quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Espiritismo e Arte

Sarau na casa de La Sand,sentados: Alexandre Dumas, George Sand, Marie d'Agout e Liszt ao piano. Em pé: Berlioz, Paganini e Rossini. Pintura de Josef Danhauser, 1840.



Como toda idéia inovadora e revolucionária, o Espiritismo logo tornou-se alvo do interesse dos artistas, classe tristemente marginalizada e incompreendida no mundo social estabelecido e cheio de preconceitos. Um dos casos mais notórios foi o do dramaturgo Victorien Sardou. Este tornou-se um dos mais dedicados discípulos de Allan Kardec, a quem acompanhou desde as primeiras experiências das mesas girantes, a elaboração do Livros dos Espíritos e a repercussão social doutrina na Europa e nos demais continentes. Embora não soubesse desenhar, era médium pictógrafo, produzindo ilustrações assombrosas sobre a vida em outros mundos. Apesar de seus biógrafos ignorarem sua dedicação ao Espiritismo, Sardou foi um ativista influente e pioneiro na transposição direta da nova filosofia para a linguagem artística.

Lendo alguns trechos biográficos - como esses que destacamos a seguir - podemos comprender a amplitude social do Espiritismo e por que os artistas foram intensamente receptivos às idéias e valores difundidos pelos Espíritos.




Victorien Sardou e Sarah Bernard em peça de 1897


Sarah Bernard

Nasceu em Paris, França, a 22 ou 23 de Outubro de 1844; morreu em Paris, a 26 de Março de 1923.

Filha natural de uma famosa cortesã holandesa de origem judia, Judith van Hard e de um estudante de direito francês, Edouard Bernard, que se tornará notário no porto do Havre, foi-lhe dado o nome de Henriette-Rosine Bernard. Como a presença de uma criança interferia com a vida da mãe, foi enviada para uma pensão para raparigas de Auteil e mais tarde deu entrada num convento de Versalhes. Criança difícil e de saúde frágil, converteu-se ao catolicismo, sendo baptizada e fazendo a primeira comunhão em 1856, querendo mais tarde professar e tornar-se freira. Um dos amantes da mãe, o duque de Morny, meio-irmão materno do imperador Napoleão III, decidiu que a rapariga deveria ser actriz, e quando completou 16 anos conseguiu que fosse admitida no Conservatório de Paris.

Durante a guerra franco-prussiana de 1870-1871 organizou um pequeno hospital militar nas instalações do teatro. Com o fim da guerra, a deposição de Napoleão III, e a proclamação da República, a actriz, mal vista pelos republicanos, devido às suas conhecidas relações e defesa de personagens do anterior regime, conseguiu o principal papel feminino, o da Rainha Maria, na peça de Victor Hugo Ruy Blas, que tinha acabado de chegar do exílio. A sua actuação encantou as audiências, devido sobretudo ao lirismo da sua voz. Foi a razão da célebre frase de Victor Hugo, que afirmou que a actriz tinha uma «voz de oiro», caracterização que perdurou apesar dos críticos já descreverem a voz de Sarah Bernhardt como sendo prateada, devido à sua parecença com o tom de uma flauta.

Tendo criado a sua própria companhia, com a ajuda do empresário londrino Jarrett, partiu para os Estados Unidos, acompanhada de uma secretária, um mordomo, dois cozinheiros, duas criadas de quarto e um empregado. Durante dois meses percorrerão cinquenta cidades americanas. Nova Iorque é a primeira cidade americana a vê-la, em 8 de Novembro de 1880. Regressará ao Novo Mundo mais oito vezes. De regresso à Europa actua em todo o lado, tirando a Alemanha. Em Odessa, na terra dos czares, ia sendo cachinada por anti-semitas russos. Mas o czar presta-lhe homenagem pública.

Na década de 80 aparece na sua vida o dramaturgo Victorien Sardou, que escreve para a actriz Fédora (1882), Théodora (1884), La Tosca (1887) e Cléopâtre (1890), dirigindo-a nas suas próprias peças e levando-a a actuar de uma maneira extrovertida, em cenários exóticos e com guarda-roupas riquíssimos, no Teatro de La Porte Saint-Martin, de que a actriz se tinha tornado proprietária. Entretanto casara, em 1882 em Londres, com Jacques Damala, um jovem grego amante da sua irmã mais velha, actor sem talento e drogado notário. O casamento não dura devido à morte do marido.

Uma ferida mal curada no joelho direito, provocada por uma queda na última cena da Tosca, durante uma digressão pela América do Sul em 1905, que apanha gangrena obrigou à amputação da perna em 1915. O facto não a impediu de visitar os soldados na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, e de, no ano seguinte, voltar aos Estados Unidos para uma extenuante digressão de 18 meses. Em Novembro de 1918 regressou a França, aproveitando o fim da guerra para realizar uma digressão pela Europa.

Em 1920 publicou um romance, Petite Idole, obra com algum interesse, já que a heroína é uma idealização da carreira e das ambições da actriz.

Durante os ensaios finais da peça de Sacha Guitry Un sujet de Roman, desmaiou, recuperando de forma a participar no filme do mesmo autor La Voyante, produzido por Hollywood, e filmado na sua própria casa em Paris, mas durante o qual foi acometida de várias síncopes. Acabou por morrer em Março de 1923.

Enciclopédia Britânica


Victorien Sardou

(Paris, 5 de Setembro de 1831 — Paris, 8 de Novembro de 1908)

Era originário de uma família modesta que possuía um olival em Cannet, próximo de Cannes. Depois de um Inverno rigoroso em que a geada causou grandes danos nas oliveiras, a família ficou arruinada. O pai de Victorien, Antoine Léandre Sardou, resolve então instalar-se em Paris onde foi sucessivamente contabilista, professor de contabilidade, director de uma escola privada e preceptor. Para complementar os seus rendimentos, publicava manuais de gramática, dicionários e tratados sobre diversos assuntos. Como os seus ganhos fossem insuficientes, Victorien cedo foi obrigado a granjear a sua própria subsistência, vendo-se obrigado, por dificuldades econômicas, a abandonar o cursos de medicina que tinha começado.

Para sobreviver, Victorien Sardou recorre ao ensino do francês a alunos estrangeiros e a dar explicações de latim, de História e de matemática. Também escrevia artigos para enciclopédias populares. Enquanto isso, esforçava-se por vencer no campo da escrita. Os seus primeiros ensaios foram pouco encorajadores, tendo tentado, sem sucesso, atrair a atenção da actriz Elisabeth Rachel Félix, a famosa Rachel, enviando-lhe o drama, La Reine Ulfra, baseado numa antiga crónica sueca.

A sua estreia teatral foi particularmente difícil: a sua primeira peça a ser levada à cena, La Taverne des étudiants foi representada no Odéon , no 1 de Abril de 1854, mas recebeu um acolhimento tempestuoso, pois tinha corrido o boato que o autor tinha sido contratado pelo governo para provocar os estudantes. A peça foi retirada de cena depois de apenas cinco representações.

Um outro drama, Bernard Palissy, foi caeite pelo Odéon, mas uma mudança de gerência levou ao anulamento do contrato. Outra peça, com um tema relacionado com o Canadá, intitulada Fleur de Liane, deveria ser levada à cena no Théâtre de l'Ambigu, mas a morte do director daquele teatro gorou o projecto. A obra Le Bossu, escrita de propósito para Charles Albert Fechter, não agradou ao actor e quando finalmente subiu à cena, com sucesso, a autoria foi atribuída erroneamente a outrem.

A peça Paris à l'envers, submetida à apreciação de Adolphe Lemoine, director do Théâtre du Gymnase Marie Bell, foi por ele rejeitada, a conselho de Eugène Scribe, que considerava revoltante a cena de amor, que depois ficaria célebre na peça Nos Intimes.

