segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sobre o futuro do Espiritismo

"Natureza morta ressucitando", por Remedios Varo, 1953


Há certas coisas que, apesar de estarem tão próximas e íntimas, com o tempo se distanciam e também acabam fugindo completamente do nosso controle. Isso vem acontecendo, por exemplo, com esse conhecido texto sobre o futuro do Espiritismo. Quando o redigimos, há alguns anos, sinceramente tivemos a impressão de que não era de nossa autoria, tal o estilo discursivo e enfático das palavras. Como não percebemos nenhuma identificação direta, aceitamos o conteúdo como uma simples insatifação da nossa parte com os rumos do movimento espírita. Mas não foi isso que mostraria a repercussão do mesmo. O texto propagou-se numa velocidade espantosa e passou a dar tom e personalidade a muitas vozes afins. Vieram também as naturais distorções. Da última vez que o vimos circulando pela internet - sem contar os inúmeros fóruns de debate - já o encontramos com título desfigurado, algumas inserções e inferências de idéias que jamais passaram pela nossa intenção. Não constava o nosso nome como autor. Aí então concluímos: realmente não é mais da nossa autoria.


A seguir, duas versões autênticas do texto: uma versão em espanhol e outra em português.

La degeneracion del Espiritismo

Comparando la historia del Espiritismo com la del Cristianismo Primitivo, podemos sacar algunas conclusiones importantes para el futuro de nuestra doctrina y el de su movimento social.

El Cristianismo, cuya pureza doctrinaria del Evangelio y simplicidad de organizacion funcional de los primeros núcleos cristianos fue conquistando lenta y seguramente la sociedad de su epoca, sufrio con el tiempo un desgaste ideologico. Se corrompio por fuerza de los intereses políticos, financieros e institucionales. Los nuevos adeptos y sus líderes, no consiguiendo penetrar en la esencia del Evangelio, que es regeneracion, o sea, la mortificacion dolorosa del mundo interior y la reversion de las actitudes exteriores, adaptaron el mismo a sus conveniencias psico-sociales, atacando sus ideas mas contundentes con la moral animalizada, alimentando los mecanismos de defensa de la mente, haciendo concesiones a las debilidades de los adeptos y desviandolos para el comodismo de disfrazados rituales exteriores. Represion de fuerzas espirituales espontaneas e ideas consideradas amenazadoras al clero, como la mediunidad y la reencarnacion; la falsificacion de tradiciones y la adoccion del sincretismo de costumbres barbaras, fueron las principales estrategias de esa clericalizacion del cristianismo.

El resultado de todo eso es bien conocido: dos millenios de intolerancias, violencias, atraso espiritual, perpetuacion de las injusticias sociales, agravamiento de compromisos com la ley de accion y reaccion, y fuerte comprometimento de la regeneracion de nuestro planeta.

Con el Espiritismo no está siendo muy diferente.

Apesar de las advertencias de los Espíritos y del propio Allan Kardec cuanto a los períodos históricos y tendencias del movimento, los espíritas insisten en cometer los mismos errores del pasado. Los mismos errores porque probablmente somos las mismas almas que rechazaron y desviaron el Cristianismo de su vocacion y ahora posamos de puristas ortodoxos, enemigos ocultos del Espírito de Verdad.
Negligentes con la oracion y la vigilancia, cedemos constantemente a los tentáculos del poder y de la vanidad. Despreciamos a toda hora la ideia de “amaos e instruíos”, entendiendolo egoisticamente, como fortalecimento intelectual competitivo, como el relajamiento de los valores doctrinarios. No conseguiendonos adaptar al Espiritismo, comprendiendo y vivenciando sus verdades, vamos poco a poco adaptando la doctrina a nuestros limites, corrompiendo los textos de la codificacion, ignorando la experiencia histórica de Allan Kardec y de sus colaboradores, trayendo para los centros espíritas practicas dogmaticas de nuestras preferencias religiosas, hábitos políticos de las agremiaciones que frecüentamos y mas comunmente las interferencias negativas de nuestros caprichos y vanidades personales.
Como los primeros cristianos, tambien luchamos por el crecimiento de nuestras instituciones, dejandonos seducir por el mundo exterior e imitando a los grupos ya pervertidos, construyendo palacios arquitectonicos, cuya finalidad siempre fue causar impresion a los ojos y la falsa idea de prestígio político; y dentro de ellos praticamos as mesmas hazañas de deslealtad, de las rivalidades, de las persecusiones a los desafectos, de la auto-afirmacion y lideranza autoritaria, de crítica y boycot a las ideas que no compartimos.

Y, finalmente, cultivamos un equívocado concepto de unificacion, esperando ingenuamente que nuestras ideas y grupos sean mayoria en un Gran Órgano Dirigente del Espiritismo Mundial, de nuestra imaginacion, y muchas otras fantasias que ni vale la pena enumerar aqui.

