sábado, 31 de maio de 2008

O Duelo

Duelo à pistola no Monsanto, Portugal. Primavera de 1909, o juiz (conde de Penha Garcia) e os quatro padrinhos (conselheiros do reino), preparam as pistolas para os dois ilustres (e honrados) deputados da nação (Afonso de Espregueira e Caeiro da Mata), travarem um duelo (proibido por lei), na tentativa de resolver, de uma vez por todas, as insanáveis querelas parlamentares entre ambos



De que vale um duelo senão exaltar o orgulho e a suprema ignorância diante das verdades da Vida e da Natureza? Se os dualistas conhecessem e aceitassem a imortalidade, bem como a reencarnação, certamente perceberiam a estupidez dessa atitude. Nas paragens obscuras do mundo espiritual essa prática selvagem parece continuar a divertir os Espíritos que ainda não passaram pelas experiências libertadoras de caírem em si. Ali, como se sabe, os inimigos dão seqüência a sinistras querelas, destruindo-se perispiritual e mutuamente, numa horrível troca e simbiose de energias negativas, cena avidamente acompanhada pelas multidões afins composta de infelizes que se deliciam com a desgraça alheia.



O LIVRO DOS ESPÍRITOS - LIVRO 3, CAP. 6


757. O duelo pode ser considerado como um caso de legítima defesa?

-- Não; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Numa civilização mais avançada e mais moral o homem compreenderá que o duelo é tão ridículo quanto os combates antigamente encarados como "o juízo de Deus".

758. O duelo pode ser considerado como um assassínio por parte daquele que, conhecendo a sua própria fraqueza, está quase certo de sucumbir?

-- É um suicídio.

758-a. E quando as probabilidades são iguais, é um assassínio ou um suicídio?

-- É um e outro.


Em todos os casos, mesmo naqueles em que as possibilidades são iguais, o duelista é culpável porque atenta friamente e com propósito deliberado contra a vida de seu semelhante. Em segundo lugar, porque expõe a sua própria vida inutilmente e sem proveito para ninguém.

759. Qual o valor do que se chama o ponto de honra em matéria de duelo?

O do orgulho e da vaidade, duas chagas da Humanidade.

759-a. Mas não há casos em que a honra está verdadeiramente empenhada e a recusa seria uma covardia?

-- Isso depende dos costumes e dos usos. Cada país e cada século tem a respeito uma maneira diferente de ver. Quando os homens forem melhores e moralmente mais adiantados, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando ou se fazendo matar que se repara uma falta.

Há mais grandeza e verdadeira honra em se reconhecer culpado, quando se erra; ou em perdoar, quando se tem razão; e em todos os casos, em não se dar importância aos insultos que não podem atingir-nos.

Dissertações no Evangelho Segundo o Espiritismo

ADOLFO - Bispo de Alger, Marmande, 1861

12 – Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que tem um destino certo, não se incomoda com as asperezas do caminho, não se deixa desviar nem por um instante da rota certa. De olhos fixos no seu objetivo, pouco se importa de que os obstáculos e os espinhos da senda o ameacem; estes apenas o roçam, sem o ferirem, e não o impedem de avançar. Arriscar os dias para vingar uma ofensa é recuar diante das provas da vida; é sempre um crime aos olhos de Deus; e, se não estivésseis tão enleados, como estais, nos vossos preconceitos, seria também uma ridícula e suprema loucura aos olhos dos homens.

É criminoso o homicídio por duelo, o que a vossa própria legislação reconhece. Ninguém tem o direito, em caso algum de atentar contar a vida de seu semelhante. Isso é um crime aos olhos de Deus, que vos determinou a linha de conduta. Nisto, mais que em qualquer outra coisa, sois juízes em causa própria. Lembrai-vos de que vos será perdoado segundo tiverdes perdoado. Pelo perdão vos aproximais da Divindade, porque a clemência é irmã do poder. Enquanto uma gota de sangue correr na Terra pelas mãos dos homens, o verdadeiro Reino de Deus ainda não terá chegado, esse reino de pacificação e de amor, que deve banir para sempre do vosso globo a animosidade, a discórdia e a guerra. Então, a palavra duelo não mais existirá na vossa língua, senão como uma longínqua e vaga recordação do passado: os homens não admitirão entre eles outro antagonismo, que a nobre rivalidade do bem.

SANTO AGOSTINHO - Paris, 1862

12 – O duelo pode, sem dúvida, em certos casos, ser uma prova de coragem física, de menosprezo pela vida, mas é incontestavelmente uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida: o duelista não a tem para suportar as ofensas. Cristo não vos disse que há mais honra e coragem em oferecer a face esquerda a quem vos feriu a direita, do que em se vingar de uma injúria? Cristo não disse a Pedro, no Jardim das Oliveiras: “Embainhai de novo a vossa espada, pois aquele que mata pela espada perecerá pela espada?” Por essas palavras, Jesus não condenou o duelo para sempre? Com efeito, meus filhos, que coragem é essa, que brota de um temperamento violento, pletórico e furioso, bramindo à primeira ofensa? Onde está a grandeza de alma daquele que, à menor injúria, quer lavá-la em sangue? Mas que trema, porque sempre, do fundo da sua consciência, uma voz lhe gritará: Caim! Caim! Que fizeste de teu irmão? Ele responderá: Foi necessário o sangue para salvar minha honra! Mas a voz replicará: Quiseste salvá-la perante os homens nos breves instantes que te restavam na Terra, e não pensaste em salvá-la perante Deus! Pobre louco, que não vos pediria então o Cristo, por todos os ultrajes que lhe tendes feito? Não somente o feristes com os espinhos e a lança, não somente o erguestes num madeiro infamante, mas ainda, em meio de sua agonia, pode ele ouvir as zombarias que lhe prodigalizastes. Que reparações vos pediu ele, depois de tantos ultrajes? O último gemido do cordeiro foi uma prece pelos seus algozes. Oh, como ele, perdoai e orai pelos que vos ofendem!