Sardou encontrava-se na miséria, quando, para piorar as coisas, sofreu um ataque de febre tifóide, que o deixou à beira da morte. Metido no seu miserável quarto, rodeado dos manuscritos rejeitados, quando já desesperava de se salvar, foi socorrido por uma mulher que vivia no mesmo prédio. Esta alma caridosa chamava-se Laurentine de Brécourt, a qual tinha amizades nos meios teatrais, nomeadamente com a célebre actriz Virginie Déjazet, com da qual era amiga íntima. Quando Victorien Sardou se restabeleceu, foi-lhe apresentado pela sua amiga. Em consequência desse encontro, a velha actriz deixa-se encantar pelo jovem autor, tomando nas suas mãos o lançamento da sua carreira. Victorien Sardou casaria entretanto com Laurentine de Brécourt. Especificamente para Sardou e para as suas peças, a já idosa actriz adquire, em 1859, um teatro, as Folies Déjazet, sito no n.º 41 do boulevard du Temple, então rebaptizado Théâtre Déjazet. Para cobrir o custo de exploração, ela vê-se obrigada a retomar as suas tournées pela Europa.

A peça Candide, a primeira peça escrita por Virginie Déjazet, foi interdita pela censura, mas as três peças seguintes, escritas quase em simultâneo, – Les Premières Armes de Figaro, Monsieur Garat, Les Prés Saint-Gervais – tiveram um grande sucesso. O mesmo aconteceu com a obra Les Pattes de mouche (1860), que foi levada à cena no prestigioso Gymnase.

Victorien Sardou rapidamente ombreou com os dois mestres do teatro de então, Émile Augier e Alexandre Dumas, filho. Embora não tivesse o sentido do cômico ou a eloquência e a força moral do primeiro, ou a convicção apaixonada e os espírito acutilante do segundo, ele revelou-se um mestre do diálogo. As suas réplicas desenvolviam-se com inspiração e ritmo.

Wikipédia

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natividade

Keisha Castle-Hughes e Oscar Isaac no filme “ Natividade”, da diretora Catherine Hardwicke.



"Para a encarnação do anjo planetário, o vaso carnal escolhido e já compromissado desde antes de sua reencarnação na Terra, foi Myriam, virgem hebréia de família sacerdotal, filha de Joaquim e Ana. Moravam em Jerusalém, fora dos muros, junto ao caminho que ia para Betânia. Ele era de Belém, da tribo de Levi, da família de Araão e ela de Nazareth, da tribo de Judá, da família de David. Já estavam ambos em idade avançada quando lhes nasceu uma filha que foi chamada Myriam, cujo nome significa beleza, poder, iluminação. Com a morte de seus pais foi ela internada por parentes no Templo de Jerusalém, junto das Virgens de Sião, que nas grandes festividades cantavam em coro os salmos de David e os hinos rituais, pois que as jovens descendentes de tais famílias tinham esse direito e podiam ser educadas primorosamente no Templo, consagrando-se, caso quisessem, a seus serviços internos.

Dois anos depois, segundo revelações mediúnicas, Joseph, carpinteiro residente em Nazareth, cidadezinha da província da Galiléia, usando de um direito que também lhe pertencia por descender da família de David, tendo enviuvado de sua mulher Deborah, filha de Alfeu e ficado com cinco filhos menores, bateu às portas do Templo pedindo que lhe fosse designada uma esposa.

Nestes casos, a designação era feita pela sorte e a indicada foi Myriam.

...dias antes da indicação, estando Myriam sozinha em uma das dependências do Templo... adormeceu e teve um sonho, ou melhor dito, uma visão – pois era dotada de aprimoradas faculdades psíquicas – durante a qual um anjo a visitou e a saudou como predestinada a gerar o Messias esperado.

Surpreendido pela revelação, Joseph, dentro da sensatez que lhe era atributo sólido, guardou silêncio, aguardando o perpassar dos dias; mas estando evoluindo para termos finais a gestação e não podendo confiar em estranhos ou parentes ali residentes, resolveu levar a jovem esposa para Belém onde ela ficaria sob os cuidados maternais de sua tia Sara.

Pois foi ali, naquela cidade histórica, por sido onde Samuel sagrou David como rei, que se deu o nascimento transcendente do Messias Redentor, ao qual foi dado o nome de Jesus


...Contam as escrituras que o evento se deu num estábulo, o que não é de se estranhar, tendo em vista a pobreza e a exigüidade das habitações do povo daquela época, e o fato de que os estábulos nem sempre eram lugares destinados a conter o gado, servindo também de depósito de materiale forragem. É de se admitir que os hóspedes tenham sido acomodados em um compartimento desses, mais afastado do bulício da casa e da curiosidade dos estranhos. Em Belém se encontram ainda vários estábulos desse tipo, que servem, ora para habitação, ora para depósito de combustível e forragem, ora ainda de acomodação a pastores nômades, quando vêem à cidade a negócios”.

Edgard Armond – O Redentor – Editora Aliança


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Convivendo com o fundamentalismo

Galáxia Sombrero - MIo4 - NASA - Hubble Heritage

“Embora isto fira o seu orgulho, o homem deve resignar-se a ver em seu corpo material o último elo da animalidade sobre a terra. O inexorável argumento dos fatos aí está, e será em vão levantar protestos contra tal situação” – Allan Kardec - A Gênese, 1868


Em mundos como o nosso, de pouca diversidade mental e de grande complexidade de provas e expiações, a religião é fator desencadeante da regeneração vivencial mas, contraditoriamente, serve também como instrumento de alienação e retardamento evolutivo. Em muitos casos ela liberta e ilumina os espíritos potencialmente autônomos e destemidos, mas também escraviza e obscurece as almas fracas e supersticiosas.
Um dia sonhamos que, na longa trajetória espiritual, toda a Humanidade se transportaria mentalmente do geocentrismo para o heliocentrismo e deste para a cosmocomplexidade, mas tudo não passa de uma utopia distante do mundo terreno.

Agora, quando todos estávamos acomodados no paradigma evolutivo linear – da barbárie para civilização – somos surpreendidos por avalanches coletivas cuja brutalidade de costumes e mentalidade causa horror e preocupação aos corações pacíficos e avessos ao sectarismo.

Quantos milênios teremos de aguardar essa libertação integral?



Escolas adotam criacionismo em aulas de ciências

Instituições religiosas usam explicação cristã sobre criação do mundo junto com a teoria da evolução


Simone Iwasso e Giovana Girardi

Polêmicos nos Estados Unidos, onde são defendidos por movimentos religiosos como mais do que explicações baseadas na fé para a criação do mundo, o criacionismo e o design inteligente se espalham pelas escolas confessionais brasileiras - e não apenas no ensino religioso, mas nas aulas de ciências. Escolas tradicionais religiosas como Mackenzie, Colégio Batista e a rede de escolas adventistas do País adotam a atitude de não separar religião e ciência nas aulas, levando aos alunos a explicação cristã sobre a criação do mundo junto com os conceitos da teoria evolucionista. Algumas usam material próprio.

Outros trabalham com livros didáticos da lista do Ministério da Educação e acrescentam material extra. "Temos dificuldade em ver fé dissociada de ciência, por isso na nossa entidade, que é confessional, tratamos do evolucionismo com os estudantes nas aulas de ciências, mas entendemos que é preciso também espaço para o contraditório, que é o criacionismo", defende Cleverson Pereira de Almeida, diretor de ensino e desenvolvimento do Mackenzie.

O criacionismo e a teoria da evolução de Charles Darwin começam a ser ensinados no colégio entre a 5ª e 8ª séries do fundamental. Na hora de explicar a diversidade de espécies, por exemplo, em vez de dizer que elas são resultados de milhares de anos do processo de seleção natural, se diz que a variedade representa a sabedoria e a riqueza de Deus.

No Colégio Batista, em Perdizes (SP), o entendimento é semelhante. "Ensinamos as duas correntes nas aulas e deixamos claro que os cientistas acreditam na evolução, mas para nós o correto é a explicação criacionista. O importante é que não deixamos o aluno alienado da realidade", afirma Selma Guedes, diretora de capelaria da instituição.

