o movimento já atingiu um grau de cristalização apreciável tendo, além disso, encontrado um ponto comum de concordância: o Evangelho do Cristo, onde já formou um corpo bem plasmado cuja cabeça, nos planos espirituais, ligados ao nosso país é aquele que denominamos o apóstolo brasileiro, Bezerra de Menezes, o guia desta Casa.”

Edgard Armond, Conferência na FEESP, 1943 - in O Espiritismo e a próxima Renovação. Editora Aliança. 1ª ed. 2002.

domingo, 23 de agosto de 2009

Madame Bovary somos nós



Madame Bovary foi talvez o maior sucesso literário popular do século XIX. Retratou o mundo burguês da Europa romântica, mas fez de forma tão desconcertante que os críticos até hoje não conseguem classificá-lo nas suas confusas tabelas de estilos. Fomos buscar numa antiga tradução publicada pela Editora Abril os trechos mais curiosos, incluindo os discursos cínicos e anticlericais do farmacêutico Homais. Mas foi assistindo a versão de Claude Chabrol para o cinema que pudemos sentir de forma mais intensa as fantasias, constrangimentos e as angústias que depois finalmente levaram Emma ao seu desespero. O pequeno romance, que mais parece um conto, também, como muitos outros, ensinou francês e hábitos europeus para sucessivas gerações de leitores no mundo inteiro. Foi lançado no mesmo ano em que foi publicada a primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 1857. A história de uma senhora provinciana que comete suicídio após uma intensa trajetória de aventura sentimentais rendeu ao autor Gustave Flaubert um curioso processo judicial, sob a acusação de ofender a família, a religião e os valores morais vigentes. O escândalo literário foi certamente inspirado numa história real, mas que revelava nas entrelinhas os inúmeros casos verídicos que jamais seriam revelados ao público. A famosa resposta de Flaubert ao juiz que lhe perguntou “Quem era Madame Bovary” não poderia ter sido mais irônica e genial, mostrando que a fragilidade humana era uma prova indiscutível da falácia dos privilégios e preconceitos de classe: "Emma Bovary c'est moi". Ao ouví-la nesses anos todos ficamos nos perguntando por que Allan Kardec também não foi levado aos tribunais, já que sua obra continha muito mais “ofensas” aos valores sociais da época. Sua amizade informal com o Imperador Napoleão III não alterou esse perigo e Kardec também nunca abusou dessa prerrogativa, muito menos deu motivos para escândalos, preferindo uma abordagem mais reflexiva, sem os riscos passionais da expressão artística. Anos mais tarde Pierre-Gaetan Laymarie não teria a mesma sorte. Nem a sensatez de Amélie Boudet ao depor a seu favor no tribunal livrou-o da ferocidade dos acusadores. A sentença dele (do Espiritismo) já havia sido dada antes do julgamento. Mas se algum juiz perguntasse a Kardec “Quem eram os Espíritos”, a resposta provavelmente seria a mesma dada por Flaubert, talvez mais impessoal, e por isso mesmo não tão chocante e irônica: “ Os Espíritos somos nós”.


James Mason no papel de Flaubert num típico tribunal francês do império de Napoleão III

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

141: jovens em crise na mira do CVV

A mais nova campanha do CVV-Centro de Valorização daVida tem como alvo os adolescentes, grupo social de grande risco entre os suicidas em potencial. Os anúncios foram criados gratuitamente pela agência Leo Bournet e tem como mensagem a idéia de encorajamento como sinônimo de liberdade: " Liberte-se de seu sofimento. Ligue 141 e encontre apoio emocional".


sábado, 15 de agosto de 2009

O importante e o essencial


Apesar de nós, o Espiritismo segue o seu caminho. Podem falar , reclamar, espernear, mas o que existe ainda de mais eficiente em forma de divulgação da doutrina continua sendo o exemplo moral.

Se o Espiritismo dependesse dos intelectuais e comunicadores de plantão (a maioria provavelmente antigos sacerdotes fracassados e caluniadores, hoje disfarçados na carne) estaria em sérias dificuldades. Com exceção da enxurrada de livros de fácil entendimento, nos parece que o público não está nem aí para o que se publica sobre a doutrina nas revistas, jornais, blogs ou programas de rádio e TV especializados.