Amigos, lembrai-vos deste preceito: Amai-vos uns aos outros, e então, ao golpe do ódio respondereis com um sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo sem dúvida se erguerá furioso e vos chamará de covarde: erguei a fronte bem alta e mostrai, então, que a vossa fronte também não recearia ser coroada de espinhos, a exemplo do Cristo, mas que a vossa mão não quer participar de um assassinato autorizado, podemos dizer, por uma falsa aparência de honra, que nada mais é senão orgulho e amor próprio. Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, pois só deu esse direito à natureza, para se reformar e se refazer. Mas a vós, nem sequer permitiu dispordes de vós mesmos. Como o suicida, o duelista estará marcado de sangue quando comparecer perante Deus, e a um como a outro, o soberano Juiz reserva rudes e longos castigos. Se ameaçou com a sua justiça àqueles que dizem racca a seus irmãos, quanto mais severa não será a pena reservada àquele que comparecer diante dele com as mãos sujas do sangue de um irmão!


UM ESPÍRITO PROTETOR - Bordeaux, 1861


13 – O duelo, como o que outrora se chamava Juízo de Deus,é uma dessas instituições bárbaras que ainda regem a sociedade. Que diríeis, entretanto, se vísseis os dois antagonistas mergulharem na água fervente ou sujeitarem-se ao contato do ferro em brasa, para decidir a sua disputa, dando razão ao que melhor se saísse da prova? Chamaríeis de insensatos a esses costumes. Pois o duelo é ainda pior que tudo isso. Para o duelista emérito, é um assassinato cometido a sangue frio, com toda a premeditação desejada, porque está seguro do golpe que irá desferir; para o adversário, quase certo de sucumbir, em virtude de sua fraqueza e de sua inabilidade, é um suicídio, cometido com a mais fria reflexão.

Bem sei que muitas vezes procura-se evitar essa alternativa, igualmente criminosa, recorrendo-se ao azar. Mas isso não é, embora sob outra forma, uma volta ao juízo de Deus da Idade Média? E lembre-se que, naquela época, era-se infinitamente menos culpado. O próprio nome de Juízo de Deus revela uma fé ingênua, é verdade, mas sempre uma fé na Justiça de Deus, que não poderia deixar sucumbir um inocente, enquanto no duelo tudo se entrega à força bruta, de tal maneira que é freqüente sucumbir o ofendido.

Oh, estúpido amor próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela caridade cristã, pelo amor do próximo e a humildade, de que o Cristo nos deu o exemplo e o ensino? Somente então desaparecerão esses preconceitos monstruosos que ainda dominam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir. Porque não é suficiente proibir o mal e prescrever o bem, é necessário que o princípio do bem e o horror do mal estejam no coração do homem.

FRANCISCO XAVIER - Bordeaux, 1861

14 – Que pensarão de mim, dizeis freqüentemente, se me recusar à reparação que me pedem, ou se eu não a pedir àquele que me ofendeu? Os loucos, como vós, os homens atrasados, vos censurarão; mas os esclarecidos pela flama do progresso intelectual e moral, dirão que agis segundo a verdadeira sabedoria. Refleti um pouco: por uma palavra, dita muitas vezes sem intenção, ou inteiramente inofensiva, por um de vossos irmãos, vosso orgulho se fere, respondeis de maneira áspera, e a provocação está feita. Antes de chegar ao momento decisivo, perguntai se estais agindo como cristão. Que contas prestareis à sociedade, se a privardes de um de seus membros? Pensai no remorso de haver roubado a uma mulher o seu marido, à mãe o seu filho, aos filhos o pai e com ele o seu sustento!

Certamente, aquele que ofendeu deve uma reparação. Mas não é muito mais honroso dá-la espontaneamente, reconhecendo os seus erros, do que expor a vida daquele que tem o direito de queixar-se? Quanto ao ofendido, convenho que pode, às vezes, sentir-se gravemente atingido, seja na sua própria pessoa, seja em relação aos que lhes são caros. Não é somente o amor próprio que está em causa; o coração foi magoado e ele sofre. Mas, além de ser estúpido jogar a vida contra um miserável capaz de infâmias, mesmo que mate a este, por acaso a afronta não subsiste, seja qual for? O sangue derramado não provocará maior alarde sobre um fato que, se falso, deve desaparecer por si mesmo, e se verdadeiro, deve ocultar-se no silêncio? Só restaria, pois, a satisfação da vingança praticada, triste satisfação que, freqüentemente, já nesta vida, deixa causticantes remorsos! E se for o ofendido quem sucumbe, onde está a reparação?

Quando a caridade for à regra de conduta dos homens, eles conformarão os seus atos e as suas palavras a esta máxima: Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam. Então, sim, desaparecerão todas as causas de discórdias, e com elas, as causas dos duelos e das guerras, que são duelos entre povos.

AGOSTINHO -Bordeaux, 1861

15 – O homem do mundo, o homem feliz, que, por uma palavra ofensiva, um motivo fútil, joga a vida que Deus lhe deu e joga a vida do seu semelhante, que só pertence a Deus, esse é cem vezes mais culpado que o miserável que, levado pela cobiça, e às vezes pela necessidade, introduz-se numa casa para roubar e mata o que tenta impedi-lo. Porque este é quase sempre um homem sem educação, com imperfeitas noções do bem e do mal, enquanto o duelista pertence geralmente à classe mais esclarecida. Um, mata brutalmente, o outro, com método e cortesia, o que faz a sociedade desculpá-lo. Acrescento mesmo que o duelista é infinitamente mais culpado que o infeliz que, cedendo a um sentimento de vingança, mata num momento de desespero.

O duelista não tem por desculpa o arrastamento da paixão, porque entre o insulto e a reparação sempre a tempo de refletir. Ele age, pois, fria e premeditadamente. Tudo é calculado e estudado, para matar com segurança o seu adversário. É verdade que expõe também a sua vida, e é isso o que justifica o duelo aos olhos do mundo, que o considera como ato de coragem e desapego à vida. Mas haverá realmente coragem, quando se está seguro de si mesmo? O duelo, resto dos tempos de barbárie, quando a lei era o direito do mais forte, desaparecerá com uma apreciação mais sã do verdadeiro problema da honra, à medida que o homem adquirir uma fé mais ardente na vida futura.