A polêmica está no fato de os colégios ensinarem o criacionismo e o design inteligente não como explicações religiosas, mas como correntes científicas que se contrapõem ao evolucionismo. Nos EUA, a polêmica parou na Justiça. Em 2005, tribunais da Pensilvânia decidiram que o design inteligente não era ciência, recolocando Darwin nas escolas. No Brasil, onde o debate não é tão acirrado, esse tipo de ensino tem despertado dúvidas sobre a validade na preparação dos alunos. Os conteúdos de ciências exigidos em concursos e vestibulares são baseados em consensos de entidades científicas, que defendem a teoria da evolução.

Já nos cerca de 2 mil colégios católicos, segundo dados da Rede Católica de Educação, não há conflitos entre fé e teoria evolucionista. No material usado por cerca de cem colégios do País, as aulas de ciência trazem a teoria da evolução e explicam o papel de Darwin.



COMENTÁRIOS

Publicados em 08 de dezembro no site do Estadão


1. Vamos separar as coisas
A religião sempre querendo pegar uma carona na Ciência. Aula de ciência é ciência aula de religião é religião. A ciência é algo comprovado para qualquer um, enquanto a religião é de fórum íntimo. Não queiram impor seus credos para os outros. Cada um crê, ou não, em quem quiser. Deixem nossas crianças em paz para erra ou acertar por elas mesmas.


2. Cada qual no seu lugar
A questão é muito clara, e está exposta abertamente no artigo: não há o menor problema em se ensinar criacionismo, desde que seja nas aulas de religião. Ensinar criacionismo em aula de ciências é desonestidade ou ignorância, por um único motivo: criacionismo não é ciência. Pelo mesmo raciocínio, seria correto ensinar também astrologia, geocentrismo e outras "teorias alternativas" nas aulas de ciências. Apenas para esclarecer, "teoria" em ciência não é o mesmo que "hipótese", é um modelo de funcionamento que confirma os dados colhidos e faz previsões verificadas experimentalmente. Nesse sentido a evolução é um fato, tanto quanto a gravidade. Nesse mesmo sentido, parafraseando Pauli, não é que o criacionismo não esteja certo, ele não está sequer errado.


3. E o resto?!
Claro, é preciso ensinar que a igreja apoiou as ditaduras, o nazismo e as guerras. Que sua riqueza deve-se, principalmente às pilhagens durante séculos. Que muitas pessoas foram mortas simplesmente por não concordar com ela. Que as religiões são excludentes e intolerantes, que não aceitam outras crenças e impões seus dogmas, que os crimes até hoje cometidos pela igreja são encobertos, que os nativos da américa, africa e asia foram perseguidos e os que não aceitaram "a fé" foram mortos como animais-sem-alma etc etc. Se falar em criacionismo é falar a verdade então que se fale de toda a verdade. Ou isso é só parte da mentira!? E ciência não tem nada a ver com isso. É outro papo.

4. Enquanto isso a Terra pede socorro
Enquanto se acompanha notícias mundo afora de desastres naturais causados pelas mãos do homem, se perde tempo com essa babaquice que é a religião. Nosso planeta está gravemente doente e o que precisamos ensinar nessas escolas são formas de curá-lo e mantê-lo sadio. salvem nosso planeta. O resto não interessa.

5. O que vale é a opinião de cada um
Cada um acredita no que quer e isso não muda a realidade. No máximo a percepção dela. Mas ciência continua sendo ciência e religião continua sendo questão de fé.

6. Plágio
Por que essas escolas também não ensinam que o deus inventado em Israel é apenas um plágio do deus único dos persas fundido com o deus único criado pelo faraó Aknaton? Um deus criado à imagem e semelhança dos seres humanos.

7. O que vale é a "opinião pública"
Que Deus existe é fato provado. Agora, não importaria se Deus criou o mundo. O importante seria a opinião imposta pela "maioria" de que tudo é fruto da evolução, sem ação nenhuma do Criador, ou seja, uma mentira. Ensinam isso aos nossos filhos e ficamos calados. Agora só porque um grupo ensina paralelas as teorias, são criticados...

8. À altura
Se existe algo à altura da grandiosidade divina, é a estupidez dos dirigentes dessas instituições!

9. Lamentável...
Só por não conseguirem distinguir ciência de religião, já se pode ter uma idéia do nível dessas escolas. Lamentável...

10. Obrigado!
Agradeço ao Estadão por fornecer uma lista das instituições de "ensino" a serem evitadas por meus filhos!

11. Que pena !
Uma pena, perdemos muito com essa postura desonesta por parte desses "educadores". Perdem os alunos, por aprenderem uma visão distorcida e ignorante da ciência e do método científico (vide comentário de smartduck acima) e perde a sociedade, porque teremos no futuro um deficit ainda maior de profissionais competentes em qualquer área baseada na ciência.

12. Achismo
Infelizmente tudo que o homem intermedia é tendencioso aos seus interesses..... Criacionismo nas bases do estudo fundamental é mais uma forma de criar seres humanos manipulados criados sobre as vertentes do achismo

13. Inacreditável
Não dá para acreditar que ainda querem defender o criacionismo nas escolas. A escola é para o ensino da ciência. Deixem os achismos para as religiões, que se baseiam em dogmas, muitas vezes sem o menor fundamento. Achar que os alunos devem optar por si mesmos é de uma estupidez assombrosa, mesmo porque é muito mais fácil esconder a burrice assumindo de uma vez que foi Deus que criou tudo, do que entender todo o processo evolucionista. Como os estudantes podem optar ou não por algo que é científico, e não religioso?

14. Equilíbrio
A postura da educadora citada acima respeita o aluno, pois não impõe ter que aceitar convicções. O tempo tem demonstrado que algumas convicções religiosas estavam incorretas, e nem por isso invalidaram o(s) texto(s) sagrado(s). No âmbito religioso, são nossas interpretações e dos líderes religiosos, que são incorretas. Em função disso, surge todo um mundo de argumentos "espertos" para um derrubar a ciência. Mas esta postura não é justa, pois até a mesmo a ciência refuta a si própria. Nesta luta, os dois lados têm defensores fanáticos e ignorantes. Pena dos jovens terem que comprar um briga que não lhes pertence.

15. Razão e verdade
Todo debate confinado aos limites de uma sala de aula ou das paredes de uma igreja patina no vazio e pode enveredar para qualquer direção. Não acho que nenhuma das teorias deva ser ensinada às crianças como "a verdade científica". Acho é que a CIÊNCIA é que deve ser ensinada: a postura da dúvida e da confiança na reflexão própria. É muito mais fácil fazer alguém acreditar no "dogma certo" do que imbuir o indivíduo da sinceridade diante da própria ignorância que permite que uma caminhada rumo a conhecimentos mais aprofundados não cesse jamais. Quanto ao resto, a escolha da "teoria correta" sobre o que quer que seja, a natureza sempre se encarregará de desmentir equívocos, sem a menor piedade.

16. Pela Liberdade de Decidir: Chega de Fanatismo Darwinista
Absurdo é fazer da evolução uma religião e nunca questioná-la. Uma teoria mais furada que peneira, que de científica não têm nada. Uma pesquisa básica mostra quantos problemas ela têm. Ela só faz sucesso porque é o único jeito que arranjaram para tentarem explicar o mundo sem Deus. Por que esse medo de deixar os alunos pensarem por si mesmos? Os ateístas morrem de medo porque a besteira da evolução não passa por uma análise mais profunda.

17. Absurdo
Um absurdo: vamos ensinar os fatos e esquecer as crendices! A ciência prova que as religiões estão erradas, apesar de suas crenças 'convencidas', o que vale são os fatos...