Simpatizantes que não têm compromisso "cármico" com o Espiritismo costumam ser mais competentes do que os especializados. Em apenas alguns minutos Ana Maria Braga conseguiu ser mais eficiente que todos nós em décadas de blá, blá,blá colocando no seu programa gente para dar depoimentos vivenciais sobre o assunto. O filme de Daniel Filho, que não é espírita de carteirinha, segue a mesma trajetória de eficiência. Diferente deles, que não são divulgadores espíritas, somos repetitivos e quase sempre chovemos no molhado, divulgando o Espiritismo para os espíritas. O que fazemos, na verdade , com toda essa poluição e congestionamento de informações doutrinárias, é apenas uma troca de impressões entre nós mesmos.

Mas isso não é algo tão ruim a ponto de pararmos de fazer o que estamos fazendo. Podemos continuar tentando ser melhores, desde que conscientes das nossas limitações e risco de sermos pretensiosos. Do contrário, estaremos apenas nos convencendo de que a nossa ideologia precisa ser alimentada de alguma forma, para nós mesmos.

Por tudo isso é que o exemplo moral é sempre mais eficiente. E exemplo significa, entre outras coisas , a boa e rápida preleção doutrinária e principalmente o passe, as mais simples e tradicionais portas de entrada do centro espírita e do Espiritismo. Isso mesmo: passe não pode faltar e preletor tem que ser rápido e autêntico, em qualquer circunstância ou veículo. Certa ocasião em 1998, quando residimos na região centro-oeste Brasil, assistimos a uma preleção muito enrolada – o orador falava daquela história das pegadas na praia, de escrever o nosso destino na areia, etc - e não conseguia terminar. O dirigente do trabalho levantou e concluiu a preleção falando da necessidade sermos simples e verdadeiros. E depois finalizou: “Olha, se alguém precisar, tenho um amigo que tem um caminhão de areia e cobra bem baratinho”.

Na mesma noite fomos convidados pelo dirigente para fazer a preleção da semana seguinte. Antes de aceitarmos o convite ele nos alertou: “Você já sabe como as coisas funcionam aqui. Vá direto ao assunto e fale somente o necessário”. Esse centro, muito frequentado, ficava na periferia da cidade e tinha um jeito prático de fazer caridade. Esse mesmo dirigente, um capitão aposentado, fosse qual fosse o evento, pedia a palavra e fazia os seus pedidos: “ Tem ali fora uma família abandonada e que precisa comprar três passagens de ônibus. Eles vão embarcar ainda hoje. Preciso de 45 reais. Quem pode colaborar? Se não conseguisse , dispensava o atendido dizendo para procurar outro lugar pois não foi possível ajudar naquele momento e que iria orar por eles. Tinha tantos casos, de todos os tipos, que ele desenvolveu esse método simples e objetivo e, embora sendo assistencialista, concentrava-se em situações transitórias dos assistidos. Quando o conhecemos ele estava acompanhado de um sujeito perturbado e alcoólatra, hóspede do albergue que funcionava ao lado do centro. O Capitão dizia para ele : “Vai fazendo alguma coisa por aí. Pegue uma vassoura, arrume as cadeiras. Não fique parado”. Quando o rapaz se afastou, ele no confessou “ Esse aí aprontou pra muita gente. Tem uma legião no encalço dele. Vamos ver se daqui algum tempo ele consegue fazer pelo menos uma oração”. Para o Capitão, o essencial naquele momento era manter o sujeito ocupado e ensiná-lo a orar. O resto podia esperar. O resto seria os estudos, os eventos culturais, a formação de voluntários, etc.