Y asi caminamos, unidos en nuestras displicencias y divididos en las responsabilidades. Preferimos olvidar figuras ejemplares que actuaron en la Sociedade Espírita de Paris cuando ignoramos nuestra história sabiamente registrada en la Revista Espírita. Dejamos de lado líderes agregadores – aunque divergencias normales y tolerables existiesen entre ellos – para oir y dejarnos dominar por un disfrazado clero institucional, comandado por voces medíocres y celosas, higueras esteriles, sofistas encantadores e improductivos, en fin, viejas almas y viejas tendencias, vino añejo y frutas podridas en nuestros mas queridos graneros doctrinarios.

Mas, como evitar ese proceso de corrupcion y, en algunos casos notórios, de contaminacion y mala conducta? Como revertir la situacion para reconducir esas experiencias para los rumbos verdaderamente espíritas? Que hacer con la mayoria de las instituciones, con los malos dirigentes, los malos médiums, malos comunicadores, en fin los malos espíritas? Debemos identificarlos y expulsarlos de nuestros cuadros? Debemos denunciarlos y discriminarlos como hacia la Inquisicion con los acusados de herejia?


Que hacer con los libros que consideramos impuros o inconvenientes al movimento?: debemos quemarlos en plaza pública, censurarlos en nuestras bibliotecas o entonces dejar que la propria comunidad espírita practique el libre albedrio y aprenda a escojer las correctas y adecuadas a sus necesidades?


El Espiritismo fuei ciertamente una doctrina elaborada por Espíritus Superiores y esto nos deja tranquilos en cuanto a su futuro doctrinario. Mas su movimento viene siendo hecho por seres humanos, espíritus todavia inmaduros e inexpertos. Eso realmente nos deja muy preocupados, pues sabemos que, hoy, los enemigos del Espiritismo esta entre los propios espíritas.

Dalmo Duque dos Santos


Versão em espanhol feita por Casa Espírita Kardeciana Bezerra de Menezes – Florida
http://www.spiritist.com/

A degeneração do Espiritismo

Comparando a história do Espiritismo com a do Cristianismo Primitivo, podemos tirar algumas conclusões importantes para a o futuro da nossa doutrina e o do seu movimento social.

O Cristianismo, cuja pureza doutrinária do Evangelho e simplicidade de organização funcional dos primeiros núcleos cristãos foi conquistando lenta e seguramente a sociedade de sua época, sofreu com o tempo um desgaste ideológico. Corrompeu-se por força dos interesses políticos, financeiros e institucionais. Os novos adeptos e seus líderes, não conseguindo penetrar na essência do Evangelho, que é regeneração, ou seja, o mergulho doloroso no mundo interior e a reversão das atitudes exteriores, adaptaram o mesmo às suas conveniências psico-sociais, atacando suas idéias mais contundentes à moral animalizada, alimentando os mecanismos de defesa da mente, fazendo concessões às fraquezas dos adeptos e desviando-os para o comodismo dos disfarces rituais exteriores. Repressão de forças espirituais espontâneas e idéias consideradas ameaçadoras ao clero, como a mediunidade e a reencarnação; a falsificação de tradições e a adoção do sincretismo do costumes bárbaros, foram as principais estratégias dessa clericalização do cristianismo.

O resultado de tudo isso é bem conhecido: dois milênios de intolerâncias, violências, atraso espiritual, perpetuação das injustiças sociais, agravamento de compromissos com a lei de ação e reação e forte comprometimento da regeneração do nosso planeta.
Com o Espiritismo não está sendo muito diferente.

Apesar das advertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec quanto aos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritas insistem em cometer os mesmos erros do passado. Os mesmos erros porque provavelmente somos as mesmas almas que rejeitaram e desviaram o Cristianismo da sua vocação e agora posamos de puristas ortodoxos, inimigos ocultos do Espírito da Verdade.

Negligentes com a oração e a vigilância, cedemos constantemente aos tentáculos do poder e da vaidade. Desprezamos a toda hora a idéia do “amai-vos e instruí-vos”, entendendo-a egoisticamente, ora como fortalecimento intelectual competitivo, ora como o afrouxamento dos valores doutrinários. Não conseguindo nos adaptar ao Espiritismo, compreendendo e vivenciando suas verdades, vamos aos poucos adaptando a doutrina aos nosso limites, corrompendo os textos da codificação, ignorando a experiência histórica de Allan Kardec e dos seus colaboradores, trazendo para os centros espíritas práticas dogmáticas das nossas preferências religiosas, hábitos políticos das agremiações que freqüentamos e mais comumente a interferência negativas dos nossos caprichos e vaidades pessoais.