O museu do criacionismo



A escassas sete milhas da cidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, abriu já o «Creation Museum», o célebre «Museu do Criacionismo». O site promocional do museu é suficientemente esclarecedor quando diz:

«Convidamo-lo a visitar o Museu do Criacionismo. A sua vida pode mudar para sempre».
São bem capazes de ter razão!


O Blog «BlueGrassRoots» leva-nos numa interessante visita guiada ao Museu, ilustrada com mais de sete dezenas de fotografias. Absolutamente imperdível! É este espetacular e multimilionário museu, dotado das mais recentes e modernas tecnologias, que finalmente prova (para quem ainda tivesse dúvidas) que, tal como afirma a Bíblia, o mundo foi criado por Deus em seis dias e há cerca de 6.000 anos. Ele traz-nos literalmente das páginas da Bíblia para a realidade, permitindo-nos ver reproduções de pessoas e animais no seu ambiente natural, incluindo crianças a brincar com dinossauros, Adão e Eva no Jardim do Éden e até a respectiva serpente enrolada na Árvore do Conhecimento. Existe uma secção inteira destinada a provar como é que o Grand Canyon foi formado em poucos dias em consequência do Dilúvio, e até mesmo uma reprodução da Arca de Noé em tamanho natural. É dedicada uma especial atenção às crianças que visitam o Museu e são até vendidos livros que ensinam como educar «crianças de Deus» neste «mundo sem Deus».


Mas, mais importante ainda, o Museu do Criacionismo desvenda-nos finalmente essa gigantesca conspiração de cientistas por esse mundo fora que se dedicam exclusivamente a propagar esses tenebrosos mitos ateístas, como o são o Evolucionismo ou os diferentes métodos de datação, como por exemplo por Carbono-14. Logo à entrada, todos os visitantes são convidados a «penetrar no espírito» do Museu e são aconselhados:
«Não pense, escute somente e acredite»


Sim: De facto, um bom conselho! Um bom conselho para todas as pessoas de fé e que acreditam em Deus. Um bom conselho para todas as pessoas que acreditam nos piedosos ensinamentos deste brilhante «Museu do Criacionismo».
Quer neles acreditem muito, acreditem pouco ou assim-assim.
Afinal, qual é a diferença?...

Fonte: http://rprecision.blogspot.com/ Portugal

A cultura espiritual nas escolas


Primeiramente devemos lembrar que praticamente todas escolas têm gravado em suas identificações o nome e a lembrança de personalidades históricas e de inúmeros professores que já fizeram sua passagem para o mundo espiritual. Quadros com fotografias antigas, estátuas e outros objetos recordam constantemente aos que ficaram que um dia eles foram alunos ou educadores. Muitos deles hoje já estão reencarnados e labutam nas mesmas atividades onde falharam ou tiveram êxito, renovando e enriquecendo suas experiências evolutivas. Essa é a cultura da Memória (Mnemósine), o próprio espírito do tempo (Cronos) e da História (Clio).

Por outro lado temos também a cultura dos costumes e das mentalidades.

Quem não conhece a história da Loira do banheiro que, nos anos 70, apavorou toda uma geração de estudantes e que na década seguinte foi substituída pelo saudoso Fred Krugger?
Pois é.... sempre que esse assunto vem à tona nas salas de aula a maioria dos professores e alunos apelam para a razão e rotulam o tema de superstição e bobagem. Mas também sempre aparece alguém que dá um sorrisinho malicioso para lembrar que nem tudo é bobagem e superstição. Ao ser levantada essa hipótese, imediatamente o clima da conversa toma outros rumos diante dos olhares atentos e fisionomias de espanto.

Depois que os filmes de terror foram substituídos por roteiros espíritas, como “O Sexto Sentido” e “Os outros”, as conversas sobre esses assuntos não são mais as mesmas. Depois que o menino que vê gente morta em todos os lugares, principalmente naquela cena em que ele acessa no éter a imagem de antigos moradores enforcados nas vigas do telhado da escola, não sobraram muitos argumentos para os céticos. Nesses instantes alguns alunos, geralmente as meninas, começam a contar suas experiências “sobrenaturais”, enquanto outros, geralmente meninos, iniciam uma campanha de ridicularização dos relatos. Outros, meninos e meninas, permanecem em silêncio, atentos, como expectadores de um jogo perigoso à espera de um resultado nada previsível. Aí, então, vêm as perguntas fatais:

- O senhor já viu ou conversou com Espíritos”?
- Qual a sua religião?
- Professor, o senhor acredita em reencarnação?

O professor, acuado entre o dever e o prazer, entre a cautela e a ousadia, olha para a porta da sala, para ver se não está sendo vigiado, e aqueles poucos segundos antes de dar a sua resposta se transformam em anos de dúvidas e incertezas: “Será que devo responder? Devo me omitir? O que devo dizer? Como poderei responder? Qual será a repercussão da minha fala? Quais as conseqüências do meu ato?

As escolas são lugares tidos como neutros, locais públicos de muitas possibilidades, mas também, por isso mesmo, de muitas proibições. Numa escola, onde naturalmente se estabelece um jogo de poder entre quem educa e quem vai ser educado, quem vai ensinar e quem vai aprender, entre quem vai avançar e quem vai recuar, acaba predominando a lei do mais forte, ideologicamente falando.


Numa escola, ambiente supostamente neutro e público, mesmo que seja escola particular, quem tem conhecimento realmente tem poder. Por isso, nesse ambiente nem tudo que é público deve ser notório; nem tudo que é possível deve ser realizado. Esse é o paradigma dominante; esse é o paradigma que atualmente não deve ser desafiado, mas que pode ser mudado. O paradigma dominante é o da matéria; e o novo a ser implantado é o do espírito. Tocar no assunto espiritualidade em ambientes neutros talvez seja mais tabu do que em lugares assumidamente contrários ao assunto. Nessas situações a timidez rapidamente se transforma em receio e este deságua fatalmente na omissão. Pronto: lá se foi mais uma oportunidade de falar sobre as coisas que habitualmente não podem ser ditas, mas que a gente tanto gostaria de falar. Como na música de Fátima Guedes, trilha sonora na primeira versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, falando de fadas, gnomos e duendes, “São segredos nossos, quisera falar das coisas que não posso...”. Não podemos esquecer que o paradigma científico também é repleto de ideologia, veículo histórico, como as religiões tradicionais, de idéias das classes dirigentes e dominantes que camuflam interesses muito específicos. Quando se proíbe a manifestação da ideologia religiosa e espiritualista nas escolas alega-se que não se trata de temática científica (como se esta estivesse acima de qualquer suspeita ), pois esse tipo de proselitismo é injusto, pois os alunos não têm como reagir e contestar a influência da autoridade do educador. Ora, seguindo esse mesmo raciocínio, por acaso os alunos possuem condições de criticar e contestar o proselitismo científico, carregado de elementos ideológicos particulares dos educadores? Outro detalhe importante: a maioria absoluta de alunos e educadores acreditam em Deus e professam algum tipo crença religiosa. São constantemente treinados mentalmente em suas bases religiosas para rejeitar discursos novos e ameaçadores às suas ideologias. Alguns realizam verdadeiras ginásticas de racionalidade intelectual para neutralizar idéias consideradas perigosas. O exemplo mais conhecido é o choque criacionismo versus evolucionismo[1]. Portanto, quem é o peixe fora d’água nessa história? A ciência divulgada no ambiente escolar, nesse caso, têm sido útil apenas para esconder a verdade e não para desmistificar as coisas superadas e apontar novos rumos de mentalidade, que seria seu verdadeiro papel educativo. O problema é que a chamada ciência oficial, acadêmica, bem como seus corifeus humanos e imperfeitos, não está preparada para encarar paradigmas que desafiam sua própria credibilidade.