Também nesse mesmo centro, certa noite, após terminarmos uma preleção sobre ressurreição, nos aconteceu algo muito curioso. Estávamos indo em direção ao carro quando demos de cara com uma mulher atormentada, dizendo que precisava ir até uma casa de massagem e pedia que nós a levassemos até esse local. Vendo que não nos decidíamos, a mulher continuou andando até desaparecer na rua escura. Tivemos a nítida impressão de que era alguém desencarnado que não aceitava a morte. Mas ao mesmo tempo era tão real que ficamos confusos e paralisados. Não conseguiamos falar, nem nos decidir. Não aprendêramos a lição e, portanto, não conseguimos colocar em prática. Casa de ferreiro, espeto de pau.

O contato mediúnico simples e honesto com os Espíritos continua sendo eficiente também. Acabemos com tudo isso – confiando somente nas maravilhas tecnológicas e na retórica reproducionista dos pseudo-sábios encarnados - e veremos o Espiritismo ir para o buraco negro pelo qual já se perderam as grandes filosofias e religiões que uma dia embalaram os sonhos de felicidade humana. Tratemos os médiuns e servidores espíritas como oráculos e sacerdotes e logo vamos perceber as nossos centros serem transformados em covis de mistificadores e mercadores da fé. Deixemos de fazer uma oração para alguém que está necessitado, ignoremos uma boa conversa na qual seremos sempre ouvintes respeitosos, comportemo-nos como se comportam a maioria dos egoístas do mundo e veremos todos os esforços dos Espíritos e dos militantes heróicos que nos antecederam irem por água abaixo.

O que fazemos hoje pela divulgação do Espiritismo é sem dúvida importante para a sua difusão. Mas – como já dissemos – é só importante. Tanto é que constantemente caímos no grave erro de achar que estamos sendo muito muito mais do que importantes e sem a coragem de nos questionarmos se estamos sendo realmente essenciais.

domingo, 9 de agosto de 2009

Yvone e o Anjo Guerreiro

Hagar e Ismael, por Benjamin West (1738-1820)


A médium Yvone Pereira deixou no livro Devassando o Invisível preciosos ensinamentos aos médiuns e estudiosos do Espiritismo. Cuidadosa no trato doutrinário e nos comentários sobre os fatos narrados, a médium expõe em crônicas cenas e personagens do mundo invisível evocando, o tempo todo, os autores clássicos, bem como os mais prestigiados continuadores de Allan Kardec. Numa dessas crônicas – Como se trajam os Espíritos... – Yvone rememora suas experiências com as visões daqueles que se lhe apresentaram mais belos e bem trajados, sejam materializados durante a vigília, seja durante o desdobramento do corpo astral. Ela começa pelo Espírito Charles – cujos trajes variam entre os costumes ocidentais e orientais (príncipe da Índia). Descreve Chopin e Victor Hugo, envoltos numa névoa azul translúcida. Cita também uma falange de iniciados hindus (da qual ela se declara pupila) com seus trajes típicos marcados pelos turbantes. Depois descreve o esperantista Zamenhof, segundo ela, mais humanizado e vaporoso, com um terno do século XX. As curiosas descrições são encerradas com uma entidade talvez até hoje não identificada precisamente e que ainda desperta dúvidas e especulações nos antigos e novos leitores de Yvone. Quem seria tal entidade de aparência angélica?

Vejamos como a médium a descreveu:

“E, finalmente, um vulto muito nobre, observado no ano 1930, cuja identidade ignoramos, mas a quem denominamos Anjo Guerreiro, pelas particularidades do quadro em que se deixou contemplar. Acreditamos, porém, tratar-se de algum integrante da legião protetora do Brasil, ou do movimento Espírita no Brasil. O certo era que trajava uma túnica grega, curta, atada por um cinto dourado; diadema discreto, um simples friso de ouro, à cabeça, e guiando um biga romana como que construída de alabastro. Com a destra, empunhava as rédeas, sem que, todavia, aparecessem cavalos, e, como a sinistra, uma flâmula de grandes dimensões, alvinitente, onde se lia – “Salve, Brasil imortal!”