16 – NOTA - Os duelos se tornam cada vez mais raros, e se ainda vemos, de tempos a tempos, dolorosos exemplos, o seu número não pode ser comparado ao de outrora. Um homem não saía de casa, antigamente, sem prever um encontro, tomando sempre as precauções necessárias. Um sinal característico dos costumes do tempo e dos povos era o uso do porte habitual, ostensivo ou disfarçado, de armas ofensivas e defensivas. A abolição desse uso revela o abrandamento dos costumes, e é curioso seguir-se a sua graduação, desde a época em que os cavaleiros só saíam com armaduras de ferro e lança em punho, até o simples uso da espada, que depois se tornou mais num ornamento, num acessório de uniforme, do que arma agressiva. Outro sinal do abrandamento dos costumes é que, antigamente, os combates pessoais se davam em plena rua, diante da turba, que se afastava para deixar livre o campo, e hoje se ocultam. A morte de um homem é hoje um acontecimento que provoca comoção: antigamente, não se lhe dava atenção. O Espiritismo extinguirá esses derradeiros vestígios da barbárie, ao inculcar nos homens o senso da caridade e da fraternidade.

domingo, 25 de maio de 2008

Psicografia e Justiça

Editorial ideológico

Um editorial do jornal o Estado de São Paulo (de 25/05/2008) faz severas críticas ao uso da psicografia nos tribunais, alegando principalmente o caráter laico do Estado e a autoridade positiva da ciência. Sobre o caráter laico do Estado concordamos plenamente com o jornal, mas quando se trata de defender a ciência positiva como autoridade absoluta e “última palavra” em sinônimo e referencial da verdade, não dá para aceitar. Realmente tem havido abusos e exibicionismos no trato com essas questões jurídicas, esquecendo-se que os casos clássicos tinham elementos irrefutáveis e que desafiavam a lógica e a jurisprudência. Não é a mensagem psicográfica em si (objeto) , nem o meio (médium) que possui valor de verdade, mas a essência e a revelação de evidências incontestáveis e não incluídas nos inquéritos. Negar essas evidências é ser tão cego e dogmático quanto aceitar tais provas sem submetê-las ao crivo da razão. Antes de fazer qualquer avaliação precipitada sobre o assunto, este jornal deveria se informar melhor sobre a história e o caráter desse tema para poder melhor formar sua opinião e informar os leitores. Estamos diante de um desafio de paradigmas onde não podemos nos render ao comodismo nem nos intimidar com a reação. É preciso ter bom senso.


O editorial - O espiritismo nos tribunais


Sob a justificativa de tornar a Justiça "mais sensível às questões humanitárias" e discutir questões morais como aborto, eutanásia, pena de morte e pesquisas de células-tronco, um grupo de delegados de polícia, advogados, promotores, procuradores e juízes acaba de criar a Associação Jurídico-Espírita de São Paulo (AJE), com cerca de 200 filiados. Entidades semelhantes já existem no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo e a maior delas é a Associação Brasileira de Magistrados Espíritas (Abrame), que reúne 700 juízes, desembargadores e até mesmo ministros de tribunais superiores.


Para essas entidades, aplicar o direito é "missão de vida" e nada impediria os juízes de embasar suas decisões em princípios religiosos. "O Estado é laico, mas as pessoas não. Não tem como dissociar e dizer: vou usar a minha fé só dentro do centro espírita", diz o promotor Tiago Essado, um dos fundadores da AJE. "Não enxergaria nenhuma diferença entre uma declaração feita por mim e uma declaração mediúnica, que foi psicografada por alguém", afirma Alexandre Azevedo, juiz-auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça. "Não acredito em acaso, mas numa ordem que rege o universo, acredito em leis universais", endossa o juiz Jaime Marins Filho. É preciso "questionar os poderes constituídos para que o direito e a Justiça sofram mais de perto a influência de espiritualizar", conclui o juiz federal Zalmino Zimmermann, presidente da Abrame.


Entre as propostas defendidas por essas entidades está a utilização de declarações e cartas psicografadas por médiuns espíritas nos tribunais como prova material ou documental inclusive em casos de homicídio. O problema é que, além de essas medidas não terem qualquer comprovação científica, elas comprometem a certeza jurídica e a própria objetividade das decisões judiciais. Acima de tudo, essas medidas colidem com o princípio do Estado laico, que enfatiza a separação entre o poder público e a religião e o prevalecimento do rigor lógico-formal do ordenamento jurídico e o caráter científico do direito positivo sobre crenças de natureza moral e pessoal, critérios sobrenaturais, valores religiosos e as chamadas "verdades reveladas".


A discussão não é nova. Além das entidades de juízes espíritas, há muito tempo existem associações de juristas católicos que foram criadas com o objetivo de "contribuir para a presença da ética católica na ciência jurídica". Um dos integrantes dessas associações, o ministro Carlos Alberto Direito, do Supremo Tribunal Federal (STF), envolveu-se recentemente numa acirrada polêmica com colegas de Corte e com entidades médicas, ao pedir vista da Ação Direta de Inconstitucionalidade que contesta as pesquisas com células-tronco embrionárias. Com isso, apesar da tendência da Corte de rejeitar o recurso, ele sustou o julgamento no dia 4 de março, o que levou a ministra Ellen Gracie a criticá-lo publicamente. Embora o regimento do STF fixe em 30 dias o prazo para vista, até hoje Direito não devolveu os autos ao plenário.


Em vários Estados, advogados vêm apresentando aos Tribunais do Júri declarações psicografadas como estratégia de defesa. Nesse tipo de julgamento, como é sabido, os jurados não precisam fundamentar seus votos. Os juristas espíritas alegam que a psicografia pode ser levada em consideração desde que esteja em "harmonia" com as demais provas. Como não há garantia nem de autenticidade nem de cientificidade de documentos psicografados, muitos promotores pedem a sua impugnação sumária. "Escorar uma decisão com base numa prova psicografada não tem ressonância no mundo jurídico", diz Walter da Silva, presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe).


Com o objetivo de fechar brechas legais que desvirtuam julgamentos e abrem caminho para as mais absurdas decisões judiciais, a Câmara dos Deputados está discutindo um projeto que altera o Código de Processo Penal, proibindo expressamente o uso de cartas psicografadas por prova criminal. O projeto, que já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, não poderia ter sido apresentado em melhor hora. Além de preservar a segurança jurídica, ele é uma resposta objetiva àqueles que, sob a justificativa de "espiritualizar" o udiciário, confundem razão jurídica com crença religiosa.