Mesmo que esses ambientes neutros estejam saturados de espiritualidade, no sentido de abundância fenomenal , quando intentamos quebrar o gelo, surge uma reação espontânea que nos alerta sobre os riscos de ousar num território proibido, que já possui domínio e forte tradição conservadora. É o terreno do materialismo, senhor e soberano das meias verdades, onde não há cabimento e sentido para as coisas do espírito. É o conhecido mundo de César, onde não há espaço para o desconhecido mundo de Deus. Aliás, existe sim, desde que seja o pensamento credenciado, institucional e já reconhecido como idéia “oficial”, já contaminada pelas meias verdades. O Deus e o Homem da tradição mitológica das religiões antigas são permitidos, pois não representam nenhuma ameaça ao avançado sistema tecnológico. O Homem da tradição zoológica darwinista também é permitido nas escolas, mesmo que seja uma ameaça ao sistema dogmático. Isso se faz com uma solução simplista e política: uma coisa é fé e outra coisa é ciência. Separando bem essas duas coisas, não haverá questionamentos nem conflitos... Mas o Deus Cósmico de Spinoza e do universo quântico de Einstein, ou seja, a Mente Universal em constante Criação e Expansão, ainda é assunto proibido, pois essa quebra de paradigma ainda não foi digerida pelos religiosos, muito menos pelos cientistas de plantão. Falar de um Deus que não seja humano velho e barbudo, de um universo que não seja mecânico e previsível, de outras dimensões e percepções extra-sensoriais que não sejam a dos cinco sentidos, de seres extra-terrestres que não sejam anjos ou demônios ou formas esdrúxulas e suas esquisitas espaçonaves da ficção científica, tudo isso nos assusta e nos faz recuar, como os hereges escaldados. Esse medo se agrava quando estamos em ambientes de uso coletivo e qualquer manifestação mais atrevida pode ser rotulada de sobrenatural ou então de ação isolada e individual. Reparando bem, olhando bem de perto, ninguém é absolutamente normal. Mas não queremos correr o risco de sermos taxados de loucos ou perturbados. Sem contar os reacionários, inimigos espontâneos e gratuitos da razão, sempre prontos a defender a tradição que eles mesmos não aprovam ou acreditam.

A escola como espaço de conhecimento ampliou muito a sua natureza neutra, e também através do aumento da diversidade de freqüentadores e da pluralidade cultural conseqüente dessa freqüência diversa. Paradoxalmente, esse fator também ampliou a proibição e o tabu, pois o que antes era exclusivo das idéias oficiais, passou a ser de todos e agora é de ninguém, no sentido mais amplo e inibidor, até vergonhoso, de que não pode, não deve, não é sadio, não é viável nem recomendável. Um exemplo disso é a recente tentativa de oficializar o ensino religioso. A idéia partiu do clero educacional católico, preocupado com a expansão protestante, baseada em estatísticas e também na crença de que o catolicismo é a preferência religiosa da maioria dos brasileiros. É a preferência formal, pelo hábito cartorial de estar vinculado a uma instituição, mas não é a preferência habitual e de fé, pois as mesmas estatísticas mostram outros hábitos e crenças na população brasileira e que não constam no credo católico e protestante. A medida legal foi posta goela abaixo como lei votada no Parlamento, porém quando chegou nas escolas teve o mesmo destino dos decretos e bulas: passou pelo crivo racional e teve que se adaptar ao modelo curricular vigente, ou seja, virou História das Religiões ou tema transversal, simples pretexto para o diálogo inter-religioso. Como este último é do interesse de uma minoria insignificante, a disciplina tornou-se apenas mais uma alternativa de renda financeira através de algumas horas-aula a mais. O ensino religioso já nasceu morto. Já a espiritualidade permanece viva, mas continua proibida aos tímidos, porém não aos atrevidos, pois o ambiente continua transbordando...

Em todas as sociedades humanas encontramos fartos exemplos da cultura espiritualista, geralmente camuflada em forma de mitos e metáforas. Essa tradição sempre foi explorada artisticamente pela literatura infanto-juvenil. Walt Disney levou essa cultura para o cinema, através do desenho animado, e até hoje a empresa que ele fundou mantém essa linha de conteúdos espiritualistas ou de forte reflexão existencial. No Brasil essa abordagem teve a preciosa contribuição do escritor Monteiro Lobato e também de um conhecido discípulo de Disney, o cartunista Maurício de Souza. Não podemos esquecer um importante aliado cultural, tipicamente brasileiro, a favor da educação para a espiritualidade. Aqui também aconteceu um fenômeno histórico que abriu definitivamente as portas para essa outra dimensão do universo, apesar do stablishment repressivo imposto pelo clero católico desde o período colonial, e também a pseudo-proibição “científica” do legalismo educacional. Trata-se da miscigenação racial e da mistura de crenças e costumes ocorridas em mais de 500 anos de história. Desse longo e intenso convívio entre índios, negros e brancos, ainda que pesasse o predomínio político do elemento europeu, resultou no campo da cultura espiritual o sincretismo religioso brasileiro, no qual herdamos do indígena e do africano as crenças mágicas das selvas: o curandeirismo natural e fraterno, as práticas medianímicas[2] e ritualísticas da comunicação com Espíritos ancestrais e finalmente, o misticismo simples e sincero do cristianismo praticado em Portugal. Costumamos exemplificar essa mistura irreversível de costumes no clima do carnaval, em cuja origem imaginamos o encontro “casual” da dança indígena, do lundu dos escravos e de uma procissão católica, formando uma apoteose cultural chamada Brasil. Tirando a irreverência e a falta de compromisso da festa carnavalesca, o que sobra é a espiritualidade primitiva praticada nos terreiros de candomblé - e mais recentemente da umbanda , onde Espíritos africanos e indígenas se confraternizam para orientar e proteger seus descendentes, credores e devedores, incluindo milhares de almas lusitanas que causaram danos a eles no período da escravidão colonial. Com a chegada do Espiritismo no século XIX, pela moda burguesa das mesas girantes[3]” trazidas de Paris por franceses que moravam no Brasil ou por brasileiros curiosos que lá estavam, esse contato com espiritualidade adquiriu novos ares de liberdade filosófica e ciência experimental, inclusive com a participação de sacerdotes católicos interessados pela nova revelação espiritual, na medicina homeopática e também no socialismo utópico. Estes últimos foram estimulados no Brasil pelas 200 famílias trazidas da França para instalar uma colônia fourrierista em Santa Catarina, em 1842. Como se sabe, os socialistas Fourrier e Saint-Simont, Robert Owen e o médico Benoit-Julles Mure [4](fundador da colônia catarinense) , eram espiritualistas e reencarnacionistas convictos. O próprio imperador Pedro II, que permitiu a vinda desses imigrantes franceses para o Brasil, era publicamente simpático a todas essas idéias. Por aí se vê que o nosso País possui longa tradição e tendência espiritualista.

Portanto, não é coincidência que nas salas de aula persistam, depois de tantos anos de modismo, as conhecidas brincadeiras do copo ou do lápis, onde se buscam respostas pelo contato com as forças “sobrenaturais”. Quando isso acontece em nossas aulas, nos aproximamos calmamente da turma para participar e orientar a brincadeira para rumos positivos e esclarecer que não há nada de sobrenatural, mas um diálogo possível e muito natural, desde que não seja fútil e desrespeitoso. Na última vez que assim fizemos, uma aluna muito rebelde e irreverente ( na época o pai dela estava preso), surpreendeu-se ao questionar a minha presença na roda. Perguntou ao Espírito se nós éramos do bem ou do mal. O lápis foi girado diversas vezes e sempre indicava o sentido o bem. Mesmo continuando irreverente e rebelde, a aluna mudou radicalmente o seu tratamento com a nossa pessoa , passando a ser mais receptiva e a retribuir as nossas demonstrações de carinho e sugestões de conduta. Numa calma noite de sono físico, dessas em que adormecemos profundamente, sem interrupção, fomos levados, em desdobramento, a um lugar escuro e assustador, onde havia estradas desertas e uma mata fechada, cercada por enormes barreiras de arame farpado. Lembramos-nos nitidamente de estar lá chamando essa aluna e algumas “amigas” desconhecidas, que corriam para a escuridão, dando muitas gargalhadas e atraídas por mentes obscuras, para retornar aos pontos de luz e de aprendizagem. Não foi sonho comum, pois era uma situação muito real e muito lógica, sem as características da manipulação mental do inconsciente. Tivemos a certeza de que era uma atividade de auxílio espiritual porque a nossa mãe carnal estava junto conosco e , no outro dia, sem saber do assunto, confirmou essa nossas “andanças” por esses planos baixos.