Estampava-se visivelmente nessa entidade, assim materializada, o tipo oriental, o árabe, evocando também o tipo brasileiro muito conhecido no estado de Goiás. Era jovem, belo e sorridente, e um luzeiro cor-de-rosa envolvia-o, espraiando-se em torno e se estendendo longamente sobre uma multidão que cantava hosanas e empunhava pequenas flâmulas, multidão que seguia em cortejo atrás da biga. Não nos estenderemos em particularidades quanto à essa visão, por não julgá-la interessante para essas páginas. No entanto, jamais fomos informada da identidade de tão formoso Espírito. Acrescentaremos, apenas, que sua aparição assinalou etapa definitiva em nossa vida e em nossos labores espíritas”.

Então? Nossa mente não permite nenhuma certeza e até nos convida ao esquecimento desse episódio que a razão humana não consegue compreender totalmente. Porém, o coração prossegue curioso e pergunta: Não seria Ismael, o Espírito dirigente dos antigos operários que se reuniram nos grupos que dariam origem à Federação Espírita Brasileira?

Certeza, certeza nunca vamos ter, mas é certo que também gostaríamos de ver essa verdade parcialmente revelada através da obra descritiva de um artista plástico, cujos pincéis detalhassem em traços e cores cada uma das palavras escritas por Yvone Pereira.

Artisticamente falando, alguém se atreveria?


PS.

Essa descrição muito se assemelha ao relato de videntes que assessoravam Edgard Armond na Federação Espírita do Estado de São Paulo e na implantação ali da Escola de Aprendizes do Evagelho, na década de 1940. Segundo esses médiuns, entre eles o famoso pintor Lopes Leão e o cabelereiro Luiz Verry, além de Ismael, as entidades mais destacadas na chefia dessas legiões eram antigos cruzados, principalmente Ricardo Coração de Leão. Ver detalhes dessa narrativa de Armond no capítulo VI da Nova História do Espiritismo. Foi de uma dessas legiões que partiu a idéia de fundar o CVV - Centro de Valorização da Vida CVV, obra de prevenção do suicídio que Yvone reconhecia ser uma extensão encarnada da legião dos Servos de Maria.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Elementar, meu caro Luciano

O médico, professor da Faculdade de Medicina e e ex-presidente do Flamengo Faustino Esposel (foto) é citado no livro "O Negro no Futebol Brasileiro" de Mário Filho , como um incentivador da boa nutrição dos jogadores. Segundo esse autor, o doutor Esposel sempre aparecia no bar do clube com uma ou duas garrafas de mel, que era servido sistematicamente com pão aos atletas. Mário diz também que a esposa do médico, Dona Odette, era participante entusiástica das atividades esportivas do marido.


Luciano do Anjos com Mônica Novaes na antiga casa de Faustino e Odette, em Botafogo


Luciano dos Anjos continua sua curiosa investigação sobre a identidade do Espírito André Luiz. Agora ele nos envia algumas novidades na evolução do caso, que logicamente serão incluídas no seu aguardado livro sobre o assunto. O famoso jornalista pretende – e está chegando próximo – quebrar o paradigma lançado por Emmanuel ao apresentar André Luiz para o público no início do século passado. Emmanuel disse no prefácio de Nosso Lar que seria em "vão" o esforço dos curiosos para identificá-lo no rol dos médicos encarnados:

"Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes o anonimato é filho legítimo do entendimento e do amor. André precisou, igualmente, cerrar a cortina sobre si mesmo."


Era uma ameaça, uma advertência ou um simples desafio?

Luciano entendeu como desafio. Sua curiosidade científica e obstinação investigativa vão muito além dos paradigmas e mistérios naturais. Com toda razão. Se Kardec tivesse entendido os fenômenos espíritas com temeridade mística, teria desistido logo nas primeiras reuniões. Afinal, paradigmas não são dogmas religiosos, muito menos segredos iniciáticos guardados à setes chaves.

Estamos todos curiosos para conhecer as revelações (no sentido realmente espírita) desse caso.

Em frente e à fundo, Luciano!