Domingo, 25 de Maio de 2008 Versão Impressa



Carta ao Estadão


Sr. Editor,


O uso da psicografia nos tribunais surgiu, não como expressão de fé e religiosidade, mas como um novo paradigma de justiça e ciência. Aquilo que o editorial desse jornal chama de “ciência jurídica positiva” vêm sendo responsável , há séculos, por grosseiros erros judiciários, prejudicando principalmente as pessoas que não têm acesso ao direito amplo de defesa. É certo que essa modalidade de análise possa sofrer abusos maliciosos e até interpretações tendenciosas, incoerentes com a realidade, mas impedir sua manifestação legítima é equivalente a negar a possibilidade de novos conhecimentos. Provas ditas “científicas” também são carregadas de ideologia, sobretudo de natureza política e, portanto, suspeitas de faltar com na verdade. O uso de cartas psicografadas é assunto também preocupante para os espíritas, pois nem todos os médiuns são confiáveis, daí a necessidade de método e bom senso para distinguir o que é o meio e o que é a mensagem. As provas que foram historicamente aceitas nos tribunais desafiavam o paradigmas jurídicos conhecidos e colocavam em cheque as decisões de juízes e jurados, não por questões de fé ou religião, mas por evidências que não foram previstas nos processos. Tais casos não poderiam seguir a “lógica” positiva, pois esta certamente seria ridicularizada pelo senso comum.


Dalmo Duque dos Santos

sábado, 24 de maio de 2008

O fenômeno Boriska


Garoto russo lembra de reencarnações em Marte

Falando com propriedade sobre as características de Marte, Boris Kipriyanovich afirma ter encarnações passadas naquele planeta e enfatiza a Lei de Amor entre os homens na Terra neste período de transição.

A pluralidade dos mundos habitados é revelação básica, aceita, há 150 anos, pelos seguidores do Espiritismo. Faltam-nos, porém, até o momento, provas mais concretas da existência de vida extraplanetária. E isso não deixa de aguçar a nossa imaginação: como seriam esses outros seres? Que tipo de vida teriam?

Recentemente, um menino russo de apenas 12 anos, que dá entrevistas desde antes dos 7, tem aguçado ainda mais a nossa curiosidade, pois afirma ter tido suas últimas encarnações no planeta Marte. A história pode ter uma conotação fantasiosa, própria de crianças dessa idade, mas as entrevistas feitas com ele por cientistas russos impressionaram tanto que o assunto mereceu destaque no Pravda, um dos jornais de maior circulação da Rússia. Assuntos já conhecidos por todos os que estudam o Espiritismo são referidos, naturalmente, por ele, com riqueza de detalhes: reencarnação, necessidade de amor e perdão, transformação e regeneração planetária, entre outros.

A história de Boris, ou Boriska, como é conhecido, começou a evidenciar-se logo aos 3 anos de idade, quando já nomeava com exatidão os planetas do Sistema Solar e apontava sua localização, bem como falava das galáxias e do Universo em geral. Aos 7 anos, chamou a atenção de pesquisadores ao relatar dados físico-químicos de Marte, bem como a estrutura de naves espaciais, detalhes sobre as civilizações e expedições ao planeta Terra. Revelou ainda dados do grande continente da Lemúria, desaparecido há milhares de anos, tudo com um vocabulário altamente evoluído e técnico, não compatíveis com sua idade. Vale ressaltar que ele nunca ouvira falar de tais assuntos anteriormente. Tal riqueza de informações fez com que os cientistas afirmassem que as histórias contadas por Boriska não são frutos de sua imaginação, mas sim memórias de vidas passadas no planeta Marte, pois muitos dos detalhes transmitidos devem ser pessoalmente conhecidos.

Vida extraplanetária

Sua habilidade intelectual sempre foi superior à de outras crianças de sua idade, porém nada se compara às terminologias utilizadas por ele para falar sobre o cosmos. Boris relatou ainda como costumava viver em Marte, que o planeta era habitável e que sobreviveu a uma catástrofe que modificou a história do planeta e de seus habitantes: a destruição da atmosfera, fazendo com que a vida só continuasse possível em cidades subterrâneas. Nesse período, ele freqüentemente fazia viagens ao planeta Terra, onde realizava pesquisas científicas. Isso na época da antiga Lemúria, onde relata ter presenciado explosões de montanhas que causaram o afundamento do continente nas águas. Conta ainda que um lemuriano, amigo seu, faleceu diante de seus olhos sem que nada pudesse fazer. Ficou, porém, para ambos, a certeza de que se reencontrariam nesta vivência sobre a Terra. E isso é algo reconfortante. Boris ainda explica que nossas sondas espaciais são facilmente destruídas ao se aproximarem de Marte devido aos raios que emitem. Em 1988, esse fato foi alertado pelo russo Yuri Lushnichenko, que tentou avisar os líderes soviéticos do Programa Espacial Russo sobre as possíveis falhas das sondas Phobos 1 e Phobos 2, devido aos raios e às baterias radioativas que seriam estranhos à atmosfera de Marte. Mesmo com a falha das sondas, o governo soviético não deu atenção ao aviso. Essa tática de aproximação, no entanto, deverá ser reavaliada.

Transição

Os cientistas que entrevistaram Boris perguntaram o porquê do surgimento de tantas crianças com inteligência acima da média. O garoto respondeu que decorre das mudanças que acontecerão em breve no planeta, situando-as em 2009 e 2013. Com seus conhecimentos, essas crianças vão ajudar os povos espalhados por toda a Terra a passar pelo período de transição. Lembrou que essas modificações já ocorreram em Marte e não foi tudo destruído como pensamos. Muitas pessoas sobreviveram e recomeçaram suas vidas, apesar das mudanças nos continentes e também na composição da atmosfera. Esses ciclos periódicos de transformações bruscas, pelos quais passam os planetas, fazem parte de reajustes cármicos de seus habitantes e da renovação natural. São regidos, portanto, por forças universais que propiciam a evolução e o aprimoramento da essência das criaturas e da própria Criação Divina. Ressaltou ainda que, nos períodos de transição, é fundamental manter a esperança no futuro e a crença na sobrevivência da alma.