Mesmo que a repressão dogmática sacerdotal e o modismo promissor das igrejas evangélicas tentem ofuscar essa realidade, os brasileiros não têm como negar as suas raízes e suas tendências espiritualistas. O Brasil será, em breve a maior nação reencarnacionista do planeta. O Espírito Emmanuel, mentor do médium Chico Xavier, em suas famosas mensagens do Além, afirmou que no século XX mais de vinte milhões de almas francesas e européias, muitos dos quais militavam nos milhares de núcleos kardecistas daquele continente, hoje extintos, reencarnaram no Brasil. Isso explica porque os brasileiros, mesmo sendo socialmente adeptos de outras religiões, são simpáticos ao universo cultural espírita. Quando olhamos nas atitudes simples e alegres e nos olhos dos nossos alunos (mulatos, cafuzos, mamelucos e uma grande maioria de pardos) enxergamos nitidamente o brilho da espiritualidade dos seus antepassados. Mesmo nas igrejas protestantes já não se contém mais essa grande força cultural brasileira, adotando-se nelas as práticas de terreiros (os trajes brancos e os banhos de descarrego do candomblé e da umbanda), a doutrinação de Espíritos revoltados e as obras de caridade dos centros kardecistas. Nunca esquecemos de uma cena que ilustra bem essa marca da nossa cultura. Quando cursávamos o antigo Colegial numa escola do litoral, víamos sempre duas amigas adolescentes se dirigirem para a praia, enquanto uma, de origem africana, entrava no mar para fazer uma oferenda com flores, a outra, branca e provavelmente católica, aguardava na calçada, o retorno feliz da amiga, por ter cumprido sua obrigação religiosa. É assim que, provavelmente, no ambiente escolar, certamente encontramos essa espiritualidade plural formada por anjos, orixás, pretos-velhos, caboclos, Espíritos de luz, espíritos santos, enfim, inteligências de outros planos e dimensões, sempre atentas e vigilantes quanto aos destinos dos seus entes tutelados encarnados.

Nas relações entre o Espiritismo e o Cristianismo, bem como entre o Brasil e a França, emergiu outro importante fator histórico: a heresia. Os dois países são respectivamente o berço e a florescência da heresia cristã, através do cristianismo de Lyon, considerado o mais puro e fiel aos tempos apostólicos, recusando terminantemente a idéia política do papado e o materialismo das religiões de Estado; e mais tarde do Espiritismo, pois Allan Kardec era lyonês e, mesmo não sendo criado naquela região, definiu o grupo espírita da sua cidade natal como o mais sintonizado com esse advento histórico da 3ª Revelação. Nessa perspectiva histórica, as três grandes revelações espirituais para a humanidade foram revolucionárias e heréticas em relação às tradições dominantes: o monoteísmo mosaico, com os Dez Mandamentos; o Evangelho Crístico, com o Sermão da Montanha; e a Doutrina dos Espíritos, com a falange encarnada e desencarnada do Espírito Verdade, conforme a promessa de Jesus sobre o Consolador ou o Paracleto, no relato do apóstolo João (14 e 15 ). O Brasil também vai ser o palco mais prolífico da heresia cristã, ou seja, o cultivo da autonomia e das raízes mais remotas do cristianismo primitivo, que praticava a mediunidade (profetização) nos ágapes dominicais e aceitava naturalmente a reencarnação. Para a ortodoxia católica e protestante ,ideologicamente já corrompida e conivente com as superstições populares, a heresia é um vírus ideológico, uma inimiga da fé e da filosofia cristãs. É vista como um pecado e é atribuída ao mito de Satanás. Para os espíritas, ao contrário, a heresia, que em grego significa liberdade de pensamento e expressão, é um anticorpo que combate os inúmeros riscos de contaminação e desvios da ética do Cristo. Historicamente, a heresia sempre surgiu nos momentos em que a fé cristã sofreu abusos por parte do clero e do Estado. Mesmo que a suas manifestações parecessem incultas e exóticas, eram na verdade contextualmente proporcionais aos desvios, cujos abusos também lhes pareciam exóticos e completamente fora do normal. Aliás, as acusações de heresia, como se esta fosse algo sujo, imundo, profano, imoral, partiu sempre daqueles núcleos clericais corrompidos, antros de moralismo, ambição de riqueza e poder, onde se escondiam as mais terríveis perversões ideológicas contra o Evangelho. Este, sim, foi o espírito demoníaco, instaurado, por exemplo, pela Inquisição e seus tribunais sinistros, que sustentavam criminosamente os títulos de santidade. Este é o espírito das trevas que tenta seduzir, viciar e aterrorizar o povo com falsos milagres, mil promessas e terríveis ameaças através das teologias da prosperidade material e salvação da própria pele. Já o Evangelho autêntico abre os olhos aos cegos, ilumina os caminhos, dissipa as trevas, confunde os orgulhosos e glorifica os justos. Foi esse espírito da heresia que animou homens corajosos como Agostinho, Francisco de Assis, Tereza D’ Ávila, Jan Huss e Martinho Lutero, desafiando os abusos religiosos e mostrando o caminho correto da religiosidade.

Voltando ao que pode ou o que não pode na escola, não existe proibição ou impedimento legal para abordar o tema espiritualidade no ambiente escolar. O Estado é leigo e não existe de fato, desde a proclamação da República, uma religião oficial no Brasil. O que existe é uma recomendação ética sobre o proselitismo ofensivo e a imposição de idéias que agridam a liberdade de pensamento e de culto na sociedade. Isso quer dizer que, por mais correto e legítimo que seja, qualquer tentativa de oficializar ou legalizar essa prática representaria um verdadeiro desastre nos propósitos de alertar e esclarecer as pessoas sobre a realidade espiritual. Outro fator agravante é que, num ambiente predominantemente intelectual, a diversidade de condições de maturidade espiritual indica que nem todas as mentes estão preparadas para conhecer certas verdades e que é necessário aguardar o momento certo, a oportunidade mais adequada. E isto não pode e nem deve fazer parte de planejamentos escritos e previsíveis. O setor da mente humana que está aberto para essas informações é imprevisível (ver a Parábola do Semeador) e a didática que servirá de veículo para elas deve ser regida pelo fator intransitivo, ou seja, quem decide não é o educador e sim o educando. Então, as coisas espirituais, ao contrário das coisas intelectuais explícitas, serão ensinadas nas entrelinhas implícitas do currículo, nem na linha vertical, muito menos na horizontal. Ela vai acontecer, como a própria mediunidade entre Espírito e Matéria, no plano transversal. Embora os temas transversais sejam previstos nos PCN[5], a nossa abordagem não deve, ao nosso ver, em momento algum ser formalizada, muito menos oficializada. Essa transversalidade é essencialmente informal, é de momento, repente criativo, insight, plantada em doses moderadas de semente e adubo, até que aconteça, de acordo com as condições de fertilidade e natureza do solo (aluno) a germinação. Somente depois dessa fase quantitativa e primitiva da agronomia metafísica e que ocorre a aprendizagem qualitativa, desenvolvida gradualmente num processo educacional iniciático, o conhecido “segredo” entre mestres e discípulos. “Quê! Sois mestres em Israel e não sabes dessas coisas!”, espantou-se Jesus com Nicodemos ao constatar que o sacerdote ignorava essa óbvia diferença entre saber e ensinar as coisas da matéria e as coisas do espírito. Nesse diálogo clássico da andragogia, Jesus revela um segredo para Nicodemos e o alerta sobre a responsabilidade da posse e da transmissão do conhecimento.