Luciano com Andrè Luiz, o terceiro porteiro da creche com o nome do Espírito


A residência de Faustino Esposel e novas “coincidências”

No final da década de 70, estive na casa da rua Martins Ferreira nº 23, em Botafogo, onde residiu Faustino Esposel (André Luiz), desde 1822, após o casamento com Odette Portugal van Erven, que ali já morava enquanto solteira. Àquela época, achei muito curioso que o porteiro da instituição instalada no local se chamava André Luiz. Cheguei a registrar a "coincidência" em texto que distribuí pela internet com as primeiras informações sobre a identificação que fiz do grande espírito André Luiz.

Retornando hoje àquela casa, em circunstâncias de incríveis novas "coincidências" (contarei em meu livro), anotei mais duas verdadeiramente interessantes.

1. A pequena palmeirinha que havia, num vaso, à esquerda do pórtico da casa (enviei foto pela internet) agora está plantada no solo, passou para o lado direito, cresceu muito e, como pode ser visto na foto atual que estou atachando, sugere bastante o mesmo visual do tempo em que André Luiz ali residiu, relembrado por ele na obra Nosso Lar: "Em frente ao pórtico, ostentava-se, garbosa, a palmeira que, com Zélia, eu havia plantado no primeiro aniversário de casamento."

2. O porteiro que eu conheci não está mais lá. Segundo me contou a Mônica Novaes - pessoa de fascinante simpatia, coordenadora da creche hoje instalada no local - ele foi substituído por um outro, "coincidentemente" chamado... André Luiz. Mas este não ficou muito tempo. Há cerca de cinco-seis anos foi também substituído pelo atual, ao lado de quem me fotografei hoje. Muito cortês e muito querido pela instituição, me autorizou a divulgar a foto. E apresentou-se a mim dizendo chamar-se... André Luiz Barbosa Julião. É, pois, "coincidentemente", o terceiro André Luiz que responde pela portaria da casa.

Todo o restante fica para ser narrado no livro, com outras fotos.

LUCIANO DOS ANJOS

Rio, 3.8.2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A morte e a serenidade


Nos olhares rápidos que damos pelas páginas de publicação rotineira dos jornais, uma coisa nos chamou a atenção. Na seção de Falecimentos, cuja curiosidade normalmente é bem mais rápida e de fingido desinteresse, contamos ontem 48 anúncios nos quais saltou aos nossos olhos as idades dos “mortos”, que varia entre os 47 aos 98 anos. A maioria passa dos "setenta". Naqueles instantes pensamos muitas coisas, principalmente nas milhares de mortes não anunciadas. Pensamos também naquelas que são muito mais precoces. Lembramos da dor e do desespero dos que ainda não possuem conhecimento e não compreendem espiritualmente essa horrível fatalidade biológica.

Mas na mesma seção havia um anúncio diferente , destacando-se entre os demais, não só pelo tamanho, mas pela comovente mensagem de despedida:


“CARO AMIGO FÁBIO,

Sendo muito “Franco”, o que nos conforta é ter compartilhado intensamente ótimos momentos em sua sempre agradável companhia.

Sentiremos muitas saudades.

Dos amigos de Sempre:

Alcir, Carlos, Eduardo, Fausto, Flávio, Paulo, Sérgio”.

sábado, 1 de agosto de 2009

Jaci Régis e o Espiritismo Laico


Para os novos simpatizantes e pesquisadores do Espiritismo, o psicólogo e escritor Jaci Régis realmente não dispensa apresentações. Ativista histórico, começou no movimento espírita liderando a mocidade Estudantes da Verdade, cuja primeira empreitada foi mudar o nome da casa que frequentavam: saiu o Centro Beneficente Evangélico e nasceu o Centro Espírita Allan Kardec, até hoje em funcionamento. Jornalista sindicalizado, editou durante muitos anos o periódico Espiritismo e Unificação, mudado nos anos 1980 para o provocativo nome “Abertura”. Criado na onda da redemocratização do País, o jornal continua ativo e sempre aberto aos novos articulistas. Nele publicamos alguns artigos marcantes (pelo menos para nós). Foi o primeiro veículo a publicar o texto "A degeneração do Espiritismo", cujo título foi corrigido pelo próprio Jaci. É também dele a autoria da antiga e famosa proposta de “espiritizar” o movimento espírita brasileiro, segundo ele excessivamente influenciado pelo evangelismo. Sua trajetória jamais deixará de ser associada ao chamado Grupo de Santos, formado por pensadores de vários lugares do Brasil e da América Latina que enxergam o Espiritismo de uma forma bem diferente daquilo que é praticado na maioria dos espíritas. É o espiritismo laico, não religioso, voltado para as questões sociais e cotidianas e não somente para os problemas espirituais. Só esses dois adjetivos são suficientes para avaliar as repercussões e o incômodo que ele causa entre os espíritas tradicionais.