Vale a pena relembrar que os antigos maias já davam por certa a transição em 23/12/2012, data próxima à citada pelo garoto Boris. Devemos lembrar que as profecias maias não foram feitas por pessoas que gostam de catástrofes, mas sim por estudiosos da época que chegaram à conclusão que essa data seria o fim de um ciclo para o nosso planeta. Essa transição, ainda de acordo com as profecias, seria boa ou ruim, dependendo da própria humanidade. Para alguns (os sensíveis e intuitivos) seria ótimo, para outros (os racionais) um grande sofrimento. Não seria o fim do planeta, mas o início de uma Nova Era.

Lemúria, lei do amor e reencarnação

Quanto ao desaparecimento dos habitantes da Lemúria, Boris comentou que os lemurianos não estavam mais se desenvolvendo espiritualmente, haviam se desviado do caminho da luz, e isso acabou por destruir a integridade daquele continente.

Não sabe ainda qual a sua missão na Terra, porém, já descortina o futuro do planeta. O conhecimento será distribuído de acordo com a qualidade e o nível de consciência de cada indivíduo. No que se refere à reencarnação, afirma que se lembra com exatidão de sua vida em Marte, especialmente das guerras que por lá existiram.

Quanto ao período de transição, que ora vivemos, afirma que os novos conhecimentos não serão dados às pessoas mesquinhas ou viciosas como ladrões, alcoólatras e aqueles que não desejam se mudar para melhor. Esses terão que deixar o nosso planeta.

A informação terá um papel preponderante na evolução, porque é um tempo de união e cooperação que se inicia na Terra.

Para Boris, as pessoas sofrem ou são infelizes por não viverem corretamente. Elas precisam ser boas. E conclama: se alguém lhe bater, abrace quem o feriu. Se fazem você sentir-se envergonhado, não espere por desculpas, peça-as você. Se o insultam e humilham, ame-os do jeito que são. Essa é a relação do amor, da humildade e do perdão, que deve ser observada por todos. Amar uns aos outros, essa é a Lei, conclui o garoto que afirma vir de Marte.

O consolo é que existirão sempre médiuns e profetas confiáveis que continuarão a alertar os seres humanos quanto às probabilidades dos acontecimentos futuros. Com isso, nossas mentes vão se abrir para o fato de que a única forma de evitarmos as grandes catástrofes exteriores é eliminando as catástrofes interiores, calcadas em nossos próprios vícios e paixões.

Há na literatura espiritualista profecias e mensagens que apontam para os prováveis rumos que a humanidade tomará em futuro breve. Muitas delas coincidem com as revelações do menino Boriska. Não devemos, todavia, nos ater ao aspecto destrutivo da transição, como nos ensina o garoto, mas ao que ela traz de bom. Como o Espiritismo também enfatiza, devemos nos voltar ao objetivo primordial da existência: a reforma íntima. Através do esforço pessoal na melhoria interior, contribuiremos para a evolução de nossa própria alma e do mundo que habitamos, tendo por base o amor ao próximo.

FOLHA ESPÍRITA – Março de 2008

Veja o vídeo neste endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=y7Xcn436tyI

terça-feira, 13 de maio de 2008

Rachel Vive!

Numa época em que o materialismo vinha ganhando força incomparável e a própria idéia de imortalidade cristã caíra nas teias do mito, a sobrevivência o Espírito ganhou um precioso aliado: as materializações de seres inteligentes e que se identificavam como habitantes de além-túmulo. Através do trabalho heróico dos médiuns de efeitos físicos, essas sessões iam muito além dos limites do fenômeno para despertar mentes inquietas com o destino e consolar corações angustiados com a perda de entes queridos. No Brasil essas experiências tiveram o auxílio pioneiro da família Prado, de Belém do Pará, seguidos por Mirabelli, Antonio Alves Feitosa, Peixotinho e próprio Chico Xavier. Os efeitos psicológicos e sociais dessas materializações são inimagináveis e talvez só podem ser mensurados em seu significado espiritual através do olhar daqueles que estão nas outras dimensões da vida e sabem do valor de tais transformações. Que o diga Fred Fígner, o nosso querido apóstolo israelita e carioca de coração.

“Em uma das vezes em que veio a público, pela imprensa, o Sr. Fred Fígner, chefe da Casa Édison, do Rio de Janeiro, afirmou ter visto sua filha falecida há muitos meses, completamente materializada, por virtude da mediunidade da Sra. Eurípedes Prado, nesta Capital. Depois desta declaração, e, aliás, antes dela, começaram a circular na cidade diversas narrativas dos sensacionais acontecimentos. Resolvemo-nos, pois, obter do Sr. Fred Fígner, hospedado no Grande Hotel, uma entrevista, na qual pudéssemos informar aos nossos leitores, com absoluta segurança, o que de verdade havia naquelas narrativas. Dirigimo-nos, assim, àquele hotel, onde fomos recebidos cavalheirosamente pelo Sr. Fígner. Formulado nosso desejo, falou:

- “Deseja o senhor que lhe relate os fenômenos por mim presenciados e produzidos com a privilegiada mediunidade da Sra. Eurípedes Prado? Pois não, Sr. Redator, com muito prazer. Vou dar-lhe alguns pormenores que presenciamos, eu e minha família, em três sessões riquíssimas de fenômenos. Começarei por lhe dizer que aqui vim, não por curiosidade minha, visto que sabia ser a materialização um fato comprovado por Crookes, em primeiro lugar, em Londres, desde o ano de 1871, quando começou, então, a hoje célebre materialização de Katie King, servindo de médium a Sra. Florence Cook, e, seguidamente, experiências idênticas relatadas por tantas outras sumidades científicas. Vim com o fito único de minorar a tristeza e a dor que acabrunhavam minha esposa, por haver desencarnado uma filha nossa muito amada. Aqui chegando, tive a desilusão de não encontrar a família Prado. Recebido pelos meus confrades, prontificaram-se eles a telegrafar ao Sr. Prado, participando-lhe minha chegada com a família, e pediram, se fôsse possível, viesse até aqui. A despeito de adoentada sua esposa, resolveu ele aceder ao apelo, aqui chegando no "Pais de Carvalho", no dia 28 de Abril uma penosa viagem de 7 dias.