In Espíritos nas Escolas

Notas
[1] Nos EUA, país de alto nível científico e tecnológico, paradoxalmente, encontra-se inúmeras comunidades fundamentalistas, freqüentadas por pessoas de boa formação intelectual e que estimulam a mistificação de temáticas científicas. Recentemente foi criado um museus do criacionismo, com um falso discurso científico, colocando no mesmo patamar de crenças as pesquisas acadêmicas e a ideologia bíblica herdada dos hebreus.
[2] Qualidade da faculdade dos médiuns, permitindo a esses o exercício intermediário entre os Espíritos e os homens.
[3] O grande escritor francês Victor Hugo e sua amiga George Sand, companheira de Chopin, foram célebres praticantes desses contatos com Espíritos. Sand era também amiga do casal de professores Amélie Boudet e Rivail Hypolité, mais tarde famoso pelo pseudônimo Allan Kardec. Rivail foi aluno e substituto de J.H. Pestalozzi no Instituto de Yverdon, na Suíça.
[4] O Dr. Mure fundou a primeira escola de medicina homeopática no Brasil, praticava curas com passes magnéticos e era adepto das idéias educativas progressistas de Emilien Jacotot.
[5] Parâmetros Curriculares Nacionais, que são indicadores de objetivos, conteúdos e práticas de ensino a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Um desses objetivos diz claramente: “Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sócio-cultural brasileiro, bem como aspectos sócio-culturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais”. MEC, Brasília, 1998.


A relação entre a Humanidade e o planeta Terra sempre foi objeto de reflexão e questionamento e isto pode ser comprovado através das chamadas cosmogonias, isto é, as diferentes visões de mundo que Homem desenvolveu ao longo da História.

A concepção Geocêntrica dos povos antigos via a Terra como uma coisa única, plana, pedra bruta a ser lapidada pela conquista de espaço horizontal. Nos tempos modernos, por influência da concepção heliocêntrica, a Terra passa a ser vista na perspectiva da esfericidade plural do sistema solar, despertando expectativas científicas, reações dogmáticas e novas ações políticas de expansão territorial.

E, por influência da era cientifica contemporânea, surge a concepção da cosmocomplexidade, visão revolucionária que abandona a visão centralista para ampliar ainda mais as perspectivas e expectativas humanas sobre o ser e o futuro do planeta. Tal visão mostra a pluralidade e a diversidade do Universo e o planeta como um ponto quase insignificante entre bilhões de astros e galáxias. Porém, desperta a idéia ecológica de que a Terra é um organismo vivo, dinâmico, cujos ciclos de transformação endógena e exógena estão estreitamente ligados aos processos mentais das civilizações. A cosmocomplexidade gera então a visão e a ação da sustentabilidade, resistindo aos intensos processos de destruição e risco de extinção planetária.

sábado, 6 de dezembro de 2008

A famosa entrevista do Padre Gino Concetti


Publicada inicialmente no “Osservatore Romano”; no jornal suiço “Ansa”, em novembro de 1996; traduzido do italiano para o francês por Pierre R. Théry, e para o português por Terezinha Rey, publicada no jornal “A Flama Espírita”, São Paulo, junho de 1997.




A entrevista circulou em inúmeras publicações espíritas na década passada e revela o pouco avanço que as religiões dogmáticas tiveram em relação ao conhecimento e ao paradigma espíritas. Nela o padre Gino Concetti faz algumas afirmações sobre alguns conceitos espíritas, já adaptados para o catecismo moderno da Igreja. São teorizações absurdas e até infantis, que navegam entre, não se sabe ao certo, a ingenuidade e a dissimulação, defendendo a idéia de que o Plano Divino Universal é uma espécie de empresa organizada nos moldes humanos, com chefes, gerentes, departamentos, regras, etc. Não dá para perceber se realmente trata-se de uma crença por parte de quem fala ou se é uma instrução codificada para convencer e manipular adeptos ainda inseguros sobre essas realidades:


Pergunta: - O senhor pode nos explicar essa nova concepção teológica, como as comunicações com o Mais Além?

Resposta: Tudo parte da constatação que a Igreja é o único organismo do qual Jesus Cristo é o chefe. Esse organismo é composto dos vivos, quer dizer, tanto os fiéis sobre a Terra como os falecidos, que sejam beneficiados, e os santos que estão na paz do Espírito no Paraíso, como as almas que devem expiar seus pecados no Purgatório. Essas dimensões não somente estão unidas a Jesus, segundo o conceito da “Comunhão dos Santos”, mas estão reunidas juntas. O que significa que uma comunicação é possível.


Pergunta: - Segundo a Doutrina Católica, como se produzem os contatos?

Resposta: As palavras podem nos chegar não através das palavras e dos sons, quer dizer, como os meios normais dos seres humanos, mas através de sinais diversos: por exemplo, pelos sonhos que às vezes são premonitórios ou através de impulsões espirituais que penetram nosso Espírito – impulsões que podem transformar-se em visões e conceitos.

Pergunta: - Todas as pessoas podem ter essas percepções?

Resposta: Aquelas que captam mais freqüentemente esses fenômenos são mais sensitivas, isto é, pessoas que têm uma sensibilidade superior em relação a esses sinais ultraterrestres. Eu me refiro aos clarividentes e aos médiuns. Mas as pessoas normais podem ter algumas percepções extraordinárias, um sinal estranho, uma iluminação repentina. Ao contrário das pessoas sensitivas, podem, raramente, conseguir interpretar o que se passa com elas em seu foro interior.

Pergunta: - Para interpretar esses fenômenos, a Igreja lhes permite recorrerem aos chamados sensitivos e aos médiuns?

Resposta: - Sim, a Igreja permite recorrer as essas pessoas particulares, mas com uma grande prudência e sob certas condições. Os sensitivos aos quais podem pedir assistência devem ser pessoas que levem suas experiências, mesmo aquelas com técnicas modernas, inspirando-se na fé. Se essas últimas forem padres, será ainda melhor. A Igreja interdita todos os contatos dos fiéis com aqueles que se comunicam com o Mais Além, praticando a idolatria, a evocação dos mortos, a necromancia, a superstição e o esoterismo. Todas as práticas ocultas que incitem à negação de Deus e dos Sacramentos.

Pergunta: - Com que motivações um fiel pode encetar um diálogo com os falecidos?

Resposta: - É necessário não se aproximar muito do diálogo com eles, a não ser nas situações de grande necessidade. Alguém que perdeu, em circunstâncias trágicas, familiares e não se resigna com a idéia de seu desaparecimento. Ter um contato com a alma de tais entes queridos pode aliviar um Espírito perturbado por esse drama. Pode-se, igualmente, dirigir-se aos falecidos sem a necessidade de resolver um grave problema de vida. Nossos antepassados, em geral, nos ajudam e nunca nos enviarão mensagens contra nós mesmos ou contra Deus.

Pergunta: - Que atitudes convém evitar durante os contatos mediúnicos?

Resposta: - Não se pode brincar com as almas dos falecidos. Não se pode evocá-las por motivos fúteis para obter, por exemplo, um número de sorteio. Convém também ter grande discernimento a respeito dos sinais do Mais Além e não muito ‘enfatizá-los’. Arriscar-se-ía a cair na mais suspeita e excessiva credulidade. Antes de mais nada, não se pode abordar o fenômeno da mediunidade sem a força da fé. Arriscar-se-ia a perder o equilíbrio psíquico e mergulhar, inteiramente, na possessão demoníaca. Os padres exorcistas continuam a assinalar milhões de casos de pessoas dominadas pelo demônio por ocasião de sessões de Espiritismo.”