Mas Jaci não é nada daquilo que pintam sobre ele, sobretudo o líder radical e intolerante desenhado pelos que se sentem inseguros e impotentes diante de suas idéias e da coragem de divergir da maioria. É uma pessoa fraterna, muito franca, bem-humorada, sensível, enfim, um típico espírita que convence mais pela forma como age do que propriamente pelo que pensa. Ele sua esposa Palmira , com a ajuda dos filhos e de alguns amigos, dirigem há muitos anos o Lar Veneranda e mais recentemente o Instituto Cultural Kardecista , dois espaços muito conhecidos em Santos. O Lar é uma típica obra social espírita, da qual Jaci sempre diz que é simples obrigação de cidadão: “Não me sinto nada caridoso fazendo isso”. Já o ICKS é trabalho de prazer e combate ideológico, espaço de cultura, de agitação e realização de eventos, principalmente o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita. Com 77 anos de idade, hoje funcionário aposentado da Petrobrás, Jaci Régis continua inquieto. E apesar da repetição desses números cabalísticos na sua idade, permanece bem longe do misticismo. Nunca achamos que ele fosse polêmico, porque os polemistas são muitas vezes vazios e repetitivos. Na verdade ele é um inovador, um agitador cultural. Daí a força das suas idéias e exemplos. Sempre criando e reinventando, que é a essência do seu pensamento atualizador do Espiritismo, ele agora se dedica a mais nova proposta do ICKS: o Gabinete Psico-Mediúnico. Muito ocupado e objetivo, conversamos rapidamente por telefone e ele reforçou o convite para participarmos do Simpósio em outubro próximo. Também nos concedeu uma interessante entrevista sobre todas essas coisas a seu respeito e também sobre a sua última novidade.


OE - A religião continua sendo um equívoco dentro do movimento espírita?


Sem dúvida. Na medida e que o Espiritismo se torna uma religião, perde a flexibilidade evolutiva que lhe caracteriza a estrutura criada por Allan Kardec. A religião, por definição, apóia-se em verdades absolutas e por afirmações dogmáticas.

OE- Por que os espíritas têm tanta dificuldade para romper com os laços religiosos e cultivar uma religiosidade mais natural?

Devemos ter em mente que as estruturas religiosas se sedimentaram em nossa mente através das reencarnações. Romper com elas é tarefa de reflexão, meditação, raciocínio e decisão. Isso acontece quando a pessoa consegue superar o medo de ficar desamparada pelo divino e compreende que o divino se manifesta diariamente na vida de todos.

OE- Você acredita que Kardec estranharia o atual movimento espírita no Brasil?

Creio que sim, porque a forma como foi desenvolvido o Espiritismo no Brasil contraria a linha que ele adotou na criação da doutrina.

OE- Queiram ou não queiram os antipáticos, o chamado Grupo de Santos formou escola e já entrou para a história do movimento espírita. Como você vê tudo isso?

O “grupo de Santos” do qual eu fui o principal articulador, teve a coragem, no seu tempo, de apresentar uma visão dinâmica da doutrina em contraposição ao esquema montado por pessoas e Espíritos ligados umbilicalmente ao sentido cristão da vida.

OE- Você sempre foi muito crítico ao perfil doutrinário da FEB e de outras entidades federativas. Houve alguma mudança na sua opinião?