No dia 1º de Maio, fêz-se uma sessão preliminar, a que estiveram presentes, além da família Prado, a família Manoel Tavares, a família Bosio e o Dr. Mata Bacelar. Materializaram-se João e um Espírito a Evangelista. Havia bastante luz e distinguiam-se os Espíritos perfeitamente, como se fossem homens com vestes brancas que andassem de um lado para o outro. Demorou-se João bastante tempo conosco, de forma que bem o pudemos ver e sentir. Minha esposa, dirigindo-se a João, contou-lhe seu sofrimento, o que atento ele ouvia. Recebeu de minha senhora umas flores que ela levara, as quais João passou para a mão esquerda. Em seguida João estendeu a mão direita à minha senhora, fazendo ela o mesmo; João passou sua mão sobre a dela, fazendo-lhe sentir que estava perfeitamente materializado. Por fim, João, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou na câmara, começou a desmaterializar-se às nossas vistas, como o fizera quando se materializou. Daí a pouco, ouvimos umas pequenas pancadas que ele dava no rosto da médium para a despertar.

Esta primeira sessão me deixou completamente frio, visto que eu vira tão somente aquilo que esperava. Tudo aquilo era coisa muito natural para mim, quanto à sua realidade. Minha esposa, porém, apesar de também conhecer, de leitura, os fenômenos, ficou muito satisfeita, começando a nutrir esperanças de ver nossa filha, moça de 21 anos, desencarnada em 30 de Março de 1920.

A segunda sessão, realizada a 2 de Maio, foi, realmente, muito mais importante. Havia nessa ocasião pessoas que não conheciam os fenômenos, bem como a Doutrina Espírita, entre elas o Dr. Remígio Fernandez, o Sr. Barbosa e a Sra. Pernambuco. Materializaram-se muitos Espíritos de diversas estaturas, entre eles a nossa cara filha Rachel. Mas, devido talvez ao excessivo número de materializações, que absorveram muitos fluidos, e entre os Espíritos materializados um de nome Diana que, creio, se apresentou com um brilhante de diadema na cabeça, a materialização da nossa Rachel não era tão perfeita quanto esperávamos; no entanto,era bastante para ser reconhecida por todos nós. Nessa sessão, ela perguntou, à sua mãe, "porque aquele vestuário preto, visto que ela se sentia muito feliz".

No dia 4 de Maio fizemos outra sessão, e nesta a materialização de nossa filha foi a mais perfeita possível. Rachel apresentou-se com tanta perfeição, com tanta graça e tão ela mesma, com os mesmos gestos e modos, que não pudemos conter nossa emoção e todos, chorando, de joelhos, rendemos graças a Deus, por tamanha esmola. Era Rachel viva, pronta para ir a uma festa. A sua cabeça erguida, os seus braços redondos, o seu sorriso habitual, as suas bonitas mãos e até a posição destas, toda sua exatamente como era na Terra. Falou à mãe, pedindo-lhe exatamente que na próxima sessão viesse toda de branco como desejava e aí estava materializada. Rachel tocou todos nós com a sua mão; sentimos todos o seu calor natural e, à observação de minha esposa: “Rachelzinha, tu tinhas os cabelos tão bonitos, mostra-nos os teus cabelos”, ela entrou no gabinete e, voltando instantes depois, virou-se duas vezes, mostrando-nos seus cabelos compridos e ondulados. Aceitando as flores que lhe oferecemos, fêz sua mãe sentar-se em uma cadeira junto ao gabinete e de costas para este. Abraçou-a e beijou-a muito carinhosamente, depois lhe colocou uma rosa na blusa branca, que minha esposa vestira para ser agradável à filha, que na véspera não gostara de vê-la de preto. Na ocasião em que lhe colocou a rosa, falou-lhe de seus próprios lábios, dizendo-lhe: “Não quero que ande de preto, ouviu? Quero que venha toda de branco, assim como eu estou.” Toda essa frase minha filha a pronunciou tão clara e distintamente que todos, além de minha esposa, a ouvimos. Depois, sentando-me eu na mesma cadeira por ordem sua, acariciou-me como fizera à sua mãe, colocou uma angélica na lapela de meu paletó, apoiando-se com todo o peso de seu corpo sobre os meus ombros. Por fim, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete e desapareceu. Puxei o relógio, Rachel tinha estado aí 40 minutos. Depois saiu o João e cantou, muito satisfeito com a materialização de sua discípula.

A 6 de Maio fizemos a última sessão

O resultado foi o mesmo da anterior, com acréscimo de Rachel fazer diante de nós uma luva em parafina, de sua mão esquerda, consultando muitas vezes João, que se achava no gabinete, porém à nossa vista, durante todo o tempo em que ela trabalhava com a parafina. Logo ao se materializar, Rachel, saltando e batendo palmas, demonstrou sua satisfação por ver sua mãe toda de branco; e, ao despedir-se, pediu-lhe que levasse sua irmã Leontina às festas e ao Teatro, como fazia com ela. Rachel esteve conosco, nessa ocasião, durante duas horas.

Por fim, pedi a Rachel que me permitisse beijar-lhe a mão. O mesmo pedido foi feito por minha esposa e mais duas filhas aí presentes, além de umas 10 pessoas. Ela deu a mão a beijar à sua mãe e à menor das suas irmãs; e, aproximado-se de mim, num gesto rápido, todo seu, pegou minha mão com bastante força e beijou-a. E, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete. Não sentimos sua partida, pois estamos certos de que não será esta a última vez que a veremos. Rachel vive! Disto estava certo antes de aqui vir e continuo com a mesma certeza.

Tenho entretanto de confessar que estas duas horas e 40 minutos foram para todos nós o tempo mais feliz de nossa existência.

E permita-me que, por seu intermédio, uma vez mais agradeça ao Sr. e Sra. Prado o sacrifício que fizeram de vir aqui, e ao maestro Bosio e senhora as gentilezas de que nos cumularam, assim como a todos os confrades e amigos o acolhimento que nos fizeram. Agradeço também à “Folha do Norte” pela cessão de suas colunas.
Que Deus lhe pague!