Aqui percebemos que a Igreja Católica já se apropria, explicitamente, de conceitos doutrinários espíritas que antes eram sistematicamente condenados e rejeitados. Tudo indica que ela tem planos de, futuramente, admitir o Espiritismo, porém com absoluto controle sobre os adeptos. Mesmo o argumento bíblico contido no Deuteronômio (18, 10), no qual Moisés proíbe essa prática, largamente utilizado nos catecismos, já está sendo colocado de lado para justificar essa histórica necessidade profissional e institucional de exercer e manter o monopólio clerical na comunicação com Deus e com os mortos. O aspecto inegavelmente liberal do Espiritismo, como prática privativa familiar ou socialmente pública, ainda é um estorvo para a Igreja. O único jeito de modificar tal situação seria então clericalizar esse processo livre de comunicação e expressão. Admitir o Espiritismo não significa adotá-lo como doutrina independente, mas aproveitar seus princípios que são convenientes, como foi feito com o Cristianismo e inúmeras práticas religiosas da Antiguidade. A intenção é sempre manter o Espiritismo como doutrina inimiga, herética e perigosa, porém explorando sua riqueza de idéias através dos tradicionais elementos manipuladores.


In Nova História dos Espiritismo - Editora Corifeu

Valentim Lorenzetti : 1938-1990


Quem conheceu o CVV nos primeiros tempos e acompanhava suas campanhas publicitárias pela TV e mídia impressa logo aprendeu a associar a entidade ao velho telefone preto e à logomarca que funcionou nos primeiros anos de atuação: uma bóia salva-vidas. A mudança dessa imagem foi sugerida pelo jornalista Valentim Lorenzetti, cuja percepção aguçada e cuidadosa logo compreendeu a enorme dimensão social daquele trabalho de prevenção do suicídio. Quando o CVV deixou de ser espírita e passou a ser uma instituição areligiosa muitos militantes da doutrina se afastaram da entidade, certamente frustrados por não poderem mais fazer proselitismo doutrinário aos atendidos. A compaixão pelos suicidas que não aceitavam a doutrina espírita como filosofia de vida falou mais alto. Valentim Lorenzetti sugeriu também que essa mudança fosse acompanhada pela troca da logomarca, adotando-se um coração em formato de telefone. Questionado sobre essa mudança, ele explicou que nenhum voluntário, muito menos uma instituição com tamanha responsabilidade poderia ter essa pretensão salvacionista. Qualquer mudança de atitude deveria partir sempre de quem está recebendo ajuda e nunca, em hipótese alguma, por quem está oferecendo ajuda. Isso é básico na educação e no humanismo. Muitos suicidas procuram o CVV porque sabem que os voluntários, embora humanamente discordando, respeitam profundamente seus sentimentos auto-destrutivos.


Quem foi Valentim Lorenzetti

O fundador da LVBA Comunicação é, até os dias de hoje, uma referência quando o assunto é integridade e ética. Foi um homem que se destacou não somente como profissional mas, sobretudo, como ser humano. Filho de imigrantes italianos, passou a infância e a adolescência no interior do estado de São Paulo. Nasceu e viveu, até concluir o primeiro grau, em Ribeirão Bonito. Foi para Araraquara a fim de concluir seus estudos e cursar o segundo grau.

Aos 18 anos veio para São Paulo em busca de um sonho: estudar Medicina. E, para isso, era preciso ter recursos, pois se tratava de um curso caro. Como sempre se destacou no estudo da língua portuguesa, assim que chegou em São Paulo, em 1957, conseguiu o emprego como revisor no jornal Folha de S. Paulo. Logo nesta época, percebeu que sua real vocação era o Jornalismo. Só saiu da Folha de S. Paulo em 1968 quando respondia, há praticamente dois anos, pela Chefia de Reportagem.

Era apaixonado pelo Jornalismo e muito crítico com relação à postura - muitas vezes fria - da maior parte dos colegas. Tinha um carinho especial pelas histórias humanas. Adorava os personagens que entravam na redação durante os plantões de finais de semana para contar histórias, chorar ou, simplesmente, compartilhar alegrias. Abrir mão do Jornalismo, só mesmo por um novo desafio. E foi assim que Valentim saiu da Folha de São Paulo e foi conhecer uma nova profissão. Em 1968, aceitou o convite para fazer parte do departamento de Relações Públicas da J. Walter Thompson, com o cargo de assistente de redação. Da JWT desligou-se em 1976, quando então respondia pela direção do departamento de Relações Públicas, para fundar sua própria empresa - a LVBA Comunicação e Propaganda Ltda.

O Jornalismo ele nunca abandonou e, contrário à maioria de seus amigos, sua aposentadoria seria na máquina de escrever. Para que isso fosse possível ele sabia era necessário profissionalizar a gestão da LVBA.

Contrariando o que o mercado praticava naquele momento, em 1986, durante as comemorações dos dez anos da LVBA, Valentim anunciou a criação do cargo de Diretor Executivo e nomeou Flavio Valsani, profissional que estava na LVBA já há nove anos. Desta forma, Valentim delegou a Flavio a função de principal executivo para que ele, com o tempo, pudesse se dedicar mais à consultoria e à redação. Mais tarde, em 1990, satisfeito com o rumo da profissionalização que conduziu, novamente inovou. Em reconhecimento à dedicação e ao empenho de Flavio Valsani e de João Aliotti, Diretor Administrativo-Financeiro desde o nascimento da LVBA, transformou-os em seus sócios.

Os laços de Valentim com o Jornalismo sempre foram muito fortes. Manteve, de 1970 a 1984, uma coluna sobre Espiritismo no jornal Folha da Tarde. Ser espírita, naquela época, era muito diferente do que é hoje. Havia muita confusão sobre o que é espiritismo e o que são as outras religiões, muitas vezes fruto do sincretismo religioso. Além disso, havia um certo preconceito em se assumir publicamente como praticante dessa religião. Valentim nunca se preocupou com isso. Muito pelo contrário. Além de pregar a liberdade de credo e de expressão, acreditava que tinha a obrigação de usar seu talento na difusão dos verdadeiros conceitos sobre o espiritismo. Em 1982, fez uma coletânea das crônicas publicadas até aquele ano e editou o livro Caminhos de Libertação.

Ainda no campo pessoal, foi um iniciadores do CVV - Centro de Valorização da Vida, entidade que trabalha na prevenção do suicídio e foi, durante muitos anos, responsável pela difusão e comunicação desta entidade. Além da LVBA, da religião, do CVV, da Clínica Psiquiátrica mantida pelo CVV em São José dos Campos, ele sempre trabalhou ativamente em entidades da área de Comunicação. Foi da diretoria do CONRERP (Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas) e da APP (na época, Associação Paulista de Propaganda). Seu último cargo foi como presidente do CONFERP - Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas.

Na área de Relações Públicas, certamente uma das mais importantes ações do Valentim foi a criação e fundação da ABERP - Associação Brasileiras das Empresas de Relações Públicas, em 1983. Trata-se do maior avanço pelo qual passou o mercado de empresarial de Relações Públicas no país, já que a entidade foi responsável pela definição de parâmetros que permitiram que a boa conduta profissional deixasse de ser um atributo subjetivo. Esta iniciativa foi reconhecida pelo mercado e, em dezembro de 1983, ele recebeu, do Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas de São Paulo, o Prêmio Opinião Pública, na categoria Prêmio Especial - categoria especialmente instituída para homenageá-lo pela criação da ABERP.

Em 1990, vítima de câncer, Valentim Lorenzetti morreu. Não sem antes registrar a sua visão, inovadora e ousada. Em 1989, enviou a toda a equipe da LVBA um memorando que se tornou uma das principais marcas da empresa:

"Se todos os sonhos se transformarem em realidade é sinal que você parou de crescer. Que haja sempre lugar para um sonho a mais em seu coração. Obrigado pelos sonhos que movem a LVBA"

Fonte: site da LVBA