Como os primeiros cristãos, também lutamos pelo crescimento de nossas instituições, deixando-nos seduzir pelo mundo exterior e imitando os grupos já pervertidos, construindo palácios arquitetônicos, cuja finalidade sempre foi causar impressão aos olhos e a falsa idéia de prestígio político; e dentro deles praticamos as mesmas façanhas da deslealdade, das rivalidades, das perseguições aos desafetos, da auto-afirmação e liderança autoritária, de crítica e boicote às idéias que não concordamos.

E, finalmente, cultivamos uma equívoca concepção de unificação, esperando ingenuamente que a nossas idéias e grupos sejam majoritários num Grande Órgão Dirigente do Espiritismo Mundial, do nosso imaginário, e muitas outras tolices e fantasias que nem vale a pena enumerar aqui.

E assim caminhamos, unidos em nossas displicências e divididos nas responsabilidades. Preferimos esquecer figuras exemplares que atuaram na Sociedade Espírita de Paris quando ignoramos nossa história sabiamente registrada na Revista Espírita. Deixamos de lado líderes agregadores – ainda que divergências normais e toleráveis existissem entre eles – para ouvir e nos deixar dominar por um disfarçado clero institucional, comando por vozes medíocres e ciumentas, figueiras estéreis, sofistas encantadores e improdutivos, enfim, velhas almas e velhas tendências, vinho azedo e frutas podres em nossos mais caros celeiros doutrinários.

Mas como evitar esse processo de corrupção e, em alguns casos notórios, de contaminação e má conduta? Como reverter a situação para reconduzir essas experiências para os rumos verdadeiramente espíritas? O que fazer com as más instituições, com os maus dirigentes, os maus médiuns, maus comunicadores, enfim os maus espíritas? Devemos identificá-los e expulsá-los dos nossos quadros? Devemos denunciá-los e discriminá-los como fazia a Inquisição com os acusados de heresia?
O que fazer com os livros que consideramos impuros ou inconvenientes ao movimento?: devemos queimá-los em praça pública, censurá-los em nossas bibliotecas ou então deixar que a própria comunidade espírita pratique o livre arbítrio e aprenda a fazer escolhas corretas e adequadas às suas necessidades?
O Espiritismo foi certamente uma doutrina elaborada por Espíritos Superiores e isto nos deixa tranqüilos quanto ao seu futuro doutrinário. Mas o seu movimento vem sendo feito por seres humanos, espíritos ainda imaturos e inexperientes. Isso realmente tem nos deixado muito preocupados, pois sabemos que, hoje, os inimigos do Espiritismo estão entre os próprios espíritas.

Publicado originalmente como artigo no Portal do Espírito e como conclusão do livro Nova História do Espiritismo- Dos precursores de Allan Kardec a Chico Xavier – Editora Corifeu

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lily Dale


O portal e o templo espiritualista de Lily Dale,


Bem diferente do movimento espírita brasileiro (por enquanto e se Deus quiser!), que avança simples e silenciosamente no coração e no cotidiano dos brasileiros, o espiritualismo norte-americano entrou em franca decadência. Semelhante ao espiritismo francês, não tem expressão social e vive hoje de lembranças e da exploração do turismo. Onde foram parar os milhões de adeptos e os milhares de médiuns que se esforçavam para quebrar o paradigma materialista da cultura anglo-saxônica? Será que também reencarnaram no Brasil, como aconteceu, segundo Emmanuel, com as almas francesas? A idéia espírita, tal como foi concebida teoricamente por Kardec, ainda está muito distante da cultura espiritualista que ainda resiste na América. Kardec achava que tudo era uma questão de tempo, mas parece que o Codificador estava apenas sendo generoso e paciente com os nossos irmãos americanos. As coisas significativas que hoje acontecem nesse setor na América – incluindo no cinema – ocorrem pelas mãos de estrangeiros que lá foram viver. Reencarnação nos EUA – para o delírio reacionário dos protestantes fundamentalistas - ainda é sinônimo de Nova Era e Shirley MacLaine. Um bom exemplo de tudo isso que estamos falando é a comunidade de Lily Dale, local para onde foi transferida e depois incendiada a famosa casinha da família Fox. É espiritualismo ou tudo não passa de show-business? Como turismo e memória, estão de parabéns, mas como espiritualidade e filosofia de vida já não podemos dizer o mesmo. Quem já matou a curiosidade da visita ao túmulo de Kardec no Pére-Lachaise (nós mesmos nunca matamos tal curiosidade e pelo jeito tal carência vai ficar acesa por muito tempo) pode ir a Lily Dale e sentir o clima do “moderno espiritualismo”. Ou então se espantar com as velhas brincadeiras do Dia das Bruxas.


Bem-vindo a Lyle Dale: espiritualismo a preços módicos.


Os Gaston , uma típica família espiritualista em Lily Dale