A FEB é uma instituição respeitável e lidera a maior parte do movimento espírita. A ela estão ligados os representantes dos centros e federações. Entretanto, desde sua fundação ela seguiu um caminho próprio, diferente do preconizado por Kardec. Esse caminho compreendeu um extremo sentido religioso, místico e até aceitando as teses de Roustaing. Ultimamente se tornou menos inflexível, mas prossegue na sua intenção de liderar o movimento espírita mundial, na feição de corrente evangélico-mediúnica.

OE- A CEPA é realmente uma alternativa crescente no movimento espírita?

A CEPA pode se tornar uma alternativa positiva ao Espiritismo mundial, na media que se espalha não apenas na América, mas também na Europa. É numericamente pequena, mas reúne um grupo de espíritas que possui gabarito intelectual para disseminar uma forma de entender o Espiritismo adequado ao progresso e à realidade social. Para isso, contudo, é necessário definir claramente seus objetivos e trabalhar por eles.

OE- E sobre as práticas espíritas, você considera o passe uma autêntica atividade espírita?

Hoje em dia se diz aplicação ou transmissão energética, por ser mais adequada ao processo de transmissão de energia humana e magnética. Não se trata de uma prática genuinamente espírita, mas oriunda do magnetismo. Penso que é útil e efetiva quando aplicada de forma consciente e fraterna, sem considerá-la uma panacéia.

OE- O que é o Gabinete Psico-Mediúnico?

Com o Gabinete Psico-Mediúnico pretendemos oferecer uma opção para as pessoas com problemas emocionais, nos quais incluímos naturalmente a obsessão. Queremos criar um ambiente seguro de bases psicológicas, através de técnicas de relaxamento e respiração, por exemplo, indução à renovação do pensamento e complementarmente por orientação mediúnica e aplicação energética.

OE- Por que você passou a utilizara expressão “kardecista”, não bastava apenas “espírita”?

Entre as muitas deturpações a que o Espiritismo tem sofrido, incluímos a apropriação de desvio do significado dos termos “espiritismo” e “espírita”. Correntes esotéricas e de base dos cultos africanos se auto denominaram espíritas e as ousadias de dirigentes de centros que se intitulam espíritas criando “doutrinas próprias”, tornou o ambiente confuso, de modo que a palavra “espírita” não significa necessariamente o que Allan Kardec criou. Por isso, acreditamos que a palavra “kardecista” oferece uma apropriada denominação ao esforço que temos feito de reescrever o pensamento de Allan Kardec, adequando-o ao processo evolutivo das idéias e da humanidade. Daí crermos que “kardecista” refere-se mais especificamente ao trabalho original de Allan Kardec, delimitando nosso espaço e definindo nossos propósitos. Certamente jamais a palavra “espírita” será substituída por ter sido criada por Kardec, mas “kardecista” está diretamente ligada ao criador da doutrina.

OE- Ser kardecista hoje significa ser fiel, sectário e até fanático em algumas situações e agremiações espíritas. O que está acontecendo?

Ser kardecista é ter conseguido livrar-se dos condicionamentos sectários e ter um novo pensar, dinâmico e reflexivo sobre os problemas humanos, a partir dos enunciados iniciais de Allan Kardec.

OE- Finalmente, o que está desatualizado: Kardec ou o Espiritismo? Kardec é necessariamente sempre sinônimo de Espiritismo?

Kardec é o criador do Espiritismo. Daí ser a raiz do pensamento espírita agora e sempre. Mas ele deixou claro um caminho de evolução e aperfeiçoamento do corpo doutrinário. Sendo como foi um homem atual, moderno e um pensador sábio, ao constatar que o Espiritismo seria ultrapassado se fosse uma religião ou tentasse ter as respostas absolutas para os problemas da pessoa humana com os conhecimentos de sua época. Por isso, deixou claro que o Espiritismo evoluiria ou morreria. A “morte” do Espiritismo não se dará por desaparecer, mas por perder seu significado progressivo e progressista e quando não puder oferecer ao ser humano uma reflexão cabível e atual sobre si mesmo e seu futuro.


Folheto de divulgação da mais nova atividade social do ICKS