Nogueira de Faria, O Trabalho dos Mortos (Livro de João) - FEB Editora
FRED FÍGNER

No Brasil o primeiro a se interessar comercialmente pelas máquinas falantes foi o imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner. Menino, emigrou para os Estados Unidos e lá, já adulto, ao tomar conhecimento da invenção, que ainda funcionava de forma primitiva com rolos de cera e deixava de ser curiosidade para se transformar em atividade comercial, comprou um fonógrafo, com alguns rolos de cera, e saiu a exibi-los pelas Américas. De volta àquele país resolve explorar um mercado virgem e parte rumo ao Brasil, onde entra por Belém do Pará no final de 1891. Percebendo o sucesso de suas apresentações, envereda pelo Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e dá com os costados no Rio de Janeiro, em abril de 1892. Instala-se na Rua do Ouvidor, 135, com sua “machina que falla”, como anunciavam os jornais, sem saber que iria interferir profundamente na cultura popular do país que escolhera ao acaso para ganhar dinheiro. Das sessões diárias para a apresentação da novidade até perceber a mina de ouro, Fred Figner – como se tornou conhecido – foi um passo. Importa e comercializa aparelhos e cilindros que vendem como água, pois eram encontrados com vários preços, acessíveis e sofisticados. Com a sua famosa Casa Edison era o dono absoluto do mercado.
Cifrantiga.blospot.com

FREDERICO FÍGNER (Irmão Jacob)

Frederico Fígner nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na casa humilde de n º 37 da rua Teynska, em Milevsko, perto de Tabor, Tcheco-Eslováquia, então Boêmia e parte do Império Austro-Húngaro. Israelita de nascimento, bebeu no lar paterno os preconceitos de sua raça contra o Carpinteiro de Nazaré. Filho de pais pobres, Fígner tinha que emigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim aprender um ofício. Aos dezesseis anos, deixa definitivamente a terra natal. No Brasil, estabeleceu-se, prosperou, conheceu uma jovem de peregrinas virtudes e alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre. Em 1897, Frederico Fígner e D. Esther fundavam, pelo matrimônio, seu lar feliz. Desse feliz enlace nasceram seis filhos.

Frederico Fígner não teve escola superior. Foi autodidata sem tempo nem calma para estudar, pois que em lutas econômicas desde a infância; no entanto, sua missão reclamava grandes conhecimentos e ele os revelou. Possuía e manejava com segurança línguas de três famílias: eslavas, germânicas e latinas. Adquiriu conhecimentos jornalísticos suficientes para colaborar num dos maiores diários do País. Demonstrou raras capacidades técnicas em sua indústria e no comércio, gravando ele em pessoa, discos fonográficos de músicas populares brasileiras e divulgando-as por todo o território nacional. Mais tarde, quando a indústria de gravação fonográfica progrediu, ele soube orientar o progresso. Já não executava o trabalho como simples técnico, mas montava oficinas modernas de gravação, as quais, em maior escala, operavam nessa obra de distribuir por todo o Brasil o patrimônio artístico, genuinamente brasileiro. Meio século de trabalho desse pioneiro fonográfico representa uma obra imensa de unificação nacional. A ação industrial de Frederico Fígner, no tempo em que não existia o rádio tem o valor de nobre apostolado patriótico. Como divulgador industrial das máquinas de escrever, do mesmo modo, contribuiu grandemente para o progresso material do Brasil. Essa posse de conhecimentos universitários, inexplicavelmente adquiridos, revela a elevação de seu espírito, demonstra que ele não era um simples habitante da Terra, mas, sim, um missionário descido ao Planeta para colaborar em sua transformação predita e anunciada para o nosso tempo.

Foi no Brasil e quando já negociante próspero, com seu estabelecimento comercial e industrial e uma sucursal em São Paulo, que Fígner foi chamado a conhecer a Verdade. Fígner travou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do saudoso doutrinador Antônio Luiz Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos lhe freqüentava a loja e palestrava sobre Espiritismo e Cristianismo, sem que Fígner se impressionasse muito pelo assunto; porém, numa de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Fígner ouviu a dolorosa história de um seus empregados, cuja esposa se achava gravemente enferma e necessitada de melindrosa intervenção cirúrgica. Ao regressar ao Rio de Janeiro, Fígner pediu a Pedro Sayão que lhe obtivesse receita para a cura da enferma de São Paulo. Veio a receita e a cura da doente, sem intervenção alguma dos médicos. Foi esse fato que impressionou Fígner a favor do Espiritismo. Já impressionado com a cura da doente mediante uma receita mediúnica, Fígner foi procurado em sua loja por um pobre pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de suas aflições, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito dias mais tarde. Ao sair o necessitado, pela primeira vez na vida, Fígner fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré: “Se é como dizem os cristãos que tu tens muito poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-lhe trabalho e meios de vida!” Oito dias mais tarde, voltava o homem com o sorriso dos felizes e lhe narrava: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Fígner. Fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego totalmente inesperado.” Fígner se entusiasmou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados sempre positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir à Maria e igualmente os resultados não se fizeram esperar. Encheu-se da fé que transporta montanhas e estudou com entusiasmo o Espiritismo e o Cristianismo. Passou a consagrar sua vida ao serviço dos outros. Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas em 1903 já se encontram vestígios das atividades espíritas de Fígner na Federação Espírita Brasileira.

Por ocasião da gripe espanhola, em 1918, com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias inteiros na Federação, atendendo a doentes e necessitados que lá iam, em avalanches , buscar recursos para situações aflitivas. Sua vida normal durante longos anos consistia em ir de manhã e à tarde à Federação tomar ditados de receitas de diversos médiuns, chegando a tomar de 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes. Levantava-se às cinco horas da manhã e, antes de ir à loja, ia à Federação, de onde só saía quando terminava esse serviço de tomar ditado de receitas. Às quatro horas da tarde lá estava de novo para orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois que seus “fregueses”, como ele lhes chamava na intimidade, cresciam sempre de número. Franco, leal, por vezes rude, repreendia frente a frente a qualquer companheiro que ele supunha ou fora informado haver cometido erro grave em detrimento da Doutrina. Mas se o caso se esclarecia e verificava ser injusta a recriminação, penitenciava-se com a mais comovedora humildade cristã. Contrariamente à primeira impressão que causava, era extremamente humilde e cordato. Presidia diversos grupos na sede da Federação e em seu lar. Foi Vice Presidente da Federação e depois membro do Conselho Fiscal, função que exerceu até à desencarnação. Era Tesoureiro da Comissão Pró Livro Espírita. Consumia vultosas rendas em obras de beneficência. Possuía sólidos conhecimentos da Doutrina e defendia com ardor as obras de Allan Kardec. O serviço de Fígner nas obras de assistência e no trabalho profissional afastava-o muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um afeto extremado entre pai e filhas.

Um exame atento na obra, nos conhecimentos, na ética, no caráter de Frederico Fígner nos leva à convicção de que ele foi missionário e cumpriu sua missão com perfeita segurança. Ainda nos últimos dias de sua vida, distribuía ele donativos por instituições e pessoas pobres de sua amizade, guiando-se pelo coração e nem sempre pelo cérebro, e só respeitando a fortuna das filhas. Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida. Completou oitenta anos em 2 de Dezembro de 1946, e em 19 de janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando abertos caminhos de luz sobre a Terra que pisara por tanto tempo. Fígner possuía todas as grandes virtudes cristãs que mais enobrecem as almas privilegiadas por alto grau de progresso e tinha o espírito prático do homem moderno que sabe reunir meios materiais para ajudar em grande escala a divulgação das idéias e os necessitados. Esse conjunto raro de capacidades espirituais, intelectuais, sociais e materiais fez dele realmente um espírita modelar, dentro da vida social, em pleno século vinte.
Zêus Wantuil, Grandes Espíritas do Brasil. FEB Editora


A família Prado e o Maestro Bósio

sábado, 3 de maio de 2008

Medicina e religião

Medicina da semelhança e Religião do amor ao próximo


Notícia do Estadão, de 3 de maio, informa que a homeopatia tem mais procura na rede pública e explica a evolução do setor através de dados estatísticos:

“A demanda pela homeopatia cresce no País a índices 20% maiores do que o aumento da população desde o início da década, segundo o governo federal. Em 2007, a homeopatia foi responsável por mais de 300 mil consultas do Sistema Único de Saúde, ou 10% das consultas de atenção básica. Ainda assim, apenas 110 dos mais de 5 mil municípios do País adotam a especialidade na rede pública”.


Nas páginas internas a matéria do antigo e conservador jornal paulista, do qual sou teimoso assinante, detalha esses dados e finalmente chega ao ponto nevrálgico, que é o antigo atrito ideológico entre medicina homeopata e alopata. Atritos entre médicos, já que, para os homeopatas, a medicina sempre foi uma coisa só e que sua desastrosa fragmentação foi produto da cultura industrial de massas. No finalzinho da matéria o jornal registra mais um tradicional e previsível discurso corporativo e irônico, agora do professor Celio Levyman, da disciplina de neurologia da Unifesp, também integrante do Movimento Medicina Responsável: “Acredite se quiser, é coisa de religião. Ela só resolve coisas simples e pelo efeito placebo”. Tal efeito é atribuído exclusivamente ao aspecto “psicológico”. Segundo ele, a homeopatia só se mantém no SUS por causa da “pressão” dos 15 mil médicos homeopatas. 300 mil consultas não significam nada ou seria porque elas podem aumentar? O movimento que ele integra diz, como já afirmavam os antigos e radicais perseguidores, que a homeopatia é baseada em dogmas, fazendo o também tradicional jogo de cegueira paradigmática, “razão versus emoção”, para chegar o ponto-chave “ciência versus religião”, que é o que mais se aproxima das questões éticas da profissão médica e da conduta humana.

Quando o professor Célio Levyman, cujo sobrenome revela claramente suas origens religiosas e rabínicas (sem nenhum preconceito racial, e sim profundo respeito pelas nossas raízes judaico- cristãs), ele está se referindo ao fato da homeopatia ter vínculos históricos com o Espiritismo, doutrina filosófica cujos experimentos científicos conseqüentes muito contribuíram para definir as diferenças conceituais entre cérebro e mente, entre matéria e anti-matéria. Provavelmente, desses 15 mil homeopatas, uma grande parte possui ligações ou laços de afinidade com as práticas magnéticas e medianímicas, ou seja, admitem a possibilidade de integração entre o universo material e o metafísico. A maioria desses médicos sabe que são médiuns e que são cotidianamente inspirados e instruídos por Espíritos de médicos e cientistas que vivem em outras dimensões. Não são diferentes dos outros , apenas são conscientes disso. Sobre os resultados, não vamos entrar no mérito, já que a interpretação dos fatos continua sendo uma questão de “crença”, mesmo para os descrentes. Mas é bom lembrar que, quando o Dr. Benoit Mure trabalhou no Brasil, sua principal preocupação não era ganhar dinheiro ou apenas ficar rico, mesmo porque sua fortuna era enorme e foi totalmente aplicada num empreendimento histórico que ele acreditava ser avançado e correto. Mure pretendia, como fizeram seus mestres Hanehmann e Guidi, demonstrar um novo paradigma médico, sem preconceitos sociais, religiosos ou corporativos. Sua preocupação era muito racional, como por exemplo, diminuir os altos índices de mortalidade entre os escravos trabalhadores nas fazendas de cana-de-açúcar. Queria também que o povo pobre e sofrido tivesse acesso a recursos baratos e independentes. Era uma medicina social, socialista, humanista e que, na boca dos reacionários, que inclusive o ameaçavam de morte e escândalos criminosos, soava como subversão perigosa, inimiga da boa religião católica e do bom nome das profissões de fé.

Certos estamos nós e errados estão os chineses, que há milênios conhecem os resultados e a eficiência desses conhecimentos. Certos estamos nós e errados estavam esses pioneiros, que eram menos preconceituosos e mais abertos às novas idéias e às novas possibilidades de melhorar o mundo em que vivemos. Certos estamos nós que combatemos a cegueira da religião criando outras religiões de interesse mesquinho, mais cegas e dogmáticas. Tudo porque curar pelas semelhanças significa enxergar o paciente como nosso semelhante, alguém que está bem mais próximo do que a gente imagina.